Fosse num estado normal, tal qual há três anos, o Selo Sesc estaria de malas prontas e com pé na estrada para o interior de São Paulo. Em 2018, conhecemos a musicalidade de personagens que tem em comum a paixão pela história e pelo som da viola através do Viola Paulista – Volume I. Mais do que isso, fomos além, apresentando a coletânea numa série de shows de lançamento que rodaram as unidades do Sesc em Araraquara, Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos, São José dos Campos, Taubaté, e na capital, no Sesc Belenzinho.
A primeira edição do Viola representou a primeira etapa do mapeamento etnográfico do uso do instrumento no estado de São Paulo que conseguimos levantar através do olhar do músico e pesquisador Ivan Vilela. Rostos, sotaques, timbres, afinações e materiais diferentes, músicas cantadas e instrumentais de influências múltiplas advindas das fronteiras do estado, tudo isso num caldeirão equilibrado representado por 19 faixas de grupos e artistas solo expoentes da nova geração da viola de dez cordas.
Chegamos em 2021 e mesmo sem as trocas presenciais abdicadas pela pandemia, conseguimos apresentar mais uma etapa deste mapeamento: o Viola Paulista – Volume II. Se a marca registrada da primeira edição foi o trabalho de violeiros em início de carreira ou mais tempo de estrada, porém sem o devido reconhecimento; na segunda, apresentamos 20 violeiros e violeiras que já têm uma carreira consolidada junto ao público e à cena musical. Se tratam de artistas profissionais com carreiras artísticas mais longevas, com discos gravados e de um público cativo que acompanham os seus trabalhos. Além disso, no mapeamento de Vilela, os músicos selecionados abrangem todo o território do estado.
E desta vez, faremos diferente! O Viola II está dividido em cinco EPs. Cada um deles dá voz a diferentes sotaques do instrumento no estado e seus representantes. O primeiro, abrangendo as regiões de Bauru, Araraquara e São Carlos, chega às principais plataformas de streaming no dia 17 de fevereiro, incluindo na plataforma Sesc Digital, que também oferece o conteúdo de forma gratuita e sem necessidade de cadastro. Para ouvir, acesse aqui.
Acompanhe o calendário de lançamentos abaixo e aproveite para conferir o relato de Ivan sobre este novo estágio desta etnografia.
17 de fevereiro
EP 1 com os violeiros Levi Ramiro, Cláudio Lacerda & Rodrigo Zanc, Arnaldo Freitas e Adriana Farias
24 de fevereiro
EP 2 com os violeiros Fernando Caselato, João Arruda, João Paulo Amaral e Zé Helder
3 de março
EP 3 com Ricardo Anastácio, Zeca Collares, Fernando Deghi e Ricardo Vignini
10 de março
EP 4 com Enúbio Queiroz, Juliana Andrade, Fábio Miranda e Márcio Freitas
17 de março
EP 5 com Lauri da Viola, Wilson Teixeira, Neymar Dias e Júlio Santin
No intuito de criarmos um mapa etnográfico do uso da viola no estado de São Paulo, em parceria com o Selo Sesc entregamos a segunda coletânea de tocadores/compositores de música de viola residentes no estado.
Se no primeiro disco foram convidados a participar os violeiros que estavam no começo de suas carreiras artísticas ou que se lançaram ao mercado tempos atrás, mas não obtiveram o devido reconhecimento por questões diversas, agora foram convidados violeiras e violeiros que já têm uma carreira consolidada junto ao público e à cena musical.
Vinte violeiras e violeiros aceitaram o convite e são elas e eles que nos ajudam a delinear os caminhos que a viola vem tomando ao longo dos tempos em São Paulo.
Pioneiros na difusão da viola pelo Centro-Sudeste brasileiro – primeiro como desbravadores que partiam em busca de escravos indígenas e metais preciosos, depois como tropeiros -, os paulistas criaram um amálgama da viola de origem portuguesa com cantos e falas indígenas e depois com as inúmeras etnias vindas da África, cada qual com sua própria percepção de mundo.
E assim devemos pensar a viola no Brasil, como um instrumento de sínteses. De sínteses musicais, linguísticas e cosmológicas.
A rítmica ancestral do cururu e do cateretê ainda persiste adaptada a inúmeras inovações que vêm surgindo, como também persiste o canto nasalado de herança indígena, tão presente no cantar caipira das folias de reis.
A viola representa hoje a síntese de um Brasil que guarda uma certa sobreposição de tempos históricos, como apontou Dante Moreira Leite. Se por um lado tem traços e procedimentos de musicalidades ancestrais, por outro ancora sua sonoridade em pleno século XXI junto a recursos eletrônicos e incorporações sonoras jamais antes pensadas no uso do instrumento. E o bonito é isso, que a viola sempre mantenha as suas raízes, mas agora tenha asas potentes para voar por onde a criatividade musical quiser e lhe permitir.
Dos artistas diversos que compõem esse disco, temos duas violeiras, além de um terceiro convite que, infelizmente, não pôde ser atendido. O número é sim, pequeno, denotando a proporcionalidade em que a viola ainda é utilizada, embora tenhamos observado que esta razão de gênero vem mudando e cada vez temos mais mulheres tocando o instrumento. Certamente esta proporção mudará nos anos vindouros em que esperamos ter a viola igualmente espalhada nas mãos de mulheres e homens.
Mas, nem por isso, o instrumento ficou pouco representado nesse álbum nos toques de mãos femininas, como poderemos ouvir e constatar na força e domínio presentes nas musicalidades de Juliana Andrade e Adriana Farias.
Entre violeiros-cantores e violeiros-instrumentistas a viola passeia por muitos segmentos sonoros da música brasileira e por que não dizer também da música internacional como o jazz e o rock?
Nesta coletânea, artistas de diversos segmentos musicais nos deixam claro que a força de elementos da cultura popular se renovam nas mãos contemporâneas das violeiras e violeiros aqui presentes certificando o caráter vivo e dinâmico das nossas tradições, uma marca da cultura do povo do Brasil.
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