#PraCegoVer #PraTodosVerem Descrição da Imagem: Foto retangular, colorida, na qual destacam-se dois jovens sentados. Ele aparece de perfil, apoiando um dos cotovelos na mesa e mexendo em um notebook. Ao seu lado está uma garota de cabelos longos que olha para a tela do comutador e sorri. Na mesa há ainda alguns fios, dois controles, um microfone, um estojo e uma caixa de controle de áudio. O piso do lugar é de madeira, bem como um banco grande localizado ao fundo onde duas pessoas estão sentadas. Fim da descrição.
Por Carla Cruz Soares, Marcela Oliveira Fonseca, Rogério Wong de Oliveira*
Quem já tentou escutar o que um jovem tem a dizer? Escutar de verdade, exige respeito e compromisso, requer mais que ouvir. Para escutar, a pessoa tem que prestar atenção ao assunto, entender do que se trata, perceber o que foi dito, sentir as palavras.
Para escutar o que um jovem tem a dizer, em primeiro lugar, é necessário se descascar dos preconceitos e da postura do adulto que sempre tem algo a ensinar, e nunca a aprender. É necessário se desarmar em relação às imagens estigmatizadas que se faz das juventudes. Entender que as juventudes são múltiplas e que existem muitas potencialidades nessa diversidade. Para escutar o que um jovem tem a dizer, é necessário dar voz a quem representa seu lugar de fala.
Há alguns anos, percebemos a potência dos jovens terem voz na formação do próprio território, através da realização de projetos de comunicação popular. Começou quando três garotos procuraram o Sesc Bertioga propondo a parceria em um projeto de realização de eventos de hip hop. O que chamou a atenção da área técnica naquela época foi o engajamento daquele pequeno grupo, que em uma cidade tão pequena, representava vários movimentos sociais e tinha muita vontade de abrir espaços para que outros jovens também pudessem se expressar. O grupo era pequeno, mas eles eram grandes.
Daquela coragem de bater na porta do Sesc com um projetinho na mão, junto com a vontade de escutar de quem os recebeu, nasceram muitos projetos bonitos, entre eles o Papo Cabeça, Salve!, programa de entrevistas ao vivo realizado por e para jovens, que circulou em diversas escolas do município, espalhando pela cidade e pelos corações de quem ouvia, os questionamentos e sonhos das juventudes de Bertioga.
Com a criação da Reserva Natural Sesc Bertioga, que já nasceu de uma semente pautada pela participação popular, entendemos que não poderia ser diferente, era necessário convidar jovens para contar essa história. Nesse contexto, em 2015, nasceu a Rádio Reserva, criada durante o desenvolvimento do Plano de Manejo da Reserva Natural Sesc Bertioga, conectando os jovens com as equipes de pesquisadores responsáveis, com a intenção de produzir conteúdo de comunicação e refletir sobre o território, em especial as áreas naturais protegidas.
Com a inauguração da Reserva Natural Sesc Bertioga em 2016, o processo educomunicativo foi fortalecido e, até 2019, os jovens participaram dos encontros e oficinas midiáticas, estudo do meio, produção coletiva dos programas radiofônicos, fortalecimento da identidade de grupo, apropriação da técnica radiofônica e leitura crítica dos meios de comunicação, garantindo seu espaço de discussão e interpretação de mundo, dizendo o que sentem, como vivem e principalmente, o que pensam e como pretendem contribuir no território de Bertioga em São Paulo.
Firmando esse compromisso, a Educomunicação contribui na aprendizagem a partir do uso das mídias. Os jovens realizam conteúdos coletivos de rádio, permitindo-lhes apropriar-se de novas formas de expressão e a usá-las para debater ideias. Formando, assim, cidadãos capazes de atuar nas esferas da vida pública e política de modo a favorecer processos de transformação social¹
Em 2021, continuamos o aprofundamento prático do processo educomunicativo, pois a Rádio Reserva convidou jovens da cidade de Bertioga entre 13 e 21 anos para a produção de conteúdo para podcasts, por meio da experimentação de diferentes plataformas de comunicação digital. O curso será online, realizado gratuitamente entre os meses de julho e dezembro, sempre às quintas- feiras, das 15h às 17h. Desta vez, contamos com a parceria da equipe da Viração, organização que atua com comunicação, educação e mobilização social entre adolescentes, jovens e educadores.
Mas não é somente pelo uso de novas ferramentas que a Rádio Reserva continua seu processo educomunicativo. Por meio de uma proposta educativa, transversal e transdisciplinar, a iniciativa pretende provocar reflexões sobre geração de renda e acessibilidade, além da sustentabilidade, que já é premissa norteadora do projeto.
Um grande desafio para transformar este novo formato da Rádio Reserva foi pensar a acessibilidade não apenas nas reflexões e discussões, mas também pela garantia plena de condições de participação, com segurança e autonomia para todas as pessoas. O veículo do rádio é uma das mídias mais democráticas, pois se comunica com quem não sabe ler e/ou não pode enxergar e atinge todas as classes sociais. Com o recurso da legenda em todos os elementos de áudio e tradução em libras para os programas de podcast poderemos acessar um número maior de pessoas com os conteúdos socioambientais apresentados.
Com o mercado de trabalho em crise e as oportunidades para os jovens cada vez mais escassas, compreendemos também o impacto da Rádio Reserva no processo de formação desses jovens para a inclusão produtiva. Pretendemos sair da lógica comum que prevalece na cidade, na qual as oportunidades para os jovens que estão em fase de buscar formações para o mercado de trabalho focam, na maioria das vezes nas prestações de serviços, geralmente, são precarizados. Por meio da formação de um grupo de aprendizado, no qual os participantes serão os agentes da mudança e promotores de uma sociedade mais igualitária e sustentável, esperamos criar novos sonhos, caminhos e perspectivas, estimulando a criatividade e o protagonismo das juventudes, a partir de discussões sobre o território e o aprendizado qualificado de ferramentas de comunicação.
Para isso, realizaremos oficinas voltadas ao fortalecimento conceitual sobre educomunicação, técnicas para produção de podcasts e entrevistas, roteirização e preparo para gravações e, por fim, a transmissão ao vivo e gravação de podcast nas plataformas digitais do Sesc Bertioga.
Em agosto, as oficinas buscarão a reflexão sobre a democratização da produção de conteúdo, evidenciando a importância do aprendizado de técnicas para fomento de meios de produção e ocasionalmente de renda. Neste sentido, as oficinas, e em especial o podcast, surgem como possibilidade de intervenção colaborativa no território promovendo a cidadania ativa.
Para enriquecer o diálogo e inspirar mais ainda as pessoas participantes da Rádio, contaremos com a participação especial de Vinícius Camargo – Vina, profissional que nos contará um pouco da sua história de vida, sua relação com a cidade e sua experiência como produtor de conteúdo.
“Vinícius Camargo – Vina, aos 5 anos, decorrente de um acidente de bicicleta, tornou-se cadeirante. Nesse processo de adaptação e aprendizado, teve uma nova oportunidade de vida, buscando evolução, inserção social e independência.
Morador de Bertioga há 25 anos, atua desde 2011 como Mediador no programa “Nas Ondas do Rap” pela rádio comunitária Praia FM, do sistema Costa Norte de comunicação ,e participa ativamente no Coletivo Posse Ação Resistência, que há 15 anos atua na cidade com projetos ligados a cultura Hip Hop e ação cidadã”.
E se você escutou com o coração as palavras escritas desse texto, vai se lembrar que lá no comecinho, onde “tudo era só mato”, nós te contamos que três garotos corajosos nos procuraram com o projeto de hip hop. Pois o Vinícius era um dos três que nos inspirou e ensinou a escutar e dar a voz aos jovens na cidade.
Vina, seja bem-vindo à Rádio Reserva. Nós queremos te ouvir!
A entrevista com Vina, realizada pelos jovens da Rádio Reserva, irá ao ar dia 26/8/21, ao vivo, no YouTube do Sesc Bertioga dentro do projeto Territórios do Comum, ação em rede do Sesc São Paulo, voltada ao tema da cidadania.
* Carla Cruz Soares, Marcela Oliveira Fonseca, Rogério Wong de Oliveira integram a equipe de programação do Sesc Bertioga.
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Para ampliar possibilidades de trocas de conhecimentos e práticas entre as pessoas e coletivos envolvidos e interessados no tema, o Sesc São Paulo realiza de 1º a 15 de agosto o projeto Territórios do Comum, ação em rede voltada ao tema da cidadania em suas múltiplas dimensões e possibilidades de colaboração entre iniciativas sociais.
A programação está dividida em dois eixos: mobilização social, que aborda estratégias de desenvolvimento de ações comunitárias voltadas para o bem comum, para a geração de renda, acessibilidade a pessoas com deficiência e sustentabilidade; e tecnologias sociais, que buscam ampliar a inclusão social por meio da utilização de tecnologias digitais e ancestrais, para alcançar a melhoria das condições de vida levando em consideração aspectos sociais, ambientais e culturais do contexto local.
Para saber mais e acompanhar a programação completa, acesse: sescsp.org.br/territoriosdocomum
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¹ Educomunicação pode ser definida como as relações entre comunicação e educação, onde a utilização de recursos tecnológicos e técnicas de comunicação contribuem na aprendizagem através do uso de mídia. Educomunicação socioambiental: comunicação popular e educação. Brasília: MMA, 2008).
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