Ruth Rocha e a arte de cultivar a imaginação

30/07/2024

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Aos 93 anos, escritora segue cativando gerações com obras que marcam a história da literatura infantojuvenil  

POR MARIA JÚLIA LLEDÓ
FOTOS ADRIANA VICHI 

Leia a edição de AGOSTO/24 da Revista E na íntegra

A infância é um território cultivado pela imaginação. Por isso, é no faz de conta que, há mais de meio século, a escritora paulistana Ruth Rocha semeia centenas de livros dedicados aos pequenos jardineiros. Num abrir de páginas, saltam Marcelo, Pedro, Gabriela, Catapimba e outros personagens prontos para viver aventuras. Inúmeros são os assuntos que servem de matéria para esses enredos: futebol, reciclagem, matemática, poesia, macacos, ciências, sonhos… A lista é grande! Isso porque a escritora, desde menina, queria ler todos os livros do mundo. Esse sonho atravessou o tempo, transformando Ruth Rocha em uma leitora voraz e escritora incansável — em 2024, renovou por mais 15 anos a parceria com a editora Salamandra. Há poucos anos, a visão de Ruth quis pregar-lhe uma peça, mas ela não se dobrou e segue lendo pela voz do neto Pedro ou da irmã mais velha, Rilda – “juntas, ela e eu lemos 60 livros por telefone”, comemora. “E com Pedro, estamos lendo os do Ítalo Calvino (1923-1985), estou gostando muito.” 

Aos 93 anos, a escritora tem mais de 200 títulos publicados, já foi traduzida para 25 idiomas, além de ter feito a tradução de uma centena de títulos infanto-juvenis. Ela também adaptou obras clássicas para jovens leitores, como Ilíada (2004) e Odisseia (2001), de Homero. Mas, antes de se dedicar profissionalmente à literatura, Ruth se formou em ciências políticas e sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e foi orientadora educacional do Colégio Rio Branco. Quis o destino que sua amiga Sonia Robato, quando diretora da revista Recreio, extinta publicação da editora Abril voltada ao público infantil, a convidasse para escrever um texto na década de 1970. Assim nasceu Romeu e Julieta, a primeira de uma série de narrativas publicadas na revista e que, posteriormente, ganharam as páginas de obras literárias.  

Seu primeiro livro, Palavras, muitas palavras, é de 1976, mas foi com Marcelo, Marmelo, Martelo, lançado no mesmo ano, que a autora teria um best-seller. Em sua carreira, recebeu diversos prêmios – Academia Brasileira de Letras, Associação Paulista dos Críticos de Arte, oito prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira de Letras – e a Comenda da Ordem do Mérito Cultural. Em entrevista à Revista E, uma das principais escritoras da literatura brasileira compartilha seu enredo particular: brincadeiras da infância, a “fome” pelos livros, os laços com a família e a ciranda do tempo.  

Em outras entrevistas, você disse que teve uma infância muito feliz junto aos pais e quatro irmãos, na Vila Mariana, e que sua casa era uma espécie de “reinado”. Como foi essa fase? 
Eu tive pais excepcionais. Meu pai era um homem sério, bom, era um homem trabalhador, honesto. Minha mãe era um doce de coco. Boazinha, amorosa. Ela não era mole não. Aliás, os dois eram disciplinados, sabe? Mas, eles eram bons e tratavam os filhos muito bem, com muito carinho. Eu morava na Vila Mariana, numa rua que não tinha calçamento. Era uma rua de terra, mas onde a gente podia brincar porque não passava carro, e quando passava, a gente parava surpreso: “Olha, um carro!”. Então, era uma rua perfeita para as crianças. A gente brincava de corredor, de pega-pega, de pular corda e amarelinha. A gente jogava bola, brincava de roda na rua. Eu tinha um tio que morava no quarteirão seguinte, então aquele pedaço da rua, um quarteirão até o meio do outro, era nosso. Tinha um primo que era mais velho, seus amigos, a minha irmã que era mais velha também, um pouquinho, tinha uns amigos da minha irmã e meus amigos. A gente vivia em bandos, correndo para cima e para baixo. Então, eu tive uma infância ótima, uma infância feliz com pais compreensivos. Minha casa sempre foi uma casa alegre, desde que eu era pequena, a gente ria muito. Eu tinha apenas uma irmã mais velha até eu ser mocinha, depois, tive mais três irmãos.  

Na sua casa, havia o costume de se contar muitas histórias? Como foi seu primeiro encontro com a literatura? 
Quando entrei na escola, logo aprendi a ler e eu gostava de ler. Mas, minha mãe contava muita história também. E ela leu Monteiro Lobato (1882-1948) enquanto nós não aprendemos a ler. Ela lia, lia… E quando saía para ir ao dentista, por exemplo, trazia um livro. Se ia fazer compras, trazia um livro. Eu também tinha um avô, o vovô Ioiô, que era o maior contador de histórias do mundo. Era ótimo, ele sabia todas as histórias e contava muito bem. Ele morava no Rio de Janeiro, mas vinha muito a São Paulo. Eu acredito que isso influenciou muitíssimo na escolha da minha profissão. Meu pai também contava muita história e histórias verdadeiras. Ele contava, por exemplo, que ele foi, não me lembro onde foi isso, mas ele morava no Rio, e ele foi ver o Santos Dumont (1873-1932) subir com o avião. Era um acontecimento. Isso foi mais ou menos em 1905. Mas, no dia, o avião não subiu. Ele contava muita história desse tipo e a gente se divertia.  

Hoje, você e Rilda leem muitos livros juntas, mas essa paixão pela literatura começou antes, quando ela a levou para conhecer a Biblioteca Circulante, projeto criado por Mário de Andrade, quando diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo. Como foi esse período? 
Eu tinha 13 anos e ela, que tinha 15, estava no ginásio, que seria hoje o Ensino Médio. O professor da Rilda recomendou que ela fosse à Biblioteca Circulante tirar os livros que ele mandava ler, e ela me levou. Eu ia para todo lado com ela. Cheguei lá, entrei no depósito – era enorme, cheio de livro –, olhei para aquilo e falei: “Gente! Eu tenho que ler todos”; “Eu tenho que andar depressa porque eu tenho que ler todos”. Comecei a ler bastante, um por um. Lembro que li um autor que estava na moda naquele tempo, chamado Paulo Setúbal (1893-1937). Li todos do Paulo Setúbal. Depois, li todos do [Saul] Steinberg (1913-1999), e quando faltava um, eu ficava danada, mas aí depois parei com isso. Fui ler outros e descobri que podia tirar dois livros: um de ficção e um que se chamava de “classificados” – de história, geografia, poesia, várias matérias. Então, comecei a ler poesia. Levava um de ficção e outro de poesia. Gostava de poesia, aliás, gosto até hoje. Nesse tempo, eu era bem conservadora, gostava de Olavo Bilac (1865-1918) e Castro Alves (1847-1871), que é meu primo em quinto grau, mas é meu primo (risos). Até hoje adoro sonetos e procuro sonetos mesmo nos autores modernos. Adoro um livro do meu genro, Fabrício Corsaletti, que ganhou o prêmio de melhor livro do ano, o Jabuti, em 2023. É um livro de sonetos louquíssimo e eu adoro esse livro: ele imaginou o Bob Dylan na Argentina [Engenheiro fantasma (2023)]. É muito bom. Então, eu tinha que ler aqueles livros todos. Eu lia, lia, lia, lia que não parava. Depois eu fiz o clássico, porque antigamente o colegial tinha científico e clássico, e li bastante literatura portuguesa, francesa e inglesa, embora ache que não li muito literatura inglesa naquele tempo, eu li depois. Li muita literatura estadunidense também, Ernest Hemingway (1899-1961), Scott Fitzgerald (1896-1940). 

E o que atrai sua atenção nesses livros? Como você escolhe sua leitura? 
Ah… é muito variado. O livro que eu mais gostei na minha vida é Cem anos de solidão [obra de 1967, do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez (1927-2014)]. Esse livro eu li quando era mocinha, gostei muito. Os anos se passaram e agora meu neto Pedro vem duas vezes por semana aqui em casa e lê para mim. Ele leu Cem anos de solidão e eu continuo gostando. Como é que eu poderia classificar? Outro livro que adorei e que Pedro leu para mim foi Dom Casmurro [obra de 1899, de Machado de Assis (1839-1908)], e os outros livros que ele tem lido para mim são do Ítalo Calvino. Dele já lemos, parece que, seis livros. Nós adoramos o Ítalo Calvino. Esse último foi O barão nas árvores (1991). É muito engraçado. Tem outros dele, também: O cavaleiro inexistente (1993) e O visconde partido ao meio (1996). São muito interessantes, eu gosto muito. Gosto de poesia e já falei um pouco de poesias mais clássicas, mas hoje, adoro Fernando Pessoa (1888-1935), Manuel Bandeira (1886-1968), Vinícius de Moraes (1913-1980), Cecília Meireles (1901-1964), entre outros. 

Com tanto gosto pela literatura, pela leitura, pelos livros, quem vê de fora pensaria: por que não fazer uma faculdade de letras? No entanto, sua escolha foi graduar-se em ciências sociais e políticas. Por quê? 
Por que que a gente faz as coisas, né? Eu não sei por que é que eu fiz. Comecei um cursinho para letras, mas briguei com o professor de latim que não gostava de mim. Minha irmã o adorava, tanto que ela entrou em segundo lugar na faculdade de letras da USP. E eu acabei desistindo e fui fazer sociologia. Achei bonito. Sei lá… pior que a sociologia não é a minha. Mas, eu ainda sou muito influenciada pela faculdade, porque, claro, fui aluna de Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), fui aluna do Alexandre Kafka (1917-2007), que foi diretor do Banco Mundial, fui aluna de Virgínia Bicudo (1910-2003), que era uma psicanalista muito famosa. Ou seja, fui aluna de gente muito boa. Fiz um curso que me marcou como pessoa que não tem preconceitos. Na minha família não tinha preconceito.  

Assim que você se formou, havia a possibilidade de trabalhar no campo da sociologia ou você migrou para outra área?  
Eu fui trabalhar em um colégio imediatamente, mas fui trabalhar na biblioteca. E como eu era muito amiga dos leitores, as crianças vinham em volta de mim e queriam saber: “Dona, me dá um livro de aventura?”. E eu dava. Aí eu fui convidada para ser orientadora educacional. Eu fiz uma pós-graduação em orientação e fui orientadora por dez anos no Colégio Rio Branco. Engraçado, porque eu peguei uma tese de uma psicóloga e pedagoga que era muito conhecida, Ana Maria Poppovic (1928-1983), e apliquei a tese dela no jardim de infância do colégio. Contava para meus amigos: “Eu fiz e deu certo, foi assim, foi assado”. Nessa mesma época, uma amiga minha foi fazer uma revista na editora Abril, a Recreio, e ela me chamou para fazer uns “brinquedos”, porque a revista tinha umas tirinhas com “brinquedos” e ela me chamou para fazê-los, pois eram educativos. Quando eu fiz isso, fiquei muito perto do pessoal da Recreio, minha amiga saía comigo e me ouvia contar histórias para minha filha. Eu contava histórias que ela pedia, e ela não queria a história do Patinho Feio. Ela queria a história do cinzeiro. E eu ficava inventando coisas. Lá pelas tantas inventei Romeu e Julieta, era sobre uma borboleta azul e uma borboleta amarela que não podiam brincar, porque eram de cores diferentes. A história toda é contra o preconceito. Foi minha primeira história. Aí, essa minha amiga me pediu para escrever e ela publicou. Depois, ela pediu outro e outro, outro… Eu fiz mais de 50. Saíram todas na Recreio

Palavras para mim são uma coisa
muito séria.
Eu gosto muito de palavras, eu gosto de
tudo que é brincadeira com palavras. 

Ruth Rocha, escritora

(foto: Adriana Vichi)

Seu primeiro livro é publicado logo depois desse período na revista Recreio
Meus livros, eu publiquei bem depois. O primeiro saiu em 1976, Palavras, muitas palavras. Como eu já tinha muitas histórias, publiquei 13 livros de uma vez. Fizeram muito sucesso, inclusive, também em 1976, Marcelo, Marmelo, Martelo fez um sucesso muito grande, mas não fez muito sucesso na banca. Foram vendidos cinco a dez mil na banca. Mas, logo depois, o clube do livro da Abril, que se chamava Círculo do Livro, publicou e vendeu 800 mil exemplares em seis meses. Então, esse foi o meu grande sucesso. E quando me perguntam assim: “As crianças mudaram muito?”. Eu digo: “Olha, eu não sei. Mas eu publiquei Marcelo, Marmelo, Martelo há 50 anos e esse é o livro que eu mais vendo até hoje”.  

Inclusive, Marcelo, Marmelo, Martelo se tornou um best-seller e foi adaptado para o audiovisual, exibido como série numa plataforma de streaming. Você gostou do resultado? É muito estranho para você ver o seu personagem pular do livro e de repente falar por conta própria?  
Gostei muito! Ficou muito engraçada, muito boa, e fez sucesso na América do Sul toda. Mas, infelizmente, a Paramount parou de fazer (séries) para criança. Então, desmanchou, porque as crianças também crescem, se não fizessem [uma segunda temporada] logo. Agora, eu sei que o pessoal que fez está querendo fazer o filme. Vamos ver. Acabei de publicar Marcelo, Marmelo, Martelo em Portugal e publiquei nos Estados Unidos, há pouco tempo. Eu já tinha publicado esse livro na Argentina, mas por lá não fez sucesso. Engraçado, né?  

Sobre seu processo criativo, como você escolhe as palavras que vão pousar nas suas histórias? A escritora Nélida Piñon (1934-2022) já disse à Revista E que as palavras passavam a galope. E com você?  
Palavras para mim são uma coisa muito séria. Eu gosto muito de palavras, eu gosto de tudo que é brincadeira com palavras. Faço no meu tablet uma que chama Termo. Você tem que adivinhar uma palavra de cinco letras sem saber nenhuma letra. Tem lá um método e faço todo dia. Também faço uma outra que é Palavras soltas, em que você tem que achar um nexo de quatro em quatro. Por exemplo, hoje saiu uma que só acertei porque eu pedi uma dica, eram marcas de chocolate. Palavra cruzada, então, eu gosto muito. Agora palavras favoritas, eu não tenho. Eu sei as feias (risos): não gosto de fronha – é feia, né? Mas eu não sei como é meu processo de escrita. As palavras não vêm na minha cabeça feito um cavalo (risos). Eu tenho vontade de escrever aquilo e fico com três, quatro ideias correndo na cabeça. Eu não tenho um processo. Eu me sento, já tenho uma ideia? Escrevo. 

Além dos seus próprios livros, você tem uma centena de traduções e, também, adaptações, como Ilíada (2004) e Odisseia (2000). Como foi adaptar essas duas obras clássicas para os jovens leitores? 
A Odisseia foi premiada pela Academia Brasileira de Letras em 2001: eu ganhei pelo texto e meu marido [Eduardo Rocha (1956-2012)] ganhou por ilustração. Eu gosto muito de fazer adaptação. Olha, vou falar uma coisa: eu só faço o que eu acho fácil. Quando eu começo a achar muito difícil, começo a desistir. Porque é trabalhoso, é uma coisa a que você se dedica, não é como andar de bicicleta, que é bom. Eu gosto muito de fazer. Fiz, por exemplo, uma adaptação de O barba azul (2010), que até não vende muito porque é uma história terrível. Então, minha filha, que trabalha comigo, falou que ia vendê-la para uma editora de livros de terror. Achei ótimo porque fiz um texto que eu acho ótimo, mas é de pavor.  

Sua mais recente obra, O grande livro dos macacos, lançado em 2023, reúne um extenso material de pesquisa que você já tinha na gaveta. O que lhe fascina para escrever uma história como essa? 
Eu escrevo sobre o que eu gosto, sobre o que eu quero e o que eu tenho vontade de falar. Não fico muito à vontade para escrever sobre morte de mãe, morte de pai. Não faço. Agora eu tenho várias histórias de macaco e, às tantas, resolvi fazer um livro de macacos. Tinha provérbios, brincadeiras, versinhos… uma porção de coisas. Juntei tudo isso e fiz um livro. Quando vi, não gostei e falei: “Ai, que livro chato”. Aí, encostei. Me esqueci dele. Na pandemia, comecei a dar uma olhada nos arquivos, coisas antigas que eu tinha, e tive essa ideia de falar sobre a evolução. Eu acho que conto uma história, algo difícil da área da ciência, mas que eu conto e fica fácil de entender. Tenho uma sobrinha que é doutora em biologia e ela falou que eu consegui tornar fácil o assunto. 

Neste ano, o tema da censura permeou a literatura brasileira, a exemplo do escritor Jeferson Tenório, cuja obra O avesso da pele (2020) chegou a ser retirada de escolas do Centro-Oeste e Sul do país. Durante a ditadura no Brasil, você escreveu livros que apontavam para o autoritarismo, como O reizinho mandão (1973), e que, felizmente, não foram censurados. Como foi esse período? 
Ninguém percebeu. E naquela ocasião, eu tenho um amigo que era um grande escritor de jovens, o João Carlos Marinho (1935-2019), que fez um livro e uma professora do ensino público o levou à classe e ele foi detido. Ele e ela foram detidos, interrogados, mas ela perdeu o emprego dela, que era concursada. Hoje, andaram tentando mexer nos meus livros, não deixei e consegui. Teve gente que queria que eu tirasse o Saci da história porque ele fumava cachimbo. Eu falei: “Quem sou eu para modificar o folclore?”. Entre outras coisas. A Ana Maria Machado botou um banho demorado na história. “Não pode banho demorado, porque gasta água”.  

No livro O menino que quase virou um cachorro (Global, 2021), você provoca uma reflexão sobre a relação entre adultos e crianças e a disputa de atenção com as telas (celular, tablet, tv etc.). Você acha que hoje as crianças são mais ouvidas pelos adultos? E qual o papel dos pais na formação desses jovens leitores? 
Quando escrevi esse livro, comecei a achar que eu exagerei. Tem pais assim? Eu acho que os adultos têm que ouvir mais as crianças. Contar histórias, conversar, cantar, para entender, para dominar as palavras. Por que que a pessoa que lê muito sabe muitas palavras? Porque ela entra em contato com diferentes palavras, então a criança tem que ter esse contato para aprender a ler. Você tem que conversar com a criança desde pequenininha. Cantar para ela, falar versinhos e contar histórias. Responder as perguntas, perguntar as coisas para a criança. Então, quando ela lê, ela entende e gosta do que está lendo. Isso é uma coisa que eu acho importantíssima. A criança tem que ter livros, sejam comprados, sejam de biblioteca, sejam trocados com os amigos. 

Aos 93 anos, como é sua relação com o tempo?
Não estou de mal com ele, não. Estou de bem com o tempo, afinal, me trouxe até aqui, né? Tenho uma velhice muito feliz. Tive pais muito bons, tenho uma filha que eu me dou muito bem, dois netos que eu adoro. Fui muito bem-casada e muito feliz no casamento. Depois que eu perdi meu marido, perdeu um pouco a graça. Mas, sou uma pessoa feliz e tenho o suficiente. Não sou rica, mas tenho conforto, saúde, não tenho doença grave. Nós cinco [irmãos], nenhum tem doença grave. Somos todos saudáveis e somos muito amigos até hoje. Eu tenho 93 anos, minha irmã mais velha, Rilda, tem 95, meus irmãos mais novos são: um irmão de 79 anos, uma moça de 80 (risos) e um irmão de 84. Tenho dez sobrinhos que eu adoro, um deles é da turma que trouxe a Madonna para o Brasil. Foi ele, também, que me levou para ver o Paul McCartney [em 2023, na capital paulista]. Eu tenho outro sobrinho que acabou de inaugurar uma sorveteria em Paris e uma sobrinha doutora em biologia, que é famosa porque se dedica a perturbar gente que caça bichos para vender. Eu tenho muitos parentes interessantes, uma família ótima.    

Você tem que conversar com a criança desde pequenininha.
Cantar para ela, falar versinhos e contar histórias. 

Ruth Rocha, escritora

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