Por Breno Lira Gomes*
Tim Burton é um cineasta amado por muitos e, talvez, não muito levado em consideração por alguns poucos. Seu estilo narrativo imagético, que o faz se aproximar bastante dos filmes expressionistas alemães e da produção de filmes B da Hollywood dos anos de 1930 a 1960, o fazem ser considerado como um dos poucos realizadores em atividade que podemos chamar de Autor. Sim, pessoal, Tim Burton é um cineasta-autor, da mesma forma que Alfred Hitchcock, David Lynch, Mario Bava e tantos outros. Ao assistir um filme dele, você deve reconhecer alguns elementos, sejam narrativos (histórias estranhas), cenográficos (casas e castelos pouco convidativos), de figurino (preto e listras predominam) e fotografia (soturna 100%), por exemplo, e de imediato pensa: só pode ser Tim Burton! Tá aí a assinatura dele.
Nascido na ensolarada Califórnia, Timothy Walter Burton, não era o típico garoto do oeste norte-americano, fã de praia, surf ou algo do tipo. Seu negócio eram os filmes, principalmente os de monstros, marcianos e criaturas afins. E por morar tão próximo dos estúdios, tudo ficava mais fascinante e inspirador. O menino que gostava de desenhar se formou na escola de belas artes e em seguida foi trabalhar como animador nos estúdios Disney. Ali, além de participar de alguns projetos importantes, desenvolve seu curta-metragem de animação “Vincent”. Em um verdadeiro poema em forma de imagens que homenageia o ator Vincent Price, Burton dá uma pequena amostra do seu talento e do que seria capaz de fazer. Suas referências e inspirações estão presentes nos 6 minutos da história do garotinho que se imagina como um dos muitos cientistas loucos vividos por Price nos cinemas.
Burton contribuiu bastante para o imaginário popular, apresentando personagens ao mesmo tempo estranhos e fascinantes. Seus protagonistas vivem à margem, nas sombras, e nem por isso são cruéis ou malignos. Não tem como não se divertir com o Beetlejuice/BesouroSuco, se apaixonar pelo Edward Mãos de Tesoura, se divertir com os marcianos que atacam a Terra, se aventurar com o Homem Morcego, se encantar com o Jack ou a Noiva Cadáver, e se arrepiar com o Cavaleiro Sem Cabeça. Esses e muitos outros personagens já fazem parte da história do cinema. E, que fique claro, que não só de escuridão vive Tim Burton. Ao se tornar pai, o diretor adapta o livro Peixe Grande para o cinema, e nos mostra todo o poder e vivacidade de suas cores.
40 anos depois, desde o lançamento de “Vincent”, Tim Burton largou o trabalho como animador, passou pela televisão, enveredou pelas artes plásticas, se entregou à poesia e no cinema realmente se encontra como um artista completo, com total domínio do seu ofício de diretor. Nesse período dirigiu 19 longas-metragens, a maioria com grande repercussão com o público e com a crítica especializada. E agora está prestes a lançar uma série para a Netflix que não podia ser outra pessoa a não ser ele a comandar o projeto: Família Addams. A expectativa é grande de como será sua visão/interpretação de Gomez, Mortícia, Wandinha e companhia.
*Breno Lira Gomes é jornalista, produtor e diretor da BLG Entretenimento. Assinou a curadoria de mostras como El Deseo – O apaixonante cinema de Pedro Almodóvar; Cacá Diegues – Cineasta do Brasil; A luz (imagem) de Walter Carvalho; Simplesmente Nelson; Grande Othelo – O maior ator do Brasil; Pérola Negra: Ruth de Souza; Monstros no Cinema; Fábrica de Sonhos; Stephen King – O medo é seu melhor companheiro; e macaBRo – Horror Brasileiro Contemporâneo.
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