Sob direção de Hiroshi Koike, peça é livremente inspirada na obra literária ‘A Guerra do Fim do Mundo’, do escritor peruano Mario Vargas Llosa
Diante do avanço das IAs (inteligências artificiais) e do surgimento de guerras em todo o mundo, faz-se necessário questionar: o que é o ser humano e para onde a humanidade está caminhando? Partindo de questões tão contemporâneas, o espetáculo inédito Saudade na Miragem, com direção e dramaturgia do japonês Hiroshi Koike, realiza sua temporada no Sesc Vila Mariana, de 30 de novembro a 15 de dezembro, com apresentações de quarta a sábado, às 21h; e aos domingos, às 18h. Haverá sessões acessíveis com LIBRAS e audiodescrição em 11 e 14 de dezembro (quarta e sábado). Os ingressos do espetáculo já estão disponíveis nas bilheterias e na Central de Relacionamento digital.
Em meio a uma realidade global marcada por crises e divisões, “Saudade na Miragem” propõe uma visão de futuro que busca as “possibilidades de viver”. A peça questiona a relação entre religião, espiritualidade, conflito, e a ambivalência da justiça, propondo uma visão do futuro inspirada pelo livro A Guerra do Fim do Mundo (1981) um épico moderno no qual o escritor Mario Vargas Llosa reconta a Guerra de Canudos – um dos conflitos mais dramáticos da história brasileira.
A narrativa é composta por personagens complexos que representam a diversidade e os conflitos da experiência humana. Através de uma linguagem teatral que mistura elementos de diversas tradições artísticas, o espetáculo explora a tensão entre caos e harmonia, questionando o que significa viver em um mundo tão fragmentado.
A peça tem direção de Hiroshi Koike, diretor, dramaturgo, coreógrafo e diretor de cinema, nascido em Hitachi, província de Ibaraki, no nordeste do Japão. Koike é diretor da Hiroshi Koike Bridge Project, e faz parte do projeto Firebird, que faz residência no CPT – Centro de Pesquisa Teatral, iniciativa que busca refletir sobre o futuro do mundo a partir de diferentes culturas.
Danilo Dal Farra, Eduardo Okamoto, Fernando Lufer, Jéssica Barbosa, João Guisande, Júlio Lorosh, Paulo Sokobauno e Yana Piva compõem o elenco de artistas do Brasil, enquanto Jinya Imai e Ichiya Nishikawa são artistas japoneses que integram o time.
A partir da longeva parceria entre o Sesc SP e a Fundação Japão São Paulo, o espetáculo conta com colaboração de artistas brasileiros e japoneses, dando início às celebrações do “Ano do Intercâmbio da Amizade Brasil-Japão”. Em 2025, a relação diplomática entre os países completa 130 anos.
Projeto Firebird
O espetáculo faz parte do projeto Firebird, iniciativa lançada em 2022 que traz reflexões sobre o futuro a partir de diferentes culturas, propondo assim a criação e colaboração entre artistas e músicos de diferentes origens da Ásia, Europa e América do Sul.
“O objetivo do projeto é sugerir a coexistência e celebrar as diferenças. Ser capaz de imaginar a coexistência é mais importante do que nunca, neste momento que o mundo está mudando rapidamente e enfrenta uma crise que afeta todo o planeta Terra. Firebird é um projeto para imaginar o renascimento humano diante do caos, da guerra e da destruição”, explica Koike.
A cada ano, o projeto cria uma nova performance dirigida por Koike em um desses lugares. O primeiro trabalho surgiu na Polônia, em 2022, e trouxe à cena uma versão do romance “Kosmos”, de Witold Gombrowicz. Em 2023, a segunda etapa se inspirou no clássico grego, a “Odisséia”, de Homero, com artistas na Malásia. Agora temos a estreia no Brasil e a última montagem será no Japão, em 2025.
A montagem no Brasil é o terceiro trabalho do projeto e discute o tema “Destruição e Nascimento – Como poderemos seguir como seres humanos?”. Aqui, a iniciativa conta com o apoio da Fundação Japão, produção da Périplo e realização da Hiroshi Koike – Bridge Project e do Sesc em São Paulo.
O diretor Hiroshi Koike conta que escolheu o Brasil para a coprodução porque já havia trabalhado com artistas brasileiros na década de 2000 e, a partir dessa experiência, sentiu uma profunda afeição pela cultura brasileira e pela coexistência no país entre pessoas de diferentes etnias e grupos.
“O Brasil é realmente o país mais avançado do mundo no processo de se tornar multicultural e multiétnico. O Japão está próximo do exato oposto. A sociedade brasileira define a diversidade em pessoas, cultura e filosofia. O que vemos no país pode ser uma pista para a direção da humanidade à medida que nos tornamos mais diversificados e globalizados. Eu queria criar com artistas brasileiros na terra e na cultura onde artistas como Glauber Rocha, Cartola e Sebastião Salgado viveram. Fui fortemente influenciado e inspirado por sua ousadia”, relata o diretor.
O caminho leva a uma compilação de todos esses trabalhos para criar uma nova obra, que será apresentada em Kyoto e Tóquio, no Japão, em 2025.
Revisitando Canudos
Saudade na Miragem é inspirado na Guerra de Canudos, conflito armado que ocorreu no interior da Bahia, entre 1896 e 1897. Na ocasião, o exército brasileiro, pressionado por latifundiários da região, dizimou milhares de pessoas lideradas pelo peregrino Antônio Conselheiro, que buscava uma salvação milagrosa para a grave crise econômica, social e hídrica enfrentada pela população.
O espetáculo se passa no futuro, de onde falam pessoas mortas, o que permite um trânsito de tempos e uma combinação de realidades que inclui passado e presente, sem a necessidade de situar geograficamente ou de muita especificidade. Nesse sentido, a Guerra de Canudos, ou o livro de Mario Vargas Llosa, A guerra do fim do mundo, interessam mais pela narrativa épica, que é um tema perseguido por Hiroshi em todos os espetáculos do projeto Firebird.
O espetáculo não se propõe a resgatar fidedignamente o episódio histórico, mas lança um olhar para esse evento como um espelho das lutas contemporâneas, interligando questões como a memória coletiva, a dor e a regeneração. A ideia é reimaginar de forma criativa a obra e os personagens de Mario Vargas Llosa em “A Guerra do Fim do Mundo”.
Sobre a escolha dessa história, o diretor Hiroshi Koike comenta: “Para os brasileiros, a Guerra de Canudos é um evento que representa um profundo desconforto, como um osso atravessado na garganta. Da mesma forma, a Guerra do Pacífico, o terremoto de Tohoku em 2011 e o acidente na usina nuclear de Fukushima devem ser sempre questionados pelos japoneses. Por que tudo isso aconteceu? Nesse sentido, Canudos não é um problema distante, mas uma possibilidade que pode ocorrer em qualquer lugar do mundo”.
A narrativa é composta por personagens complexos que representam a diversidade e os conflitos da experiência humana. Através de uma linguagem teatral que mistura elementos de diversas tradições artísticas, o espetáculo explora a tensão entre caos e harmonia, questionando o que significa viver em um mundo tão fragmentado.
A obra convida o público a embarcar em uma jornada de autoconhecimento e entendimento, enfatizando a importância do diálogo e do respeito entre diferentes culturas. Ao final, a peça não só revisita o passado, mas também aponta para um caminho de esperança e regeneração em tempos difíceis.
O encenador ainda revela que a proposta do espetáculo é “refletir sobre novas formas de futuro, inspirando-se tanto nos eventos reais quanto na ficção, enquanto se expressa a grandeza de um universo em que humanos que nunca se misturam começam a se entrelaçar. Essa visão do mundo pode ser entendida como a percepção do lugar onde reside a possibilidade que emerge do amor infinito. E ao confrontar esse amor infinito e a força que dele decorre, o ser humano pode sucumbir à loucura, e a justiça, de fato, pode desaparecer completamente”.
“Confrontos, conflitos, guerras, enquanto as pessoas têm o potencial para o diálogo, o respeito e a harmonia. Por meio do ato de criar com artistas que normalmente não estariam juntos no palco, o projeto visa demonstrar a possibilidade de um mundo harmonioso”, acrescenta.
Ficha Técnica
Idealização: Hiroshi Koike Bridge Project – Odyssey
Concepção, Roteiro e Direção Geral: Hiroshi Koike
Elenco: Danilo Dal Farra, Eduardo Okamoto, Fernando Lufer, Jéssica Barbosa, João Guisande, Julio Lorosh, Jinya Imai, Ichiya Nishikawa, Paulo Sokobauno e Yana Piva
Composição e Execução Musical: Gregory Slivar
Arte/Cenografia: Renato Bolelli Rebouças
Figurino: Juliana Bertolini
Vídeos/Projeções: Ivan Soares
Iluminação: Gabriele Souza
Desenho de Som: Alê Martins
Caracterização: Amanda Mantovani
Assistência de Direção: Marie Kuroda, Maria Lívia Goes
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção Executiva: Laís Machado
Coordenação de Produção: Adolfo Barreto
Direção de Produção: Marie Kuroda e Pedro de Freitas
Produção Geral: SAI Inc. e Périplo
Apoio Institucional: Fundação Japão em São Paulo
Subsídio: Departamento para Assuntos Culturais, Governo do Japão, Conselho de Artes do Japão
Financiamento: The Japan World Exposition 1970 Commemorative Fund – KANSAI OSAKA 21st Century Association
Realização: Sesc SP, SAI Inc. e NPO Bridge for the Arts and Education
De 30/11 a 15/12
Quarta a Sábado, às 21h – Domingo, às 18h
Teatro Antunes Filho – Sesc Vila Mariana
Classificação: 12 anos
Sessões acessíveis: Apresentações com LIBRAS e audiodescrição nos dias 11 e 14 de dezembro, quarta e sábado.Ingressos: R$ 21 (credencial plena); R$ 35 (estudante, servidor de escola pública, idosos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$ 70 (inteira). Disponíveis no aplicativo Credencial Sesc SP e nas bilheterias da rede Sesc SP.
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