De 25 a 30 de março, o Sesc Mogi das Cruzes traz o corpo gordo em cena, em toda a sua potência, transversalizado por diferentes linguagens artísticas e pela prática esportiva. Apresentações musicais e de dança, bate-papos e vivências trazem o debate, questionando padrões e pressões estéticas a partir de experiências pessoais para a construção coletiva de uma sociedade em que possam caber todos os corpos.
Em que medida a sociedade invalida a existência de pessoas gordas? Medidas, valores e padrões contribuem para a construção de uma sociedade gordofóbica? Como cada um de nós pode atuar no enfrentamento da gordofobia?
A pesquisadora, professora e comunicadora Agnes Arruda nos ajuda a refletir sobre essas questões no texto abaixo:
Corpos em Movimento: Cultura, Gordofobia e Novos Caminhos
por Agnes Arruda*
A sociedade tem uma obsessão por moldes – e corpos gordos quase nunca se encaixam neles.
Mas essa questão vai muito além da estética ou do “gosto pessoal”. A gordofobia é um sistema que limita, exclui e define quais corpos podem existir sem pedir desculpas. Mais do que isso, é um projeto sustentado pelo patriarcado e pelo capitalismo, que lucram com a insatisfação e o controle dos corpos, especialmente o das mulheres.
Nos últimos anos, algo mudou. O que antes era conversa abafada entre amigas virou movimento, debate, performance, produção cultural. Mulheres e coletivos começaram a trazer essas discussões para o centro, rompendo com o silêncio e colocando o dedo na ferida. E quando pessoas gordas passam a contar suas próprias histórias, tudo se transforma.
Por muito tempo, a mídia nos reduziu a estereótipos – a piada, o fardo, o problema de saúde pública. Mas e quando a gente assume o microfone? De produções audiovisuais a zines, de influenciadoras digitais a exposições, há um levante que ressignifica a presença gorda no mundo. Isso atravessa a moda, o entretenimento, a saúde – e também mexe com a indústria bilionária que depende da nossa baixa autoestima para se manter de pé.
E é aí que mora a pergunta incômoda: quem decide quais corpos são válidos, saudáveis e desejáveis? Por que algumas formas de existir são celebradas e outras tratadas como erro? O discurso médico, historicamente construído a partir de uma visão eurocentrada, cisheteronormativa e masculina, reforça essa hierarquia, definindo a saúde como um privilégio de poucos. A verdade é que a gordofobia não é um acaso, nem um simples reflexo da sociedade. Ela é parte do projeto. E resistir a isso vai muito além de uma luta individual – é um ato político.
O evento do Sesc Mogi das Cruzes nasce dessa urgência. Um espaço para a troca, para a construção de novas possibilidades, para desafiar discursos prontos e imaginar outros futuros. Academia, ativismo e arte se encontram aqui, não só para questionar, mas para criar. Porque corpos gordos sempre estiveram em movimento. Agora, o mundo é que precisa acompanhar.
*Agnes Arruda é pesquisadora, professora e comunicadora, com atuação nas áreas de mídia, cultura e políticas públicas. Doutora em Ciências da Comunicação, é referência nos estudos sobre gordofobia e representação dos corpos na mídia. Professora no Programa de Políticas Públicas da UMC, desenvolve pesquisas sobre inclusão, diversidade e tecnologia. Sua trajetória transita entre academia, jornalismo e ativismo, sempre com foco na transformação social e na ressignificação dos discursos midiáticos.
O projeto “Tudo me Cabe: Manifesto contra a Gordofobia” vai acontecer entre os dias 25 e 30 de março.
Veja abaixo a lista de atividades gratuitas e venha participar.
vivência
Esporte Antigordofobia
com Ellen Valias
Dia 25, terça, às 19h
bate-papo
Enfrentamento à Gordofobia: Raízes Sociais e Impactos.
com Agnes Arruda, professora e pesquisadora.
Dia 26, quarta, às 19h30
show
Ana Cigarra – Vozes de Peso
Dia 27, quinta, às 20h
apresentação
Ballet e Diversidade
com Júlia Del Bianco
Dia 28, sexta, às 20h
aula aberta
Yoga e Diversidade
com Vanessa Joda
Dia 30, domingo, às 10h
show
Preta Rara – Aquecimento Audácia 10 anos
Dia 30, domingo, às 16h
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