Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um pensador que refletia sobre as questões importantes do Brasil. Além de ter escrito muitos livros, também reconhecia o valor de certas obras para o entendimento do país.
Entrevistamos Isa Grinspum Ferraz, formada em ciências sociais e filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), colaboradora de Darcy Ribeiro por mais de dez anos e curadora da exposição “Utopia Brasileira – Darcy Ribeiro 100 anos“, que está em cartaz no 5º andar do Sesc 24 de Maio. Ela fala sobre a obra de Darcy e a curadoria que forma a Biblioteca Básica Brasileira, um projeto criado pelo pensador para que o brasileiro entendesse seu país por meio de livros fundamentais.
Isa: Tem dois livros que são fundamentais, ambos são bons de ler. Ele não escreve com a linguagem empolada, ele escreve para todo mundo. Um que é um livro de ensaios que se chama O Povo Brasileiro, em que ele explica como se deu a formação cultural e social do povo brasileiro. Essa junção que se deu no Brasil, esse cruzamento de culturas e de experiências teria gerado o Brasil, uma mistura única no mundo, com os seus problemas e com as suas belezas. Esse livro disseca isso sem deixar de falar das outras influências dos imigrantes que foram vindo a partir do século XIX.
O outro livro é um romance que eu considero uma maravilha e que o professor Antonio Candido considerava um dos grandes romances do século XX: Maíra. É um romance sobre um indígena que vem para a civilização, tema muito atual para a gente, pois cada dia mais gente vem para a civilização e tem esse encontro. Quando ele volta para o povo dele, porque aqui ele não consegue viver bem, ele já nem é uma coisa e nem é outra. Darcy escreve isso primorosamente e é bom de ler.
Isa: A Biblioteca Básica Brasileira foi um projeto do Darcy, porque ele não separava educação de cultura, e nisso ele é muito atual, porque eu acho que a gente só vai mudar o país na hora que a gente tiver uma educação que não seja para formar apertador de parafuso, mas para formar gente. E nada melhor que a literatura e que as artes para formar gente.
Quando ele criou isso, ele pensava o que é que um brasileiro médio precisa conhecer da literatura, dos ensaios, da literatura mesmo de ficção, para compreender o Brasil. Claro que o mundo mudou bastante de quando Darcy morreu (1997) para agora, no entanto, as bases da nossa formação estão nesses livros, são explicadas nesses livros. Então eu acho que se ele estivesse vivo hoje, ele acrescentaria outros livros.
Considero que esses livros seguem valendo para qualquer brasileiro que queira se informar sobre o Brasil de verdade. O Brasil profundo que não é o Brasil das redes sociais, alguma coisa mais, mas de buscar as raízes mesmo das questões, das belezas e dos problemas. E é muito interessante, porque é ali que ele desenvolve aquela tese dele de que no Brasil aconteceu um encontro de culturas e de genes muito singular e muito rico entre os povos que já moravam aqui, os povos indígenas, os portugueses que vieram com uma bagagem muito rica e os negros africanos que vieram escravizados ao longo de vários séculos.
“Ele era, antes de tudo, um educador que pensava no povo como
um todo e não nos intelectuais só.“
A exposição “Utopia Brasileira – Darcy Ribeiro 100 anos“ está em cartaz no Sesc 24 de Maio até junho de 2023, localizada no 5º andar, além de contar com uma instalação na biblioteca, 4º andar, onde você encontra os livros comentados nessa entrevista, e muitos outros. Viva Darcy!
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