Em tempos de desequilíbrios, a alimentação é um dos pilares que podem garantir uma vida – e um planeta – melhor para todos
Vivemos numa era de desafios globais, a alimentação é um deles. Num planeta de 8 bilhões de pessoas, debate-se cada vez mais como será possível garantir comida saudável e adequada para toda a população mundial, preservando os recursos naturais e proporcionando uma vida digna e equilibrada para todos.
Essas questões permeiam o conceito de sustentabilidade, dentro do qual a alimentação exerce um papel fundamental.
A forma de produzir alimentos, quem faz parte da cadeia produtiva, quais as condições de trabalho e de vida para quem vive no campo e até a maneira de gerir os recursos naturais entram nesse debate, que vem tomando força nos últimos anos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, em 2015, 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), para superar os maiores desafios do nosso tempo, de forma a cuidar do planeta e melhorar a vida de todos.
Dentre os objetivos estão erradicar a pobreza e a fome, promover a agricultura sustentável e a igualdade de gênero, desenvolver cidades e comunidades sustentáveis, entre outros.
“Os 17 princípios tratados na ODS seguem uma lógica na qual justiça social, econômica e ambiental caminham juntas para garantir os direitos básicos aos seres humanos e a sobrevivência do planeta”, explica a antropóloga Tatiana Tolentino Mosca, que atua com sustentabilidade na área da gestão de alimentos e bebidas em São Paulo.
No Brasil, esses ODS estão em pauta em diversos projetos que se dedicam, atualmente, a unir sustentabilidade e alimentação, como é o caso do Sustentarea, Núcleo de Extensão da Universidade de São Paulo.
A nutricionista Aline Martins de Carvalho, mestre e doutora em Nutrição em Saúde Pública, coordena o Sustentarea e explica que, dentre as ações do grupo, a ideia é trabalhar os alimentos com um olhar amplo, sem se ater apenas aos nutrientes.
“Tentamos olhar para o sistema como um todo. Quando vemos um prato, pensamos de onde veio aquele alimento, quem produziu, como foi transportado, quem processou, se foi feito em casa ou em algum outro lugar, quem preparou, como é seu consumo e como será o seu descarte”, explica Aline.
Para a nutricionista, a sustentabilidade liga-se ao processo de pensar toda a cadeia relacionada à comida. “Essa é a perspectiva que a Sustentarea usa, tentando avaliar a sustentabilidade não só no pilar ambiental, mas também no social e no econômico.”
Tanto Tatiana quanto Aline lembram que estamos caminhando, pouco a pouco, na promoção da sustentabilidade, embora o cenário ainda seja desafiador. “Temos muitas realidades diferentes no Brasil”, diz a antropóloga.
“Por um lado, há as grandes monoculturas à base de pesticidas, agrotóxicos, desmatamento desenfreado e foco na exportação de alimentos. E, por outro, iniciativas transformadoras no campo da produção de alimentos como a agroecologia, agroflorestas, que geram alimentos livre de agrotóxicos e associados à preservação ambiental”, explica Tatiana.
A nutricionista Aline lembra que é preciso observar também a questão econômica, se a alimentação tem um preço justo para quem produz e para quem consome, levando em conta a produção de alimentos de maneira adequada, e sustentável, para atender também a população do futuro.
“Como podemos promover sistemas alimentares que privilegiem tanto as pessoas que estão no campo quanto os consumidores urbanos, sem degradar o planeta e reduzindo as pegadas de carbono?” Fica a reflexão para todos nós.
1. Erradicação da pobreza
“Acabar com a pobreza em todas as formas, e em todos os lugares.”
2. Fome zero e agricultura sustentável
“Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoraria da nutrição e promover a agricultura sustentável.”
3. Saúde e bem-estar
“Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades.”
4. Educação de qualidade
“Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos.”
5. Igualdade de gênero
“Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.”
6. Água potável e saneamento
“Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos.”
7. Energia limpa e acessível
“Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas e todos.”
8. Trabalho decente e crescimento econômico
“Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos.”
9. Indústria, inovação e infraestrutura
“Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.”
10. Redução das desigualdades
“Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.”
11. Cidades e comunidades sustentáveis
“Tornar as cidades e os assentamento humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.”
12. Consumo e produção responsáveis
“Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.”
13. Ação contra a mudança global do clima
“Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.”
14. Vida na água
“Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.”
15. Vida terrestre
“Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.”
16. Paz, justiça e instituições eficazes
“Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis.”
17. Parcerias e meios de implementação
“Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.”
Fonte: brasil.un.org
Artigo por Luciana Mastrorosa, jornalista e escritora especializada em gastronomia e nutrição. Atua há mais de 25 anos na imprensa brasileira, mantém o site Cozinha de Planta e é autora do livro “Pingado” e “Pão na Chapa – Histórias e Receitas de Café da Manhã”.
De 16 a 29 de outubro de 2023, as unidades do Sesc convidam o público a experimentar o universo da comida e as suas relações com a saúde e com a cultura.
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