Em “Tierra”, Sergio Blanco reafirma sua fé na palavra como instrumento de cura

14/09/2024

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Ator em cena de “Tierra”: espetáculo na programação do MIRADA parte da perda da mãe para entrelaçar narrativas. Foto: Nairí Aharonián

Há pouco mais de dois anos a professora Liliana Auyestarán morria em uma unidade de terapia intensiva em Montevidéu, no Uruguai. Esse foi o ponto de partida para mais um trabalho de seu filho, o dramaturgo e diretor franco-uruguaio Sergio Blanco, conhecido por suas criações no campo da autoficção.

Sergio tem 19 produções encenadas nos últimos dois anos, e “Tierra” se tornou uma delas. Na trama do espetáculo, o autor reúne três personagens que já foram alunos de Liliana, figuras marcadas pela perda de um familiar. 

Blanco recria o cenário escolar, com uma quadra esportiva e a escrivaninha da mãe, para entrevistar os personagens. A peça fala não só da forma como a existência se modifica após a morte de um ente querido, mas também da representação cênica. 

Apesar do espetáculo partir de uma vivência muito pessoal, Sergio não se sente lidando novamente com o trauma da perda a cada encenação. “Uma vez concluído o trabalho, me sinto muito distante da história. Ela entra no campo da ficção e vejo-a com uma perspectiva mais técnica”, conta o dramaturgo. “Essa ligação mais íntima acontece no momento da escrita, que é um momento de solidão. Aí sim, estou sozinho na minha mesa, oito horas por dia, ali me conecto com um mundo interior muito grande. É quase um trabalho de feitiçaria”.

É a quarta vez que o diretor e dramaturgo vem ao MIRADA. Ele conta que, na noite anterior à entrevista, estava lendo o catálogo da edição e sentindo-se honrado em mais uma vez fazer parte da programação. “​​É um festival que, para além dos tempos, dos anos, dos rumos, das crises, continua atento ao mundo”, define.

Para o dramaturgo, a fase da escrita é a mais íntima do processo de criação: “Ali me conecto com um mundo interior muito grande”. Foto: Nairí Aharonián

Estar atento ao mundo, para Sergio, é uma das vocações do teatro, especialmente nos dias correntes, em que a institucionalidade democrática e direitos de minorias sociais duramente conquistados são atacados diariamente em muitos países. “O teatro é o contrapeso do fascismo. Sempre foi, desde suas origens”, diz.

Sergio crê firmemente no poder da palavra como instrumento de cura. Autor de um artigo que discorre sobre a relação entre as palavras “trama” e “trauma”, ele acredita que contar histórias é uma forma seminal de encontrar soluções para problemas e angústias – sejam eles individuais ou comunitários.  

“Ver a jornada de outra pessoa e como a outra pessoa se curou ajuda muito quem está passando pelo mesmo processo”, defende. “O teatro é isso: mostrar, fabricar possibilidades, idealizar uma comunidade. É saudável ver outra pessoa se curar”.

Não por acaso, sua mãe Liliana, cuja perda foi a ignição para a criação de “Tierra”,  era uma reconhecida professora de Literatura em seu país.

O dramaturgo acredita que estar atento ao mundo é uma das vocações do teatro. Foto: Nairí Aharonián

Serviço:

Tierra (URU) – direção: Sergio Blanco
Teatro do Sesc Santos 
14/9 (sábado), às 21h. 
Duração: 100 minutos 
Ingressos à venda pelo app Credencial Sesc SP, pelo site e nas bilheterias das unidades. 

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