No mês em que o Sesc celebra o universo da alimentação com o projeto Experimenta! Comida, saúde e cultura, diversas unidades promovem feiras orgânicas e agroecológicas. Além de pontes entre quem produz e quem compra comida de verdade, as feiras convidam a experimentar os sentidos, os conhecimentos da terra e os encontros
Uma vez por semana, em tantas ruas, o barulho das buzinas, motores e motoristas irritados silenciam frente à cantoria dos feirantes. “Pode chegar, freguesia, que a melancia tá docinha!”: é o anúncio de que estamos diante de uma outra lógica, outro ritmo, outro tempo, ainda que no mesmo espaço da cidade.
Sobre o cinza do asfalto se fixam madeiras, depois lonas – lisas, listradas, esticadas para salvar do sol as preciosidades que a terra dá: frutas, verduras, grãos, legumes – tudo fresco, tudo vivo!
Já fez a sua compra semanal? Reunimos três bons motivos para passar na feira nesta semana:
1. Feira é, primeiramente, encontro.
Encontro entre quem vende e quem compra, entre campo e cidade, encontro de vizinhos e até encontro de família! Juci Fernandes, editora web do Sesc, conta como a feira se tornou ponto de encontro semanal entre ela e a mãe, depois de ter saído da casa dos pais:
Migrantes do sertão do Ceará, meus pais, como muitos na década de 80, vieram pra São Paulo carregando quatro filhos, em busca de uma vida melhor. Mesmo depois de 40 anos, as lembranças da roça continuam vivas na memória da minha mãe, Dona Raimunda, com as plantações que reuniam a família no cuidado e recompensavam a labuta com a colheita. Naquela época, ela sentava embaixo do pé de maracujá com as irmãs e comia a fruta recém colhida – apesar de a espécie se chamar azedo, ela não sentia falta de açúcar, gostava de sentir seu sabor natural.
Mas tudo mudou ao chegar à selva de pedra. A casa onde morava não tinha mais espaço para um pedacinho de terra. Era tudo concreto. Depois de muito pelejar, a vida foi melhorando e comprou uma casa maior, que apesar de ainda ser concreto para todo lado, tinha uma feira, logo ali, no final da rua. Melhor dia não podia ser: aos domingos, logo antes do almoço em família.
Com cinco filhos, a mesa sempre foi muito farta, então fazer a feira era compromisso para toda a família. Eu, por ser a caçula, era a principal escalada para ajudar com as sacolas. Assim, a colheita, que na memória dela é na roça, para mim é a ~colheita~ na feira.
Como ela, os filhos foram crescendo, constituíram família e seguiram seus caminhos. Mas eu, a caçula, demorei para sair de casa. Não queria deixa-la sozinha, ainda mais depois de ter se separado do homem ao lado de quem construiu tudo que tinha. Sempre tivemos um vínculo forte. Mas mudar faz parte da vida e, por mais difícil que fosse, tivemos que nos adaptar.
Não demorou para estranharmos a distância, as novas tarefas, as conversas que agora eram, em sua maioria, pelo telefone. Aos poucos a rotina ia se encaixando, mas não era a mesma coisa. Até que encontramos algo que podia nos ajudar a manter o vínculo. Algo que nos resgata a memória, desperta sentidos, onde trocamos experiências, ideias, sentimentos; e que, resumindo, nos une: a feira.
Quase que como um ritual, todo domingo nos encontramos para escolher, experimentar, sentir aromas e, claro, manter nossa conexão. Mesmo com tanto concreto e tão pouco tempo, é por meio da feira que nos mantemos conectadas e renovamos energias para seguir fortalecidas até nosso próximo encontro.
2. Feira é conhecimento.
Já experimentou perguntar pro feirante qual o legume da época? Como guardar a verdura para ela durar mais? E uma receita nova pra testar com o ingrediente fresquinho?
Visitamos a feira Ambrosina (sabia que toda feira tem um nome?), próximo ao Sesc Vila Mariana, e batemos um papo com a Dona Alice que, entre um atendimento e outro, deu dicas e receitas com broto de bambu, alcachofra, beringela, chuchu….
3. Feira é deleite, delírio, delícia…
A experiência sensorial já vale a visita. Na próxima vez que for à feira, que tal dedicar um minutinho para experimentar seus aromas, suas cores, seus sons, seus sabores?
>> Confira as próximas feiras de alimentos orgânicos ou agroecológicos nas unidades do Sesc, na programação do Experimenta! Comida, saúde e cultura:
– Sesc Pompeia: 21 e 22/10, com dez feirantes e produtores locais e seus produtos de cultivo familiar.
– Sesc Santo André: 21/10, com produtores locais de alimentos orgânicos.
– Sesc Bom Retiro: 21/10, com alimentos orgânicos produzidos nos assentamentos do cinturão verde de São Paulo.
– Sesc São Caetano: 21/10. Uma vez por mês o Jardim do Sesc São Caetano recebe produtores de alimentos orgânicos e mediadores.
– Sesc Campinas: 21/10. A feira proporciona convívio e trocas de saberes, de experiências e também de mudas e de sementes.
– Sesc Rio Preto: 22 e 29/10, com exposição e venda de alimentos agroecológicos, como frutas, legumes e verduras. Confira entrevista com o agricultor agroecológio Vitor Franco aqui.
– Sesc Santos: 22/10, com agricultures familiares e apoio do Jardim Botânico de Santos.
– Sesc Santo Amaro: 26/10, com produtores de alimentos orgânicos da Cooperapas ( Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo).
– Sesc Vila Mariana: 28 e 29/10. A feira apresenta ao público um conjunto de ações e práticas ambientais e socialmente sustentáveis, com uma grade de bate-papos e oficinas com agricultores, chefs e jornalistas.
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