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Meu primeiro contato próximo com a produção teatral latino-americana foi na Mostra Sesc Latinidades, onde, como parte da equipe, foi possível trazer nomes como Teatro de Los Andes, Yuyachkani, o uruguaio El Galpón e Daniel Veronese, já reconhecidos mundialmente, mas pouco conhecidos pelo público geral. Lá nos idos 2003, com uma internet precária, nosso conhecimento da produção teatral dos países “irmãos” era muito pequeno, bem menor que o das artes visuais, música, literatura e dança. Das mulheres no teatro, surgiram nomes como Griselda Gambaro e Sara Rojo, muito mais como pensadoras, do que efetivamente criadoras.
Vale dizer que a presença feminina em papéis de criação era pouco reconhecível aqui, seja brasileira ou dos demais países latino-americanos. Na universidade dos anos 1990, cursando bacharelado em cênicas, com exceção de poucas europeias, quase nada ouvi das mulheres criadoras brasileiras, isso vindo de muitos que estiveram na efervescência dos anos 1960 e 1970, quando a nossa presença era considerável. Destaques femininos no âmbito nacional estavam nos papéis de grandes atrizes (que aliás foram bem mais que isso – as Cacildas, Bibis, Dulcinas, Nydias, Ruths, Fernandas).
Consuelo de Castro, Leilah Assumpção e Renata Pallottini eram nomes citados rapidamente, sem grandes destaques (com exceção da última, desconfio que mais pela ligação com a academia, do que pela importante contribuição à dramaturgia brasileira). E, sim, preciso dar crédito a meus professores, a nossa Maria Clara Machado estava presente nas lembranças, mas em uma caixinha do teatro que, infelizmente, ainda não é valorizada como deveria. Falar da produção teatral feminina latino-americana, então, estava muito, muito distante.
Mas, a realidade é que sempre estivemos aqui, e ali do lado também, em algumas décadas com maior presença, em outras, em funções “menos nobres”; muitas vezes em quartas ou quintas linhas de fichas técnicas, porém tantas vezes corresponsáveis pelo sucesso de “grandes” diretores, concebendo cenários, luzes, coreografias e construções de cena – perspectivas e profundidades. Também fomentadoras, educadoras e empreendedoras teatrais; envolvidas em manifestações político-sociais ligadas à arte ou transcendentes a esta. Muito além de dar vida, corpo, ou fornecer nosso olhar único para personagens sobre tablados.
Nosso olhar único, muito mais amplo, para o qual hoje conquistamos visibilidade aos poucos – e às duras penas – nas escritas e criações das Anas, Aves, Ayshas, Carlas, Carolinas, Claudias, Cibeles, Cristianes, Danielas, Diones, Graces, Georgettes, Janaínas, Julianas, Lucélias, Lucias, Luhs, Marias, Martinhas, Michelles, Narunas, Priscilas, Robertas, Silvinhas; e também Chelas, Cristinas, Gabrielas, Glorias, Isidoras, Julietas, Lilianas, Lolas, Luisas, Marianas, Marisóis, Patricias, Paulas, Reginas, Rominas, Teresas, Vivis, Violetas; entre tantas outras.
Um olhar que é cheio de camadas, como nós mesmas somos, multifacetadas. É o olhar que reflete como nunca e explode a partir de anos de silenciamento, violência e abusos, menores ou maiores, perceptíveis ou não, mas sempre abusos. As artes cênicas sempre foram um campo onde, mais ou menos, tivemos espaço para transitar. Porém mais ou menos não é nem nunca foi suficiente. Porque nós sempre estivemos aqui. E, cada vez mais, acreditamos, seguimos e estaremos.
Cynthia Petnys é bacharel em artes cênicas pela Universidade de São Paulo (USP) e atua como técnica de programação no Sesc Santos.
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