Rizoma (Foto: Lufe Gomes)
Beân Victório Oliveira Gomes*
É certo que já passamos pelo Design – ele está em todo lugar – mas pode ser que não o tenhamos percebido. É que ele é pensado na maior parte das vezes para ser sutil na percepção das pessoas. Há algum tempo, o design passou a ser pensado para ser funcional e ao mesmo tempo atrair as pessoas; às vezes só o percebemos quando usamos, quando passamos por algo que nos afeta de uma forma negativa, ou quando o design é tão inovador que é impossível de não se reparar ou atribuir afetividade a ele.
Pois bem, se você estiver em um espaço construído, olhe para ele agora. Ele não possuiu diversas formas, desde a mobília até os pequenos objetos que o compõe? Ele possui uma característica que pode ser chamada de única?
O design como conhecemos veio no desenrolar da primeira Revolução Industrial, quando tinha-se a necessidade de produzir mais em menos tempo. Por trás dele existe o intuito de atender a uma certa necessidade, realizar um desejo ou deixar as pessoas mais felizes. Ele se desenvolveu também junto ao capitalismo, a um processo da moda e à necessidade de consumo, e se entrelaçou tanto aos nossos dias que o design das coisas à nossa volta acabou se tornando símbolos. É como se nossa imagem fosse de alguma forma projetada nos objetos que consumimos e, o mais interessante, é que todos os objetos que usamos em algum momento foi pensado para ser inovador.
Antes do design industrial, existiram diferentes modos de produção através da prática artesanal, como a cerâmica e a técnica “molde e assopra” na produção de vidro. Nestes tipos de confecções (que ainda são praticados), as peças não saem idênticas, cada uma possui proporções que as diferenciam uma das outras. É como se elas tivessem vida, se afastando da imagem do objeto. Artesãos colocavam e ainda colocam uma parte de si nas peças que confeccionam, de uma forma diferente as peças e objetos produzidos hoje pela indústria também carregam uma parte das pessoas envolvidas na produção, mesmo que esta produção muitas vezes seja pensada para aumentar algumas das desigualdades sociais, nós ainda consumimos objetos e eles significam algo para a gente.
Com tantos anos de objetos sendo criados e recriados na tentativa de serem inovadores (e acabaram criando infinidades destes que compõem a história do mundo moderno) será que conseguimos contar nossa história através dos objetos?
Quando a pandemia nos alcançou estávamos com a exposição ‘Entre Bits, Átomos e Afetos’ no Sesc Sorocaba, do designer e arquiteto Guto Requena, que discutia o design de objetos criados para casa, mostrando a empatia e memória afetiva em seu processo de construção, a fim de trazer uma reflexão para as pessoas que entrassem em contato com eles. O Cobogó Rizoma é uma das obras que, segundo Guto Requena, Bruno Baietto e Vitor Curti, traz a seguinte reflexão:
Inspirada pelo Rhizoma, um tipo de caule que cresce de forma uniforme e horizontal sem raízes ou hierarquias para sobreviver, a coleção com o mesmo nome traz desse conceito tanto visualmente quanto em sua poética, onde todos os processos do designer ao artesão, do analógico ao digital e do artesanal ao industrial, têm a mesma importância, sem hierarquia. A coleção Rizoma juntou-se à precisão artesanal da produção Manuffatti e à pesquisa do Estúdio
Guto Requena sobre formas paramétricas. As duas peças foram projetadas para se combinarem em uma união uniforme em todos os seus lados, a fim de gerar várias opções ao girá-las ou trocá-las. Usado em diferentes posições e proporções, permitindo personalização e combinações diferenciadas. A coleção Rizoma traz também o experimento no processo artesanal de pintura como forma a obter tons únicos em cada peça.
Por trás da forma poética de como o rizoma cresce, existe a funcionalidade do Cobogó. Este importante elemento da arquitetura foi inspirado na arquitetura árabe, porém foi criado no Brasil (mais especificamente em Pernambuco, Recife, nordeste do país). Estes são usados no Brasil para construir paredes através de blocos vazados, trazendo para dentro dos diversos tipos de construções mais ventilação e luz solar.
Após sabermos um pouco sobre design e descobrirmos como o Cobogó Rizoma possui sua poética e sua funcionalidade, gostaríamos que você pensasse nos objetos que tem contato nessa quarentena. Qual a história, poética ou afetividade que você pode ter criado com eles? Como pode ser que eles estejam ajudando você a seguir um pouco melhor nesses dias, em que estamos sem interação física com outras pessoas, passamos a ter mais interação física com estes objetos?
Que tal se conectar mais uma vez com seu objeto e, se sentir vontade, compartilhar uma foto dele em seu Instagram? Marque o @sescsorocaba e em poucas palavras descreva a importância que ele tem nesse período de isolamento social.
Agradecemos sua visita. Até a próxima!
* Beân Victório Oliveira Gomes é mediador da exposição “Entre bits, átomos e afetos”
Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.