“O ontem, o hoje e o agora

Na voz da minha filha

Se fará ouvir

A ressonância

O eco da vida liberdade”

Conceição Evaristo

As possibilidades de economia e trabalho em um mundo que grita por mudanças, passa por uma consciência de que todos tem sua importância para que algo se movimente. Nesse sentido, a educação vira parte essencial para as práticas de Inclusão Produtiva, já que ela é capaz de estimular ideias e criar uma sociedade onde todos têm a oportunidade não apenas de sobreviver, mas de prosperar.

A jornada da Inclusão Produtiva, quando guiada pela educação, permite que as redes se formem, que a ancestralidade se perpetue, que laços fracos e mais estabelecidos se estreitem. A chave está na capacidade de aprender, reconhecer histórias, ensinamentos e saber multiplicar. É claro que a educação formal é direito básico e valioso nessa equação, mas vale reconhecer também aquela educação que começa e acontece no próprio indivíduo.

Uma das principais estudiosas do empreendedorismo no mundo, a economista indiana Saras Sarasvathy, estabeleceu em 1990 o Effectuation, a “Teoria do Fazer”. Ou seja, a ideia de começar com o que está disponível. E isso significa simplesmente basear novos negócios e escolhas profissionais em: 1) quem eu sou? 2) o que eu sei fazer? 3) quem eu conheço?

A ideia é que se desprendendo das previsões, metas e resultados e utilizando mais o que está disponível para ser aplicado, como histórico de vida, habilidades por vezes escondidas, noção daqueles que te cercam é possível encontrar maneiras de solucionar um problema ou revolucionar um mercado. Isso não invalida um plano de negócios e outras ferramentas, apenas coloca mais holofotes nas trajetórias individuais e coletivas e permite que a inovação aconteça de forma mais coerente com o território.

A educação constante que projeta o futuro

Se é a educação a chave para manter culturas e saberes vivos e ensinar sobre novas formas de trabalho e economia, também é ela que pode ditar os rumos para onde estamos indo. Na recente publicação “O futuro do mundo do trabalho para as juventudes brasileiras” – desenvolvido pelo Instituto Cíclica, em parceria com o Instituto Veredas, Itaú Educação e Trabalho, Fundação Arymax, Fundação Roberto Marinho, Fundação Telefônica Vivo e GOYN SP – ter acesso à educação e compreender como direcionar habilidades e esforços de aprendizados é ponto essencial para as tendências econômicas de crescimento nos próximos anos:

Economia Digital

Nove das 15 carreiras em ascensão no Brasil estão ligadas ao Digital. Está cada vez mais em alta porque integra recursos digitais incorporados a diferentes cadeias de produção. Inclui áreas como educação (ensino híbrido e EAD), saúde (telemedicina), marketing e trabalhos que envolvem desde processamento de dados à inteligência artificial e cibersegurança.

Economia Verde

Como já destacado, contribui para o bem-estar das sociedades e constrói equidade social, reduzindo os riscos e a escassez ambiental. Nessa tendência estão os chamados “empregos verdes”, que contribuem para preservar ou restaurar o meio ambiente rural ou urbano. Para as juventudes, os trabalhos de produção, transformação e gestão de recursos naturais e de agropecuária sustentável tendem a gerar mais oportunidades.

Economia Criativa

Engloba atividades artísticas e culturais, com potencial para gerar vagas de trabalho e empreendimento individuais ou coletivos por meio da geração de propriedade intelectual e aspectos criativos por meio de produtos e serviços. Hoje representa 7% do PIB mundial, com previsão de crescimento entre 10% e 20% nos próximos anos.

Economia do Cuidado

Compreende dois tipos de atividades: as de cuidado direto que são pessoais e relacionais, e as de cuidado indireto, ligadas à organização e à gestão do ambiente como limpeza, compras e outros. Ao mesmo tempo que é promissor com diversidade de serviços e profissionais, provoca debates por conta das desigualdades do cuidado que fica invisibilizado: é um tipo de trabalho importante para o funcionamento da sociedade e da economia, mas falta reconhecimento e remuneração adequada, principalmente para as mulheres, já que muitas vezes são elas que assumem a maior parte dessas responsabilidades.

Economia Prateada

Relacionada às atividades econômicas que têm como público consumidor as pessoas com 50 anos ou mais. A maior parte dos serviços está alocada nos setores da saúde. Como essa economia está definida pelo público-alvo, suas possibilidades de trabalho passam pelas demais economias já citadas.

A conta e primeiros passos

À medida que exploramos novas perspectivas de trabalho e economia, estamos moldando não apenas o futuro, mas também as histórias que vamos contar para as próximas gerações. Cada passo em direção a outras formas de economia e trabalho representa um avanço na construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável.

Ao valorizar não apenas o que produzimos, mas também como o fazemos e como isso impacta o mundo ao nosso redor, estamos abrindo caminhos para um futuro onde o trabalho é uma expressão de valores, sonhos e aspirações coletivas. A conta e o compromisso em ser parte de mudanças profundas envolve cada um. E é possível

começar, ou potencializar algo que já é feito, se envolvendo em movimentações que acontecem aí, bem pertinho de você. É preciso estar atento e forte: outro mundo possível também se manifesta na conexão com o outro, nos primeiros e pequenos passos.