Certamente há um show que paira na sua memória e que vez ou outra aparece numa roda de conversa, sobretudo pelo combo estar no lugar e tempo certo quando a banda resolveu dar as caras no Brasil. Foi assim que aconteceu com o …And You Will Know Us by the Trail of Dead (popularmente Trail of Dead ou o mais ainda “Trail” para os íntimos). Em 2001, a banda saiu da musical Austin no Texas (EUA) e veio ao Brasil para destilar apresentações enérgicas das quais os fãs até hoje não esquecem, muito menos os músicos Conrad Keely e Jason Reece, fundadores do grupo, “recém-saídos do reformatório, com as mentes cheias de catecismos e atos devocionais de sacrifício próprio”, como eles mesmo afirmaram para Folha. Aliás, vale ler esta matéria para entender e fazer o jogo expectativas vs. show.
Na época, a banda era uma promessa do rock americano, já havia despontado com seu álbum de estreia “Madonna”, preparava seu segundo, “Source Tags and Codes” (que até hoje ostenta um 10 no pragmático site Pitchfork) e sua história se confundia com a própria revolução da indústria fonográfica. Despontaram na virada do analógico pro digital, viram o comércio varejista de CDs explodir, as vendas caírem, a música circular pelos servidores P2P e o consequente sucesso comercial se esvair. Tudo isso fazendo música e tentando manter os princípios da sua arte – usando o rock como pilar de sua sensibilidade artística.
Fazer música delicada a seus anseios e perigosa, tal qual o gênero pressupõe, exige um nível de habilidade que a maioria dos músicos mal consegue entender. Enquanto algumas bandas, como os microfones, conseguem capturar a beleza e a raiva simultâneas da natureza, o que And You Know Know Us by the Trail of Dead encapsulou ao longo de sua carreira foram paisagens musicais que transitam entre o denso, bonito, intrincado, assustador, explosivo e perigos. Nada muito diferente do que o rock aspira: músicas intensas e incríveis, residentes sobretudo nesses dois primeiros álbuns.
Passaram-se 18 anos e o Selo conseguiu registrar esse outro momento no primeiro de dois shows que a banda fez no Sesc Pompeia, entre os dias 12 e 13 de julho de 2019 (o último, não de se espantar, o traiçoeiro Dia Mundial do Rock). Voltando ao Brasil, inspirados pelo show histórico em 2001, “mais velhos, mais espertos – mas ainda não famosos”, como bricou Keely, investindo na troca de bateristas, moshs, comedoria lotada e todos os pré-requisitos para uma reapresentação histórica e devocional.
Dito e feito. Com 17 faixas, o álbum integra a nona edição do Sessões Selo Sesc, disponível exclusivamente na plataforma Sesc Digital e, a partir de 27/5, nas demais plataformas de streaming.
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