Seleção exclusiva leva ao streaming produções de realizadores negros e negras que marcaram época no audiovisual brasileiro

20/01/2022

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Filmes de Joel Zito Araújo, Lilian Solá Santiago e Jeferson De integram a programação gratuita da OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros disponível na plataforma Sesc Digital 

Com uma programação exclusiva na plataforma Sesc Digital, a OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros exibe gratuitamente para todo o Brasil uma seleção de obras de três realizadores que representam, no audiovisual brasileiro, importantes perspectivas negras em suas histórias e narrativas.  

Um deles é o cineasta, professor, escritor e pesquisador Joel Zito Araújo que tem três de seus filmes exibidos na plataforma: “A Negação do Brasil”, “Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado” e “Vista Minha Pele”.  

O livro A Negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira foi a inspiração para o documentário que leva o mesmo nome, onde o diretor e roteirista investiga as lutas de atores negros por reconhecimento nas produções que representam a maior audiência no horário nobre da televisão brasileira. O filme discute tabus, preconceitos e estereótipos raciais, analisando também a influência das telenovelas no processo identitário de pessoas afro-brasileiras. 

No filme “Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado”, o cineasta vai do nordeste brasileiro a Berlim buscando entender os imaginários sexuais, raciais e de poder das “jovens cinderelas do sul” e dos “lobos do norte”, acompanhando uma complexa realidade: cerca de 900 mil pessoas são traficadas pelas fronteiras internacionais a cada ano, exclusivamente para fins de exploração sexual. Entretanto, apesar de todos os perigos, jovens mulheres brasileiras ao entrar no mundo do turismo sexual acreditam que vão mudar de vida e sonham com o seu príncipe encantado.  

Já no curta-metragem “Vista Minha Pele”, Joel Zito Araújo inverte a história da colonização de territórios: no filme, os negros são a classe dominante e os brancos é que foram escravizados.  A trama conta a história de Maria, uma menina branca pobre que estuda num colégio particular graças à bolsa de estudos que tem pelo fato de sua mãe ser faxineira. A maioria de seus colegas a hostilizam por sua cor e por sua condição social, com exceção de Luana, uma menina negra, com quem ela desenvolve uma amizade que será fundamental para a realização de um grande sonho.  

Decolonização do olhar 

O tema da decolonização do olhar está presente nos filmes da cineasta, produtora e professora Lilian Solá Santiago, que aborda a questão a partir de produções fortes e contundentes. O documentário “Balé de Pé no Chão – A Dança Afro de Mercedes Baptista” acompanha a trajetória de Mercedes Baptista (1921-2014), considerada a principal precursora da dança afro-brasileira. Bailarina de formação erudita, no início da década de 1950, Mercedes passou a estudar os movimentos rituais do candomblé e das danças folclóricas, criando coreografias que permanecem até hoje identificadas como repertório gestual da dança afro. 

Imagens do documentário "Balé de Pé no Chão", de Lilian Solá Santiago.
Cena do documentário “Balé de Pé no Chão – A Dança Afro de Mercedes Baptista”, de Lilian Solá Santiago.

Já no média-metragem “Família Alcântara” vemos um encontro íntimo com uma família extensa, que forma um grupo de aproximadamente 70 pessoas cujas origens remetem à bacia do Rio Congo, no continente africano. O filme explora a cultura única criada pela população de africanos de origem Bantu escravizados no Brasil, grupo que, através de gerações, seguiu preservando a sua história, mantida por séculos de tradição oral, práticas e costumes tradicionais oriundos da África.  

Também dirigido por Lilian Solá Santiago, o filme “Eu Tenho a Palavra” faz uma viagem linguística em busca das origens africanas na cultura brasileira. O antigo reino do Congo foi a origem da maioria dos africanos escravizados no Brasil que, no cativeiro, criaram diversos dialetos para que pudessem se comunicar livremente. A “língua do negro da Costa” é um desses dialetos, ainda preservado no bairro da Tabatinga, no município de Bom Despacho (MG). No filme, dois personagens – um falante da “língua do negro da Costa” e outro falante de mbundo, língua do grupo Banto falada até hoje na Angola – nos guiam nessa viagem transoceânica de reconhecimento. 

Cinema Negro Brasileiro 

O cineasta Jeferson De, autor do Dogma Feijoada, manifesto publicado nos anos 2000 com o intuito de investigar o que se entendia até então como cinema negro brasileiro – um questionamento que até hoje perpassa a história do audiovisual no país – terá dois filmes exibidos na plataforma Sesc Digital durante a OJU: o curta-metragem “Narciso Rap” e o longa “Bróder!”.  

Em “Narciso Rap”, um jovem é colocado a descobrir os valores profundos de sua identidade a partir de uma brincadeira com uma lâmpada mágica. Enquanto o longa “Bróder!” acompanha o reencontro de três amigos de infância que seguiram caminhos distintos ao crescer: Jaiminho é um jogador de futebol que alcançou a fama, Pibe é um pai de família que precisa trabalhar muito para pagar as contas da casa, e Macu é envolvido com o mundo do crime no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, onde eles cresceram.  

Por fim, completa a programação digital da mostra o média-metragem “Zumbi Somos Nós – O Documentário”, realizado pela Frente 3 de Fevereiro, grupo transdisciplinar de pesquisa e ação direta acerca do racismo na sociedade brasileira.  

Reprodução de cena do média-metragem "Zumbi Somos Nós - O Documentário", que destaca bandeira com as palavras BRASIL NEGRO SALVE.
Cena do média-metragem “Zumbi Somos Nós – O Documentário”, realizado pela Frente 3 de Fevereiro.

O filme é ambientado no dia 14 de julho de 2005, final da Taça Libertadores da América disputada pelos times do São Paulo e do Atlético Paranaense, que ficou marcada por um episódio icônico: no meio da partida, assistida por milhões de espectadores em suas casas, uma bandeira gigante é aberta pela torcida com a frase “BRASIL NEGRO SALVE”. 

A partir desta intervenção, a produção aborda a construção e destruição das questões raciais no Brasil, e a possibilidade de inscrever na vida cotidiana novas formas de olhar, pensar e agir. 

OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros 

De 19 de janeiro a 9 de fevereiro, o Sesc São Paulo realiza a OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros, oferecendo ao público uma seleção de filmes realizados por cineastas negras e negros. Com sessões presenciais no CineSesc e exibições on-line na plataforma Sesc Digital, a mostra se dedica a promover a diversidade de criadoras e criadores brasileiros e destacar a importância histórica do audiovisual em sua potência poética e política, e sua contribuição para a decolonização do olhar. 

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PARA ASSISTIR 

Acesse os filmes da OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros na plataforma Sesc Digital em www.sescsp.org.br/oju  

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