Por Inês Amazilis Choueri e Vera Aparecida Santos*
A saúde mental tem que ver com alguns elementos importantes, como o equilíbrio nas relações – familiares, sociais e profissionais -, acesso a serviços de saúde, educação, lazer, habitação, proteção contra a violência e conforto material, como abrigo, alimentação, trabalho remunerado e transporte.
Dentre esses elementos, a saúde nas relações pode ser considerada uma das mais relevantes para nós, homens e mulheres. Muitas vezes as relações familiares e íntimas (companheiro ou companheira) pesam muito na saúde mental e não percebemos.
Todos nós buscamos a paz no lar, relações boas que nos acolham e nos ajudem também a crescer e desenvolver nossos potenciais, mas algumas vezes as questões da vida cotidiana balançam o equilíbrio da casa.
Seja o trabalho – ou a falta dele; as questões de saúde; as relações com parentes, filhos e outras pessoas do nosso convívio; ou o comportamento de um companheiro ou companheira que está trazendo sofrimento e a gente não sabe muito bem como agir.
Às vezes, você pode estar passando por dificuldades no relacionamento que trazem muito sofrimento, sentimentos de menos-valia, sentimentos de humilhação e não consegue nem entender o que foi que você fez. E fica com a impressão de que a culpa é sua, mesmo assim.
Nesse caso você pode estar num relacionamento abusivo, mas pode sair desse sofrimento.
Como saber se estou num relacionamento abusivo?
– Você tem a sensação de aprisionamento;
– Você fica pisando em ovos quando o companheiro está por perto;
– Você nunca sabe se ele vai responder positivamente ou negativamente a uma iniciativa sua. A vida é um carrossel de emoções, no pior sentido;
– Você se afastou de familiares e amigos;
– Você deixou interesses pessoais para dedicar-se ao companheiro;
– Quando algo dá errado, você já sabe que vai levar a culpa;
– Você é constantemente vigiada;
– Ele pede para você fotografar onde está para provar o que está fazendo;
– Ele questiona quem telefonou e quer provas;
– Você é vigiada quando está ao telefone e não pode colocar senha no seu aparelho;
– Você mudou seu jeito de vestir, seu cabelo, e só usa maquiagem se ele deixar. Tudo para agradá-lo;
– Você toma todos os cuidados para que NADA saia do controle;
– Quando está na hora dele chegar, você começa a ficar ansiosa e angustiada. Você nunca sabe com qual humor ele vai chegar;
– Aconteça o que acontecer, a culpa é sua;
– Se você o confronta porque a culpa é dele de algum acontecimento, seja uma briga, ou alguma coisa que não deu certo, ele vai dar um jeito de jogar a culpa em você de novo, mesmo que seja culpa dele;
– Se você sofre qualquer tipo de agressão, sente-se a responsável pelo que aconteceu;
– Quando confrontado em situação grave, ele até pode reconhecer que exagerou – como uma violência física, por exemplo, mas ele jamais é o culpado realmente. Ele coloca a culpa na família dele – no pai ou na mãe, ou diz que está nervoso com as contas. Tudo, menos responsabilizar-se de verdade;
– Suas decisões são ridicularizadas. Sua roupa, seus modos;
– Ele faz questão de dizer o quanto você é incapaz. Ele desvaloriza seu papel de mulher e de mãe;
– Sua profissão é diminuída. Suas qualidades são ignoradas ou diminuídas;
– Você é ridicularizada em frente a sua família, à família dele e amigos. Ele faz piadas que te humilham. E comentários que te diminuem;
– Você está o tempo todo tentando agradar e fazer o certo;
– Você sente que entrou em uma armadilha psicológica e emocional. E você não pede ajuda, porque acredita que ninguém vai te ouvir ou acreditar em você;
– Se a briga foi feia, ele vem e pede desculpas, diz que nunca mais vai fazer isso e que precisa de você ao lado dele para poder se corrigir;
– Nesse caso, você tem um período pequeno de paz no lar. Ele parece o homem que você conheceu. Mas, em poucos dias, a violência retorna.
Ciclo de violência
Se você está reconhecendo esse comportamento, você vive com um agressor e precisa de ajuda para sair desse ciclo de violência. Busque ajuda!
– Não fique sozinha. Retome o contato com amigas e familiares. Conte o que está acontecendo. Se não for possível, peça ajuda a serviços especializados;
– Você sofreu agressão física ou sexual? O caminho é procurar a Polícia e os Serviços de Saúde;
– Você pode solicitar uma medida protetiva;
– Não espere pela próxima vez!
Você também deve pedir ajuda mesmo que não tenha sofrido agressão física ou sexual. Os abusos psicológicos e emocionais trazem muito sofrimento e podem destruir sua autoestima, deixando marcas pelo resto da vida!
Empoderamento Feminino
Sentir-se empoderada, antes de mais nada, é saber quem é você, o que deseja e sentir-se capaz de construir sua própria caminhada, seja sozinha ou acompanhada com quem você escolher. É ser capaz de fazer escolhas livres e com autonomia. É fazer escolhas e ter coragem de assumi-las para si mesma. E para os outros, se necessário. É não ter que dar explicações para os seus desejos. Sentir-se bem com tudo e até sem nada. Mas saber que é capaz de conquistar tudo de novo. É chorar sempre que o coração doer. É pedir ajuda, e receber. É ajudar até quando seu coração está dolorido, porque você tem força para você e para o outro. É saber que nenhum sacrifício é uma obrigação moral, mas uma escolha que pode ser feita sem que se transforme numa armadilha emocional. É ser respeitada pelo que se é, sem precisar provar para ninguém que merece respeito, amor e acolhimento.
Sentir-se empoderada é poder levantar e ir embora a qualquer momento, e ter sua vontade respeitada.
Essa caminhada é mais fácil quando você não está sozinha! Busque ajuda, aceite ajuda. Procure o serviço de apoio psicológico mais próximo – ou via internet! Entre em contato com Rodas de Conversa de Mulheres que sofreram abuso. É um lugar de acolhimento e apoio. Retome seus sonhos e projetos – Isso vai fazer você sentir que está no controle da sua vida novamente!
Práticas Integrativas de Saúde
As práticas integrativas de saúde buscam unir conhecimentos que vão desde terapias psicológicas, práticas de saúde com medicinas alternativas e complementares (Florais, Fitoterapia, Acupuntura, Auriculoterapia, Cromoterapia, Chás e massagens), até exercícios físicos e práticas meditativas, visando o equilíbrio entre mente, corpo e espírito.
As práticas integrativas são reconhecidas pelo Ministério da Saúde e fazem parte das PICS (Práticas Integrativas e Complementares de Saúde). Já são utilizadas em diversos equipamentos públicos de Saúde, como as UBS, Amas (em SP) e Postos de Saúde. Você pode verificar se há algum perto de você.
Neste momento que estamos vivendo, você pode buscar essas práticas via internet. Muitos terapeutas fizeram adaptações para atendimento à distância.
Uma consulta com a psicóloga ou com uma terapeuta floral pode te ajudar, mesmo que seja via whatsapp ou outro meio de comunicação.
Meditação – um caminho de volta ao equilíbrio
Você também pode iniciar em casa exercícios meditativos que vão auxiliar no seu equilíbrio emocional e psicológico, ajudando na sua cura emocional. A meditação já é utilizada em muitos serviços médicos e é pesquisada em universidades e centros de pesquisa do mundo inteiro.
Há muitos tipos de meditação e cada pessoa encontra a sua própria maneira de meditar. Há pessoas que fazem caminhada e aproveitam para soltar os pensamentos. Há pessoas que fazem jardinagem – aproveitam pra cuidar das plantinhas. Outras cozinham. Há quem goste de colocar uma música calma e faz uma prática de exercícios físicos relaxantes, como Ioga ou Tai-Chi-Chuan. Não importa como, a meditação traz benefícios para todas as pessoas.
Para saber mais sobre o tema, assista ao bate-papo “Saúde mental e violência de gênero: práticas para o empoderamento feminino” com Inês Amazilis Choueri e Vera Aparecida Santos, realizado durante o Inspira 2021:
Rede Guarulhense de Não Violência à Mulher
Projeto criado em 2002, com atuação articulada entre as instituições, serviços não-governamentais e a comunidade, visando a ampliação e melhoria na qualidade do atendimento às mulheres em situação de violência. Atualmente, a Rede é composta por diversos setores públicos e segmentos da sociedade civil. Acesse aqui.
NAV (Núcleo de Atendimento à Violência)
Serviço especializado no acolhimento e atendimento psicossocial e psicoterapêutico às pessoas vítimas de violência sexual. Atendimento de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h, em três endereços:
– Rua Tapiramuta, nº 237, Vila Nova Bonsucesso;
– CTA (Centro de Testagem e Acolhimento): Rua Piracicaba, nº 114, Gopoúva;
– UBS Cummins: Rua Plácido Ivo de Mello, nº 68, Cidade Jardim Cumbica.
Casa da Rosas, Margaridas e Beths
Serviço da Prefeitura Municipal de Guarulhos, que atende mulheres vítimas de violência doméstica. Atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Rua Paulo Jose Bazani, 47 – Macedo.
ASBRAD (Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude)
Oferece assistência judiciária gratuita para vítimas de violência. Atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Rua Vera, 60. Jardim Santa Mena/Picanço. Telefone: 2408-6448.
Delegacias de polícia do município
Abertas 24hs. Atendimento à mulher para Boletim de Ocorrência. Caso precise fazer exame sexológico, a delegacia disponibiliza transporte gratuito da prefeitura Guarulhos para atendimento à vítima.
Delegacia de Defesa da Mulher de Guarulhos (DDM)
Atende casos de violência doméstica, inclusive com boletim de ocorrência. Atendimento de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Rua Itaverava, 48, Vila Camargos. Telefone: 2459-1019.
Defensoria Pública de Guarulhos
Atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h
Oferece orientação jurídica gratuita através do telefone: 0800 773 4340
Defensoria Pública do Estado de São Paulo
Atendimentos via internet e-mail: nucleo.mulheres@defensoria.sp.def.br
MPSP – Promotoria da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher
Atendimento de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h. Rua Sete de Setembro, 138, salas: 102, 104, 106. Centro. Telefones: 4568-7698 / 4568-7652
Ambulatório Especializado na Saúde Transexuais
Oferece acompanhamento médico às pessoas com idade igual ou maior de 18 anos para região de Guarulhos e Alto Tietê. Atendimento de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h. Rua Piracicaba, 114. Telefones: 2421-0649 / 24313052 ou pelo e-mail: ameprotrans@gmail.com
Posto Avançado de atendimento Humanizado ao Migrante
Oferece atendimento a pessoas deportadas, não-admitidos, possíveis vítimas de tráfico humano. Atendimento 24h. Local: Aeroporto de Cumbica – terminal 1 – Asa A- Mezanino. Telefone (55) 11-2445-4719.
Casa da Mulher Brasileira
Rua Viêira Ravasco, 26 – Cambuci, São Paulo (SP). Atendimento em Libras, na Central de Intermediação, para atender mulheres surdas. Contato: (11) 3275-8000
Disk 180 – Central de atendimento à Mulher do Governo Federal.
Disk 181 – Disk-denúncia da Polícia Militar. Para casos de Violências
Disk 190 – Polícia Militar. Para Crimes com risco imediato à vida.
PLP´s – Promotoras Legais Populares (Brasil e América Latina)
O projeto Promotoras Legais Populares é desenvolvido há mais de 20 anos no Brasil. É um curso gratuito, organizado e oferecido de forma voluntária. As PLP’s são referência para as mulheres em sua região de atuação no acolhimento e orientação a mulheres em situação de violência.
Conheça a página no Facebook das PLP´s – Pimentas
Grupo MADA-Brasil
O Grupo MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) é uma irmandade de mulheres baseada no livro Mulheres que Amam Demais (de Robin Norwood) e adaptada do programa de recuperação de 12 Passos e 12 Tradições de Alcoólicos Anônimos (A.A.)
Instituto Maria da Penha
Missão: Enfrentar, por meio de mecanismos de conscientização e empoderamento, a violência doméstica e familiar contra a mulher. Esse Instituto tem um dos mais completos sites para informar sobre a Lei Maria da Penha, Direitos das Mulheres, enfrentamento à violência, relacionamentos abusivos etc. Vale muito a pena conhecer.
*Inês Amazilis Choueri é psicóloga, terapeuta integrativa e terapeuta floral. É promotora legal popular em Guarulhos e militante pelos direitos das mulheres.
*Vera Aparecida dos Santos é assistente aocial. Especialista em Prevenção à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes. Pós-graduada em Políticas Públicas para América Latina e Saúde da Família. Funcionária pública da Prefeitura de Guarulhos. Ativista Social das PLPs (Promotoras Legais), Grupo Marielle Franco e ativista da Educafro.
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