O Sesc Pompeia acaba de ser eleito uma das 25 obras arquitetônicas mais importantes do pós-guerra pelo jornal The New York Times. O reconhecimento foi publicado na lista #T25Buildings, veiculada na Revista T, do NYTimes.
O júri foi composto pelos arquitetos Toshiko Mori, Annabelle Selldorf e Vincent VanDuysen; o designer Tom Dixon; o artista e cenógrafo Es Devlin; o crítico e colaborador do The NYTimes Style Magazine Nikil Saval; e Tom Delavan, diretor de design e interiores da T.
Em sua justificativa, a publicação apresenta o edifício a partir de uma perspectiva histórica e valoriza o contexto no qual a arquiteta Lina Bo Bardi, responsável pela obra, e sua equipe trabalharam na requalificação da antiga fábrica de tambores nos anos 1970 e 1980. Na época, ressalta, que a ressignificação de espaços industriais ainda não era parte do mainstream arquitetônico, mas Lina já viu na linha do telhado serrilhada da fábrica e na escala industrial uma estrutura histórica não menos valiosa do que os edifícios danificados em sua Itália natal, após a Segunda Guerra Mundial.
“Eu queria representar Bo Bardi”, disse Nikil Saval. “Pensei que poderia ter escolhido a Casa de Vidro ou o Museu de Arte de São Paulo, mas acho que o Sesc Pompeia é um prédio realmente alegre: existe essa combinação de exuberância e monumentalidade.”
Para Annabelle Selldorf, a escolha também mostra coragem. “Festejar Bo Bardi como uma voz importante no seu tempo, por ser italiana, ter ido ao Brasil e realmente demarcar um vocabulário que é seu, contribui para o que aquele edifício representa hoje. Há um compromisso com a justiça social e a equidade que ressoam”, destaca.
Ainda na lista, estão edifícios icônicos como o Convento Sainte-Marie de La Tourette, projetado pelo arquiteto Le Corbusier na França, a Ópera de Sydney, de Jorn Utzon na Austrália, e a Casa Luis Barragán, por Luis Barragán no México.
Curiosidades sobre o conjunto arquitetônico da Unidade
Patrimônio cultural protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2015, o conjunto arquitetônico do Sesc Pompeia foi construído no terreno de uma antiga fábrica de tambores.
A restauração da antiga fábrica, realizada entre os anos de 1977 e 1982, teve seus princípios e critérios básicos fundamentados na Carta de Veneza, uma concepção dinâmica que deixa patente a história viva do edifício e visíveis diversas técnicas que foram empregadas ao longo do tempo.
Quando a arquiteta Lina Bo Bardi e sua equipe se debruçaram sobre o espaço para readequá-lo e transformá-lo em uma nova unidade do Sesc, um dos conceitos que os impulsionaram foi o de convivência.
A rua que dava acesso aos caminhões da velha fábrica foi transformada em um espaço exclusivo para os pedestres acessarem os muitos ambientes do centro de lazer, como a Comedoria, que abriga o palco para shows, e também mesas coletivas, inspiradas nas antigas tabernas e choperias europeias, e que servem como estímulo aos encontros ocasionais.
Do outro lado da rua, a Área de Convivência é um convite ao descanso. “Colocamos apenas algumas coisinhas: um pouco de água, uma lareira. Quanto menos cacareco, melhor. Nosso esforço foi dignificar a posição humana”, explicou Lina. O local abriga exposições, a Biblioteca, o Espaço de Leitura e o Espaço de Brincar, voltado para crianças de até seis anos.
O Teatro foi instalado no galpão mais alto do conjunto. Porém, por se tratar de um espaço pequeno, Lina decidiu adotar duas plateias, como uma arena. A cadeirinha de madeira que serve de assento é uma tentativa, nas palavras da arquiteta, de devolver ao teatro seu atributo de “distanciar e envolver”, e não apenas sentar-se.
O galpão das oficinas foi feito com blocos de concreto, para marcar a diferença entre a arquitetura original da fábrica de tijolos de barro e as intervenções atuais. Além de remeter ao que os arquitetos chamam de “verdade dos materiais”, ou seja, mostrar fielmente os materiais utilizados e o processo de sua construção.
A velha fábrica é ligada ao Bloco Esportivo por meio de um deck, que em dias de sol vira praia para os paulistanos. As janelas do enorme prédio de concreto, que se tornou marca registrada da unidade, possuem formatos irregulares, que remetem às cavernas pré-históricas e possibilitam diferentes visões da paisagem da cidade, além de produzir ventilação.
Os detalhes tornam os ambientes ainda mais especiais: os caquinhos de cerâmica coloridos do chão dos banheiros foram inspirados na tradição popular brasileira. Os canos da construção têm cores variadas, que indicam a função de cada tubo. Os azulejos da cozinha e da piscina foram desenhados pelo artista carioca Rubens Gerchman com desenhos de inspiração brasileira, como a folha de bananeira. Tudo pensado para, nas palavras de Lina, criar uma atmosfera humana.
Outras indicações
Em 2016, jornal britânico “The Guardian” colocou o complexo de prédios do Sesc Pompeia em sexto lugar na lista das 10 melhores construções e estruturas em concreto do mundo. Ficando na frente do Pavilhão Nacional Português, em Lisboa (7º lugar), da biblioteca da escola técnica Eberswalde, na Alemanha (8º lugar), da igreja St John’s Abbey, em Collegeville, Minnesota (9º lugar), e o interior de uma casa no topo de uma falésia, em Coliumo, no Chile (10º lugar).
A obra da arquiteta ítalo-brasileira também foi reconhecida recentemente. Lina Bo Bardi (1914 – 1992) foi agraciada com o Leão de Ouro Especial por sua trajetória – “em memória” – na 17ª edição Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2021. Lina é a primeira mulher brasileira – e a primeira no mundo com obra construída – a conquistar um Leão de Ouro.
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Assista à série Tijolo por Tijolo, com curiosidades do bairro da Pompeia e da história do Sesc Pompeia:
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