Muito utilizada na confecção de cordéis no processo de criação literária, a xilogravura é uma técnica de impressão milenar, que utiliza a madeira como matriz, para que a imagem empalada possa ser impressa em papel ou em outro suporte como um carimbo.
Mesmo após a Revolução Industrial e todos os movimentos que resultaram no atual momento tecnológico que o mundo presencia, a xilogravura mantém seu processo tradicional e artesanal, e os jovens cada vez mais se apropriam dela para suas criações.
Essa é a base da exposição “Ocupação Xilográfica”, inaugurada no Sesc Birigui no começo de novembro. A mostra reúne obras de 11 jovens artistas que utilizam o método de gravar imagens em madeira em trabalhos que apresentam pesquisas em torno da cor, da tridimensionalidade e de grandes formatos.
Para a curadora Célia Barros, gravar uma madeira implica lidar com a rigidez e resistência do material, além dos veios que aparecem. “Cada madeira oferecerá diferentes características e adversidades, que inevitavelmente se farão visíveis na obra. Apesar disso, dependendo do modo como o artista se adapta à matéria e extrai dela seu potencial expressivo, conseguem-se gravuras de uma leveza e agilidade a princípio inimagináveis”, explica.
Para além das confluências em seus trabalhos com a madeira, os artistas escolhidos para compor a mostra – Beatriz Lira, Fernando Melo, Gabriel Balbino, Igor Santos, Julia Bastos, Jovana Basílio, Kamila Vasques, Luisa Almeida, Rafael Toledo, Santídio Pereira e Taís Melo – também compartilharam vivências dentro dos mesmos ateliês e acompanham os trabalhos uns dos outros pelas redes sociais. “Essa reunião evidencia a importância do ambiente de formação e dos ateliês de gravura disponíveis para o exercício e o aprofundamento da prática no país”, comenta Célia.
Para Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc SP, a exposição trás a luz uma geração emergente de artistas dedicados a conferir novos contornos a essa técnica ancestral. “É nessa intersecção da técnica ancestral, com a relação dos jovens com a recepção da arte que o Sesc inscreve sua ação cultural, fomentando experiências de formação para uma apreensão sensível e crítica das imagens que povoam a vida”, completa Miranda.
A xilogravura é uma técnica milenar cujos primeiros registros datam de aproximadamente dois mil anos atrás e são provenientes da Índia e de diversas regiões da Ásia. Na época, era empregada a técnica da aplicação de carimbos, ou “block print”, na estampagem de tecidos ou na reprodução de textos chineses, com a utilização de “tipos” (ou letras) de madeira.
Como eram materiais perecíveis, é provável que sua origem seja ainda mais remota. Os historiadores divergem ao determinar sua antiguidade, já que a estampagem em tecido tem relação com a história da moda, enquanto a história da xilogravura ocidental costuma se restringir a impressões sobre papel dentro do circuito artístico e não leva em conta as imagens impressas para outros fins.
Se cruzarmos as diferentes histórias das técnicas de impressão, poderemos considerar que o formato da xilogravura é imprevisível, assim como o gesto e os corpos que atuam nessa linguagem. Uma “xilo” pode ser um simples carimbo, uma técnica que torna possível repetir palavras ou imagens e expandir-se pelo mundo, diluindo inclusive sua autoria.
O ambiente da favela, os preconceitos que envolvem seus habitantes e a coletividade que emana dessas conexões se manifestam graficamente nas obras de Fernando Mariano. Já Igor Romualdo povoa suas xilogravuras com ambientes naturais, com os quais pode ou não ter tido contato direto, bichos simpáticos, apesar de sua ferocidade, entre outras figuras. Jovana Basílio trabalha com a “xiloesia”, uma forma criada pela artista para compor a relação entre imagem e palavra.
Lira retrata rostos femininos que nos olham seriamente, entintados em dourado e que parecem pleitear novas condições para habitar a arte, discrepando de uma atitude que apela para a beleza. Julia Bastos se debruça sobre a experiência da metamorfose como processo de quase morte para relacionar diversos recursos biológicos de plantas e animais e a vivência do ser humano. Kamila Vasques se apropria das mensagens subliminares da arquitetura e da escrita, vãos de escada, guarda-corpos, pilares, portas, esquinas, fontes e tipos de letra, criando ruídos que as obriguem a sair do silêncio.
Santídio Pereira possui um traçado exuberante que recebe modulações e recortes inusitados no desenho, e a cor transforma-se e afeta o corpo da planta como uma síntese de si mesma. Luisa Almeida leva essa experiência ao extremo ao idealizar diversas estratégias, traquitanas e engenhocas para contornar os limites de seu corpo. Enquanto as xilogravuras de Tais Melo abordam o tema da cidade pelo viés de quem precisa habitá-la, as camadas de cor sobrepostas que criam uma imagem difusa e os materiais inusitados no campo da gravura são os diferenciais de Rafael Toledo.
A exposição ocupa a Área de Convivência, o Segundo Piso e a Sala de Múltiplo Uso 3 do Sesc Birigui. As visitações podem ser feitas de terça a sexta-feira, das 13h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h.
A unidade também realiza agendamento de grupos de pessoas, para visitas mediadas em que serão abordados desde aspectos técnicos, culturais e sociais da xilogravura. O espaço conta com uma área educativa onde atividades relacionadas aos temas tratados são propostas com o intuito de aprofundar a reflexão sobre o assunto. O agendamento pode ser feito pelo e-mail agendamento.birigui@sescsp.org.br ou pelo telefone (18) 3649-4732.
Programação integrada
A exposição contempla ainda uma programação integrada, com bate-papos, oficinas e conteúdos digitais para diversos. A programação completa pode ser visualizada no Portal Sesc.
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