“Não é uma escola de Yoga convencional, o que eu viso é uma democratização e a inclusão de todos os corpos nessa prática”, assim Vanessa Joda, criadora do Yoga Para Todes, descreve o projeto que realiza desde 2016, quando trocou uma carreira estabelecida na área do comércio exterior para dedicar-se a esta filosofia de vida que mudou sua perspectiva. Ela oferece ao público do Sesc Campo Limpo, nas manhãs de sábado, até dia 26 de agosto, a oportunidade de perceberem o valor do próprio corpo. Mas, como foi mesmo que essa mudança radical aconteceu na vida de Vanessa?
Tudo começa em 2012, quando por insistência de um amigo na época, matriculou-se no Sesc Pompeia para sua primeira aula. “Na hora que chegou no relaxamento, parece que eu tinha voltado a habitar meu corpo, uma coisa muito mágica. Aquilo entrou para a minha vida de uma forma muito forte. Comecei a praticar regularmente”, pontua. Nesse momento, percebe a importância de haver um espaço acolhedor para as pessoas usufruírem da prática sem os preconceitos cotidianos, algo muito comum nas mais diferentes escolas que difundem a Yoga de maneira geral.
Vanessa vai além: “nós, mulheres, somos ensinadas a odiar o nosso corpo desde que a gente nasce. Então, a gente não tem uma conexão com o corpo”, destaca a militante gorda, como gosta de se definir, e apontando que a ideia é justamente “criar um lugar seguro que as pessoas possam vir e elas não vão se sentir ameaçadas de sofrer o racismo, a gordofobia, a transfobia, o capacitismo”, destaca.
Aos 17 anos, arruma seu primeiro emprego e se muda algum tempo depois, de São Bernardo do Campo para Santos, para ser recepcionista na empresa aduaneira de seu irmão, além de estudar comércio exterior, profissão que a ajudava a pagar as contas, mas não trazia felicidade alguma. “Não foi uma coisa que eu escolhi para mim. Eu sou a única mulher no meio de quatro irmãos, mais o meu pai, então cresci com cinco homens. Eu não escolhi minha faculdade, quem escolheu foi meu pai e meu irmão mais velho. Eu não tinha voz, por ser mulher”, reflete.
Embora bem-sucedida, o trabalho tomava todo o seu tempo, fator que resultou no desenvolvimento de Síndrome do Pânico, com crises recorrentes. “Comecei a praticar Yoga com 32, eu vou fazer 44 agora no final do ano, percebi que se eu continuasse no ritmo que eu estava trabalhando, eu ia ter um infarto e morrer antes dos 40 anos”, desabafa. Ela relata que passou a ver o mundo com um outro olhar, prestando mais atenção para o que seu corpo estava dizendo. Para ela, o estilo de vida capitalista normalizou o excesso de trabalho, fazendo com que as pessoas não percebam o próprio corpo. A partir da sua própria história de vida, Vanessa faz das suas aulas um espaço para reflexão sobre necessidade de uma vida para além do trabalho.
Foi questão de tempo até ela largar a antiga rotina para se dedicar àquilo que amava e que a aproximava mais de outras pessoas. Reconhecendo que a Yoga foi capaz de revolucionar sua vida, e acreditando ser capaz de fazer a diferença, em 2016 trocou a estabilidade financeira por uma vida mais prazerosa. “Minha mãe me acha uma louca até hoje. Aquela época eu tinha uma estabilidade financeira? Tinha. Só que eu não tinha vida”.
Ela fala, emocionada, sobre sua primeira experiência com o público do Sesc Campo Limpo, quando começou a prática na manhã do último sábado, 05 de agosto. “A primeira aula estava lotada. Todas as pessoas, quando acabaram, levantaram e vieram me dar um beijo, um abraço, falando que a aula era maravilhosa.” Vanessa conta que os alunos faziam a aula e iam pedir para mais gente fazer na sequência: “isso nunca tinha me acontecido no Sesc”.
As pessoas geralmente acham que têm que se adaptar à Yoga, e Vanessa luta contra essa visão, buscando olhar individualmente para os limites dos corpos de cada um. “Não parto de uma pretensão de que eu sei e faço tudo, porque eu não sei tudo e eu não faço tudo. A Yoga se adapta ao corpo delas, e aí cada um vai ter a sua Yoga”.
Joda destaca que, historicamente, a gordofobia, embora discutida desde os anos 1970, começou a ganhar mais destaque de uns dez anos para cá, então, há um longo caminho nesse processo educativo. “Quando pesei 54 quilos, tomava anfetamina duas vezes por dia: 50 miligramas, a dose máxima. Fumava um maço de cigarro por dia, comia uma cenoura e tomava um copo de suco de melancia. Isso é saudável? Mas todo mundo olhava para a minha cara e falava: ‘nossa, você está linda, você está magra!’ E eu estava doente, com vários problemas de saúde”.
Engana-se quem pensa encontrar nela a figura clássica de uma pessoa calma e totalmente tranquila: “não sou namastê, eu sou namastreta. Eu não falo baixo, falo palavrão no meio minha aula, eu brinco. Tento deixar de uma forma que é o nosso cotidiano normal. E a pessoa relaxa, isso que é legal.”
A profissional acredita que sua paixão pelo movimento punk e os paralelos que enxergou entre o anarquismo e a Yoga, foram elementos que a ajudaram a encontrar sua identidade como praticante e professora. “Anarquismo fala de autoconhecimento, autocuidado, autogestão, e a Yoga também, uma filosofia libertária e horizontal. Os mestres da Índia que a gente conhece não têm essa soberba e essa hierarquia. Acho que foi por isso que essa filosofia adentrou tão profundamente em mim”, pondera.
Joda conta que dava aula no meio da Praça Roosevelt escutando Neurosis, Black Sabbath, Motörhead, e a primeira galera para quem ensinou, era punk: “é de onde eu venho, do anarquismo e do povo punk”, destaca. Para ela, cada pessoa tem um modo de relaxar diferente, e sua tentativa é fazer “a pessoa ter a percepção dela e se escutar, saber como ela pode chegar no relaxamento que quer”, compartilhando que, seus primeiros alunos curtiam muito a experiência de juntar rock, punk e Yoga, possibilitando com que cada pessoa saísse de lá bastante energizada ou relaxada.
Agora que você conheceu um pouco mais da história de Vanessa, que tal anotar na agenda e se programar para o próximo sábado?
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