Dançar também é resistir: a celebração como ato político com o Núcleo Cinematográfico de Dança
Em 2019, na cidade de Weimar, Alemanha, um bloco de carnaval brasileiro impediu o avanço de uma marcha neonazista ao cercar os manifestantes com uma celebração festiva. Esse acontecimento inspirou o Núcleo Cinematográfico de Dança a questionar: seria possível resistir de outras formas, para além do confronto direto ou da violência?
A partir desse questionamento, nasce Transe em Trópico, uma criação que propõe um levante da alegria, uma insurgência do desejo e uma celebração da vida em oposição à pulsão de morte. Mas quais são os corpos que vivem, morrem, criam e dançam no Brasil? Como repensar a alteridade e os limites do corpo?
O Núcleo se deixa atravessar pela desordem, pela entropia tropical, pelos clichês e pelos lugares comuns, indagando as manifestações dos “corpos tropicais” e acolhendo suas diferenças. Inspirada no conceito oswaldiano da antropofagia, a obra se apropria e transforma signos culturais, abraçando uma corporalidade baseada na fusão entre humano e bicho: quem está em transe é a onça, quem bebe é a onça, quem lambe é o humano, quem goza é a onça, quem morde é o humano, quem debocha é a onça. Ou o contrário. Ou os dois. Quem dança é onça-humano.
A obra instiga o público a desconfiar da aparente segurança do papel de espectador. Como em uma rave ou um bloco de carnaval, a vertigem sonora se propaga entre os corpos, provocando um deslocamento coletivo. A dança torna-se uma ferramenta para sair da apatia e reencontrar o prazer do encontro. Que outras transformações podem emergir quando dançamos juntos, em uma conexão multicultural e festiva?
Com 13 bailarinos em cena, Transe em Trópico conta com trilha sonora ao vivo, combinando os ruídos de no input de Rayra Costa às batidas eletrônicas do DJ Ricardo Vincenzo. O figurino é assinado por Fause Haten, a iluminação por André Boll e a cenografia por Renan Marcondes.
Sinopse
Uma transa com Glauber Rocha, Oswald de Andrade e Lygia Clark, sem essa aranha. Uma aproximação xamânica, decolonial e carnavalesca, no meio de uma floresta de papel manilha e celofane. Pede passagem a onça na encruzilhada. A coisa é eufórica, profana, furiosa. É sair de si. Trânsito de ser um para ser outro. Transe entre afetos respiratórios. Corpos entorpecidos pelos padrões cíclicos. O gozo, o êxtase, o revirar dos olhos.
A coisa é um acontecimento entrópico nos trópicos. Antropofagia, estereótipos e faces gloriosas. Esgarçamento de clichês, copo de cachaça, urucum e banana. Pausa para a onça beber água. Mesmo enfurecides e tristes, faremos festa. A festa é uma arma? Uma armadilha? Um grito de desespero ou de sobrevivência? Ou tudo isso junto? Descascar o abacaxi nos dentes. Ser bicho e ser gente. Lambidas e saliva. A coisa é. Crítica e clichê. Vertigem em bando. Um ritual, um manifesto, um delírio festivo.
Sobre o Núcleo Cinematográfico de Dança
Formado pela parceria artística entre Mariana Sucupira e Maristela Estrela em 2002, o Núcleo Cinematográfico de Dança pesquisa as relações entre a dança e o cinema, dialogando também com a performance, o teatro e as artes plásticas. A companhia busca transgredir limites disciplinares e explorar novas formas de criação e experimentação.
Ao longo dos anos, o Núcleo realizou diversas peças coreográficas, intervenções, performances, videodanças e intercâmbios artísticos. Foi contemplado com editais e prêmios importantes, como o Programa Municipal de Fomento à Dança de SP (2006, 2010, 2011, 2014, 2020, 2022 e 2024), PROAC (2009, 2011, 2013, 2019 e 2022), Lei Paulo Gustavo (2023), Prêmio Maria Alice Vergueiro (2021) e Prêmio FUNARTE Klauss Vianna (2013). Além de sua produção artística, mantém, desde 2002, o grupo de estudos em dança e performance “16 mulheres e 1/2”.
Transe em Trópico
com Núcleo Cinematográfico de Dança
De 10 a 14 de abril, quinta a sábado, às 19h, domingo, às 17h
Ingressos à venda online a partir do dia 01/4, às 17h, e nas bilheterias a partir do dia 02/4, às 17h
Galpão do Sesc Pompeia
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 70 minutos
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