Por: Adauto Novaes, jornalista e professor.
Em tempos de mutações, tempos de grandes transformações em todas as áreas da atividade humana, dezoito pensadores do ciclo Sobre a coragem e outras virtudes se reúnem, a partir do dia 6 de junho, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc SP, para dar resposta a uma questão fundamental para a existência da democracia hoje: como repensar a teoria da coragem em meio ao declínio de uma época, momento que o filósofo italiano Giorgio Agamben chamou de “tempos de trevas”? Ou seja, como repensar a teoria da coragem hoje? Corajoso não é aquele herói do dia, descrito pelas mídias e mostrado em filmes espetaculares. Ela supõe uma virtude individual, mas também virtude anônima e coletiva, como lemos na tradição republicana.
A primeira resposta dada por muitos conferencistas do ciclo consiste, pois, em dizer que não existe coragem política sem coragem moral e que é preciso buscar a retomada dos fundamentos pessoais e coletivos. Não há democracia sem a consciência de si, sem o saber de si e sem uma ética da coragem. Alguns filósofos chegam a dizer que a coragem é menos uma virtude pessoal e mais uma disposição coletiva em resposta a determinadas questões de uma época.
O segundo momento do ciclo procura analisar o problema do medo. Albert Camus escreveu, durante a Segunda Guerra, que o nosso século é o século do medo e mostra que não existe coragem sem medo: o corajoso é aquele que não ignora o medo. Lemos em Grande Sertão: Veredas, (tema da conferência de abertura do ciclo com o professor José Miguel Wisnik): “Medo, não, mas perdi a vontade de ter coragem”. Hannah Arendt, filósofa citada por alguns conferencistas, dá a resposta: “Ser livre para a liberdade significa, acima de tudo, ser libertada não apenas do medo, mas também da necessidade”. Os filósofos da Antiguidade diziam que a coragem transitava entre o medo e a temeridade. A coragem não é, portanto, uma virtude que age sozinha: a ela estão vinculadas três outras virtudes essenciais: a justiça, prudência e saber (ou, como escreve Foucault, coragem de saber e coragem da verdade).
Por fim, a coragem só ganha sentido se se transformar em ação política. Diante do egoísmo organizado pelas mídias eletrônicas e da indiferença crescente das coisas do mundo, indiferença pela ordem social e política, devemos seguir advertência de Hannah Arendt: não é apenas a vida que está em perigo, mas o mundo do viver-juntos, do viver em comunidade: “A coragem é indispensável porque, em política, não é a vida, mas o mundo que está em jogo”.
O ciclo Mutações: sobre a coragem e outras virtudes é uma realização do Sesc SP por meio da unidade do Centro de Pesquisa e Formação em parceria com a Artepensamento, com a curadoria e concepção do filósofo, jornalista e professor Adauto Novaes.
Programação:
6/6 – GRANDE SERTÃO: CORAGEM
JOSÉ MIGUEL WISNIK
7/6 – O RITO DE PASSAGEM DO MEDO À CORAGEM
AILTON KRENAK
13/6 – PODE-SE DEFENDER A CORAGEM?
FRANCIS WOLFF
14/6 – CORAGEM EM TEMPOS DE REPÚBLICA BRASILEIRA
LILIA SCHWARCZ
20/6 – A SUPERINDÚSTRIA DO IMAGINÁRIO E O VAZIO DA CORAGEM
EUGÊNIO BUCCI
21/6 – ALÉM DO TEMOR: O LUGAR DO MEDO NOS CAMPOS DA MORTE
RENATO LESSA
27/6 – A ANARQUIA DA CORAGEM
MÁRCIA SÁ CAVALCANTE
28/6 – AS AMBIGUIDADES DA CORAGEM
JORGE COLI
4/7 – UM AFETO PARA A REPETIÇÃO HISTÓRICA
VLADIMIR SAFATLE
5/7 – SOLIDÃO E CORAGEM
NEWTON BIGNOTTO
11/7 – DO PARAÍSO PERDIDO À TERRA PROMETIDA: CORAGEM E EXÍLIO
OLGÁRIA MATOS
12/7 – FIGURAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DO HUMANO: ANTROPOCENO E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
MARCELO JASMIN
18/7 – CORAGEM DE ENTRAR NO NOVO MUNDO
PEDRO DUARTE
19/7 – A CORAGEM DA VERDADE
HELTON ADVERSE
25/7 – A CORAGEM DE FALAR E A POTÊNCIA DAS VOZES NEGRAS
TESSA MOURA LACERDA
26/7 – A VARIANTE AUDACIOSA
LUIZ ALBERTO OLIVEIRA
1/8 – NASCEMOS NO MEDO. DE ONDE VEM A CORAGEM?
MARIA RITA KEHL
2/8 – SOBRE A VIRTUDE DA CORAGEM E O DESAFIO DA VERDADE
OSWALDO GIACOIA JUNIOR
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