Resiliência em cena: as vozes do conflito colombiano 

06/09/2024

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Registro do Mural de La Memoria, intervenção da artista Leila Monségur no Sesc Interlagos realizada em parceria com o Consulado da Colômbia, que teve a participação de vítimas do conflito armado colombiano. Foto de Rejane Pereira.


Como instituição comprometida com o interesse público, o Sesc São Paulo participa ativamente dos debates que moldam nossa sociedade. As questões contemporâneas, com toda a sua complexidade, fazem parte de nossa programação diária. Por meio de parcerias internacionais, trazemos ao público produções e profissionais de diferentes países, ampliando o acesso a referências e pontos de vista diversos.

O Conflito Armado Colombiano, que começou na década de 1960 e durou mais de cinco décadas, envolveu intensos confrontos entre grupos guerrilheiros, paramilitares e forças do Estado. Uma profunda crise humanitária se formou e afetou milhões de pessoas, muitas forçadas a deixar suas casas e reconstruir suas vidas em outros países, inclusive no Brasil. O processo de paz e reparação visa enfrentar essas injustiças e apoiar as vítimas que carregam as cicatrizes desse período.  

Este é um dos temas que perpassam de forma sutil e poética o espetáculo colombiano Historia de una Oveja [História de uma Ovelha], que recebe apoio do Consulado Geral da Colômbia em São Paulo para sua participação na 7ª edição do Mirada – Festival Ibero-americano de Artes Cênicas. Como parte da parceria com o Consulado Geral da Colômbia, que investe na reparação das vítimas do conflito, o Sesc abre também este espaço no portal Sesc SP para alguns de seus relatos. Esta é uma forma de ampliar nosso conhecimento sobre sua história e reconhecer sua presença em solo brasileiro.

Leia os depoimentos abaixo

A Resiliência no Exílio: Um Testemunho de Mulher 
por Leonor Solano González 
O exílio não é apenas a mudança forçada de um lugar para outro; é um desenraizamento que afeta todas as dimensões da vida, desde o emocional até o econômico. Nesse contexto, a resiliência surge como uma força vital, uma capacidade inata de se adaptar e superar a adversidade. Esse fenômeno ganha uma intensidade particular nas mulheres, que historicamente têm sido o suporte emocional, psicológico e econômico de nossas famílias em situações de crise. 
Ao sermos despojadas de nossa terra natal, as mulheres enfrentamos uma dupla carga: por um lado, devemos lidar com a separação física de nosso ambiente, cultura e comunidade; por outro, é exigida de nós uma força inquebrantável para manter a família unida no novo local de residência. Nós, mulheres, nos tornamos pilares, sustentando a estrutura familiar enquanto enfrentamos nossos próprios lutos e medos. 
Nosso papel não se limita apenas ao cuidado emocional dos filhos, mas se estende à provisão econômica e à criação de um senso de pertencimento em um lugar onde tudo é estranho. Enfrentando desafios como discriminação, precariedade laboral e incerteza do futuro, encontramos dentro de nós mesmas uma fonte inesgotável de força. Apesar da incerteza, nos levantamos a cada dia, decididas a construir um lar em meio ao desarraigo. 
O peso do exílio não apenas deixa cicatrizes, mas também profundas lições sobre a capacidade humana de superar o insuperável. E é nesse ato de resistência silenciosa que as mulheres exiladas demonstram que a resiliência não é apenas resistência à dor, mas também a capacidade de encontrar novos caminhos, de reconstruir vidas em terrenos incertos. 
Assim, na interseção entre a dor e a esperança, a mulher se ergue como símbolo de resiliência. Não é apenas uma vítima do exílio, mas uma força ativa que molda, sustenta e reinventa a vida familiar em meio às adversidades. Nossa história é uma história de sobrevivência e renascimento; uma história que merece ser contada com a dignidade e o reconhecimento que nossa valentia demanda. 

Depoimento anônimo
Aos sete anos, minha vida mudou para sempre quando meu pai, que trabalhava como motorista de caminhão, foi assassinado. Lembro-me claramente daquela manhã em que, ao abrir a porta esperando vê-lo voltar, me deparei com a notícia devastadora de sua morte, dada pelo meu avô. Minha mãe, grávida e com quatro filhos para criar, enfrentou essa tragédia com uma força incrível. Apesar das dificuldades econômicas e da dor que nunca desapareceu, nos criou com amor e determinação, estabelecendo as bases para que todos nós pudéssemos superar as adversidades. Hoje, longe de meu país, encontro no cinema uma ferramenta poderosa para dar voz às nossas histórias, continuando com a resiliência que minha mãe nos transmitiu. 

Depoimento anônimo
Valentes são aqueles que seguem o caminho em busca da paz. 

Depoimento anônimo
Ser resiliente neste país ou em outro que não é o próprio significa levantar a voz por todos aqueles que não puderam fazê-lo; significa continuar com a esperança de um futuro melhor. 

Espetáculo Historia de una Oveja [História de uma ovelha], do Teatro Petra e Centro Nacional de las Artes Delia Zapata Olivella.

O Estado colombiano trabalha para o reconhecimento e aproximação com as vítimas do conflito armado, incluindo aquelas que se encontram no exterior, através do desenvolvimento de ações que promovam sua reparação.  
O Consulado Geral da Colômbia em São Paulo articula a oferta institucional da Unidade para as Vítimas para aquelas que estão dentro de sua jurisdição no Brasil. Além disso, periodicamente realiza atividades específicas que contribuem para sua reparação simbólica e dignificação.  
Nesta ocasião, o Consulado, com o apoio do Sesc, convidou as vítimas para a peça de teatro “História de uma ovelha”, que está sendo apresentada no âmbito do Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas. Esta peça destaca a resiliência dos migrantes que foram forçados a abandonar seus lares para aprender a habitar novos espaços. 
Dessa forma, o Consulado deseja homenagear a força de todas as pessoas que percorreram longos caminhos, com a esperança de recomeçar suas vidas em outros lugares e construir um futuro melhor.
 

Consulado Geral da Colômbia em São Paulo


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