O verão chegou e você não aguenta mais esperar pelo retorno da piscina do Sesc Vila Mariana, né? Mas segure a ansiedade, a demora é por um bom motivo: além de reformar as estruturas de concreto e os vestiários da piscina, uma obra de arte está sendo refeita no local. Talvez você nunca tenha reparado, ou já estivesse acostumado, mas as barras metálicas pintadas em preto, fixadas nas paredes de forma encurvada e caracterizando o aspecto da água quando em movimento fazem parte da instalação “Reflexo d´Água”, da artista plástica Tomie Ohtake.
Encomendada para a inauguração da unidade, em 1997, ela foi uma inovação na época, por se tratar de uma obra de arte em um espaço esportivo, conforme conta José Menezes Neto, gerente do Sesc Vila Mariana na ocasião. “Foi algo que nos sensibilizou muito, pois se relacionava com o conceito transversal de Cultura que é trabalhado pelo Sesc, ou seja, de não separar o Esporte da Cultura, de não trabalhar com esportes de competição, mas com a educação. Nada como a obra de uma artista como a Tomie Othake, em um espaço caracteristicamente esportivo, como a piscina, para demonstrar essa transversalidade da Cultura.”
“A Tomie sempre achou que obra de arte não era para ficar em museu ou na casa de alguém, quanto mais público fosse o espaço em que a obra estivesse exposta, melhor para a cidade”, conta Ricardo Ohtake, arquiteto e filho de Tomie. Segundo ele, o trabalho também foi inusitado pelo formato e pelos materiais utilizados, já que além de se dedicar mais à pintura, a artista estava acostumada a utilizar pastilhas vitrificadas no período. “Ao chegar no Sesc Vila Mariana, ela resolveu fazer com linhas de ferro, porque a área era muito grande”, revela.
Menezes destaca a participação ativa de Tomie durante a instalação da estrutura, feita por um serralheria artística, de sua confiança. “Ela acompanhava com muita presença, acertando as curvas, adaptando o desenho em função do espaço e de suas características, como as janelas, os vidros, os cantos.”
Desgaste e refação – Com o passar do anos, a obra se deteriorou em função da umidade e da reação com o gás cloro presente no ambiente da piscina – ele se forma a partir de uma reação química do cloro utilizado para tratamento da água com matéria orgânica. Além de conferir um aspecto negativo e comprometer as características da obra, as condições das barras metálicas poderiam provocar acidentes.
Assim, quando as obras de manutenção nas estruturas e revestimentos da piscina começaram, em agosto de 2018, foi prevista uma intervenção para reestabelecer as características originais do trabalho de Tomie Ohtake. Depois de várias reuniões, visitas e consultorias técnicas com as equipes do Sesc Vila Mariana, da Gerência de Artes Visuais e Tecnologia do Sesc em São Paulo (responsável pelo Acervo Sesc de Arte Brasileira, a coleção permanente da instituição) e do Instituto Tomie Ohtake, foi decidido que a melhor alternativa seria remover e refazer a obra por completo, de forma fidedigna.
Assim, além de desmontar, destruir e descartar adequadamente a estrutura atual, foram confeccionadas novas peças em aço carbono galvanizado, que serão montadas, receberão acabamento e pintura por uma empresa especializada em projetos como esse. Todo processo também está sendo registrado em foto e vídeo, como parte da memória institucional do Sesc São Paulo e do Instituto Tomie Ohtake.
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