Em mostra inédita na América Latina, a exposição “Ana Mendieta: Silhueta em Fogo” é uma jornada profunda e fascinante pelas obras de Ana Mendieta, a talentosa artista cubana-americana (1948-1985) cujo legado está mais vivo do que nunca, como prova a exposição “terra abrecaminhos”, um desdobramento que deságua em obras de 30 artistas identificadas com aspectos culturais, políticos e espirituais provocados pela obra de Mendieta em sua dimensão ancestral e dos feminismos.
Abertas para visitação até 21 de janeiro de 2024, as mostras ocupam a Área de Convivência do Sesc Pompeia, que também recebe uma série de atividades formativas, performances e bate-papos relacionados aos temas destacados pela curadoria geral de Daniela Labra, curadoria adjunta de Hilda de Paulo e assistência de Maíra de Freitas.
SILHUETAS INCANDESCENTES
A primeira parte do projeto, “Silhueta em Fogo,” mergulha na visão singular de Mendieta. Através de uma variedade de meios, ela explorou a interseção do corpo, da ecologia, da feminilidade arquetípica e da ancestralidade. Seu trabalho ecoa a cura, a crítica e a performatividade, abrangendo obras em vídeo, fotografia, esculturas em madeira e argila, desenhos, intervenções rurais e ações em espaços que normalmente não seriam palco de expressão artística.
A mostra reúne obras icônicas, especialmente filmes realizados entre 1973-1981 e fotografias de caráter performativo, além de uma proposição escultórica. São apresentados 21 filmes em Super 8, 16 mm e Betacam restaurados e digitalizados, incluindo uma cópia inédita de Black Angel, com lançamento mundial na exposição. Também se apresentam 13 conjuntos de fotografias que mostram a evolução de suas pesquisas desde a fase inicial na Universidade de Iowa às imagens em preto e branco de grandes formatos, e a silhueta de velas incandescentes Ñañigo Burial.
“Obras, como a série Untitled (Facial hair transplant) de 1972/1997, mostram Ana Mendieta em situações que brincam com questões de gênero e documentação, enquanto outras registram suas intervenções corporais na terra, também filmadas”, afirma a curadora Daniela Labra.
SOBRE ANA MENDIETA
Mendieta foi para aos Estados Unidos em 1961 e em 1980 visitou Cuba pela primeira vez, indo sete vezes à terra natal de sua família até 1983, como única artista autorizada a fazer exposições na ilha, apesar do passaporte e nacionalidade norte-americanos.
Ana faleceu em setembro de 1985. Por um tempo, antes e após seu falecimento, ela foi identificada principalmente como um nome de destaque no contexto de artistas latinas em Nova York. Recebeu a primeira retrospectiva póstuma em 1987 no New Museum, também em Nova York, mas será nos anos 1990 que receberá mais retrospectivas institucionais, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, além do México. Nos anos 2000, Mendieta terá sua obra catalogada, estudada minuciosamente por curadores e historiadores, os quais lhe dedicaram extensos livros. Hoje, sua produção estética é amplamente estudada em muitos campos da arte e da cultura, embora no Brasil ela ainda seja pouco exibida e lida.
ARTE QUE ABRE CAMINHOS
Simultaneamente, a mostra, inédita na América Latina, se desdobra na coletiva “terra abrecaminhos”. Essa parte do projeto convida 30 artistas para explorar aspectos arquetípicos, culturais, políticos e espirituais da simbologia eco-feminina de Ana Mendieta. Essas artistas, de diferentes gerações, filhas da diáspora mestiza, propõem trabalhos em várias formas, incluindo performances ao vivo que compartilham pontos de contato com as proposições estéticas e políticas da artistaa cubana-americana. Além disso, diversas autoras embasam o discurso conceitual de terra abrecaminhos, entre as quais, Gloria Anzaldúa, Cherríe Moraga, Audre Lorde e bell hooks.
Segundo as curadoras Hilda de Paulo e Maíra de Freitas, a coletiva foi pensada a partir das “inflexões críticas decoloniais dentro das teorias feministas, colocando em relevo a circularidade das contranarrativas que retornam às ancestralidades para recompor a imagem do presente, abrindo respiros na terra com as intrincadas movimentações de artistas dentro dos feminismos e suas pontes por solidariedades amorosas entre pessoas”.
Pessoas artistas convidadas: Amy Bravo, Beth Moysés, Brígida Baltar, Carolee Schneemann, Caroline Rica Lee, Cecilia Vicuña, Celeida Tostes, Grasiele Sousa a.k.a. Cabelódroma, Gil DuOdé, Las Nietas de Nonó, Larissa de Souza, Laura Aguilar, Lia Chaia, Márcia X., Panmela Castro, Patricia Domínguez, Puta da Silva, Regina José Galindo, Rubiane Maia, Sallisa Rosa, Suzana Queiroga, Rachel Hoshino, Tadáskía, tatiana nascimento, Virginia Borges, Virgínia de Medeiros, Vitória Basaia, Vulcânica Pokaropa e Yara Pina.
PROGRAME UMA VISITA
Ana Mendieta: Silhueta em Fogo | terra abrecaminhos
Visitação até 21 de janeiro de 2024.
Terça a sábado, das 10h às 21h
Domingo e feriados, das 10h às 18h
Grátis. Livre
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93 – Pompeia – São Paulo/SP
Sem estacionamento.
Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.