Sabrina Denise Ribeiro é educadora na Pinacoteca de São Paulo e artista. Formada em Artes Visuais na Faculdade Paulista de Artes Visuais (FPA), pós-graduada em Arte e Educação pelo Senac, ela transita entre a arte vista pelos surdos e sociedade ouvinte.
Desde pequena, muito observadora, Sabrina sempre se entreteve com formas e cores que falavam o que ela não ouvia. Esse interesse pela arte amadureceu e resultou no ingresso da artista no ensino superior em Artes Visuais.
Com a expectativa de trabalhar com o ensino de artes em escola, não imaginou trabalhar em um museu. Iniciar sua vida profissional na Pinacoteca de São Paulo não foi fácil. “O começo foi muito difícil, tudo era em português”, lembra Sabrina. O sucesso do trabalho contou com a parceria dos colegas e, assim, ela pode aperfeiçoar e descobrir novas formas de se trabalhar. Ao mesmo tempo que aprimorava o português, Sabrina desenvolvia novos sinais em Libras, para contextualizar as ações no museu.
Ela explica que a forma como a arte visual é entendida pelos surdos e ouvintes é diferente. “A cultura surda é visual… então, quando olho um quadro, desenho, penso na Libras, que tem um significado mais profundo, se relacionada com o surdo, com a cultura surda, a experiência do surdo. Então, eu acho que essa questão da visualidade aflora a personalidade do surdo”, comenta Sabrina sobre a cultura surda e artes visuais.
Se a fruição artística para surdos e ouvintes é diferente, Sabrina não deixa de apontar dois pontos fundamentais: a importância do protagonismo de surdos como artistas e de espaços que ofertem editais em Libras como abertura de portas para esse artista. “Isso é importante, pois mostra um trabalho, dá visibilidade, e que ele não é só uma orelha que não funciona, ele é como um ouvinte que pode produzir. Ele vai quebrando e mostrando que é capaz, a sociedade vai dando mais valor para a cultura surda”, enfatiza Sabrina.
As apresentações, os Slams, permitem a participação de surdos e ouvintes como iguais. “As pessoas começaram a ver que os surdos tinham essa possibilidade, tinham essa representação… quando você mostra a língua de sinais, ela também é visual, ela mostra uma nova perspectiva na linguagem… esse momento [Slam] foi importante para mostrar o protagonismo”, explica Sabrina.
Atualmente, como artista, ela tem como foco a produção de desenhos e fotografias e utiliza a internet como uma plataforma de divulgação. “Hoje eu começo a divulgar mais essa minha arte, em outros espaços, porque eu consigo me ver, o surdo consegue ver esse espaço também, igual a qualquer ser humano que experimenta a arte.”
Do ponto de vista de possibilidade de produção e espaços para arte, surdos e ouvintes devem caminhar juntos de forma equitativa. Mas ela não deixa de apontar que, no que diz respeito às formas de perceber, entender e criar, há peculiaridades entre ouvintes e surdos, e atribui essa distinção às linguagens utilizadas por surdos (Libras) e ouvintes (Língua portuguesa), que propõem formas diferentes da construção da comunicação.
Enquanto os ouvintes realizam comunicações a respeito de uma produção visual, os surdos não o fazem, pois a visualidade está internalizada e, dessa maneira, há modos e interpretação diferentes sobre mesma imagem, para surdes e ouvintes, segundo Sabrina.
Por meio de três fotografias, com uma narrativa visual, a artista discute sobre o corpo, empoderamento e sensibilidade feminina, trazendo a discussão, segundo a artista, de “Como o surdo vê essa questão do corpo?” “Como são essas 3 coisas para o surdo”, além das imagens. Sabrina conta como também foi pensando o trabalho.
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A Semana Modos de Acessar, ação em rede do Sesc São Paulo, acontece de 3 a 10 de dezembro, que promove diversas atividades para incentivar a participação social das pessoas com e sem deficiência. Diante do momento de pandemia, o evento será inteiramente no ambiente digital.
A apresentação de Sabrina é uma das sete que compõem o projeto proposto pelo Coletivo Home Art.
Acompanhe mais apresentações em www.sescsp.org.br/modosdeacessar.
***Entrevista realizada por plataformas virtuais com auxílio de intérpretes em Libras:
Claudia Regina Vieira – Bacharela em Letras Libras pela UFSC com pólo na Unicamp. Docente na Universidade Federal do ABC – UFABC e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Com pesquisas e trabalhos com ênfase na Educação de Surdos e Língua de Sinais.
Andrey Gonçalves Batista. Graduação em tradução e interpretação de Libras. Intérprete da Universidade Federal do ABC.
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