Visita Autoguiada pelo Jardim das Esculturas

24/01/2024

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Sobre o Jardim das Esculturas

O Jardim das Esculturas é um espaço ao ar livre no Sesc Itaquera composto por sete obras (seis esculturas e uma instalação) e permeado pela sensação de vida verde que envolve a experiência do visitante. Essas obras fazem parte do Acervo Sesc de Arte e foram produzidas em períodos diversos, com vários tipos de materiais e confecções, mas que dialogam entre si e propõem uma conexão entre humanidade, espaço e natureza.

Instaladas em ambiente aberto e pouco convencional, as obras são um duplo convite para quem passeia pelas imediações do Lago. Primeiramente porque suas formas e cores são visualmente atraentes e despertam curiosidade. Mas também porque, ao se aproximar, cada pessoa é instigada a ser atribuidora de sentido e a abandonar o papel de mera observadora de uma obra de arte. Ela é convidada, enfim, a desempenhar um papel fundamental na construção do significado da obra.

Confira os trabalhos artísticos expostos no Jardim das Esculturas e um pequeno contexto da produção dos artistas que as criaram.

Júlio Villani: Coração e Sonhador (2002)

O artista de Marília (SP) dialoga com a geometria encontrada em trabalhos artísticos indígenas, latino-americanos e brasileiros.

Ao tentar resgatar sua infância, Villani criou duas obras que se complementam: Sonhador e Coração. A primeira traz um círculo de ferro parcialmente vazado e maciço, com os olhos semicerrados em remetimento ao sonho (pois, segundo o artista, a realidade não existe sem o sonho e o homem não existe sem a liberdade). A segunda obra é feita do mesmo material, também com partes vazadas, sendo estas, duas partes que formam quatro e uma circunferências nos átrios como se fossem texturas, veias e espaços, representando um coração. Neste sentido, coração e mente se completam, pois concebem sonho e vida, a partir do imaginário de quem está observando as esculturas.

Renato Brunello: Triuno (2003)

Renato Brunello é um artista italiano radicado no Brasil e reside em Cotia (SP) desde 1975. Uma de suas principais características é a experimentação e o uso de diferentes materiais (como madeira e mármore) para a criação de suas obras, que variam desde a escultura acadêmica até a arte tumular. Todos esses fatores constituem sua visão formal, técnica e poética.

Sua obra Triuno faz referência à trindade divina e à trindade humana (corpo, mente, alma), simbolizadas aqui, respectivamente, pelos números 1 (a peça tem um corpo único) e 3 (partes se juntam para formar o todo). A escultura é composta por estruturas que se unem, deixando entre si um espaço, um “oco”, que também faz parte da imagem total. Forma e vazio são indissociáveis e o mármore, firme e frio, ganha leveza com essa composição que alcança seu ápice no céu, infinito.

Maria Lúcia Pivetti: Bigorna IV (1994/1995)

Produzida pela artista carioca Maria Lúcia Pivetti, o trabalho parte de uma série de esculturas de ferro com essa característica vazada, de grandes dimensões e ao mesmo tempo grande leveza.

A presença das linhas é algo que amplifica, também, o diálogo com o público: é possível perpassar fisicamente a obra. Essa escultura também reflete sobre e questiona o conceito do próprio objeto que lhe dá nome: a bigorna é uma ferramenta pesada usada para moldar peças de metal. A escultura que temos aqui possui leveza em sua composição, pensa a figura, a imagem, a linguagem tridimensional, se mescla com o espaço externo e convida o público à interação.

Tânia Queiroz: Sem Título (1997)

Artista e educadora brasileira, com foco em Arquitetura e Urbanismo, arte contemporânea, mediação cultural e ensino de arte.

A obra consiste em uma estrutura de ferro, como um pequeno obelisco ou uma pequena torre em escala humana, com fios também de ferro saindo de si e pousando – se inserindo – no solo, interligando a estrutura maciça e o chão. Há aqui um contraste entre a rigidez da torre maciça e a delicadeza das linhas. Ao escolher o ferro, a artista quer propor uma reflexão sobre a passagem do tempo a partir da oxidação desse material, bem como procura devolvê-lo à natureza: o mineral, de onde derivou a obra, agora está novamente em seu espaço de origem. No espaço externo, ele dialoga com a grama, a terra, as pequenas flores, árvores ao redor e demais obras, e convida o público a se aproximar.

Ary Perez: Ballet do 4º Centenário (1998)

Artista e engenheiro civil goiano, Perez une em seu trabalho arte, design, ciência, tecnologia e se utiliza de diversos materiais, desde cerâmica até materiais da construção civil, com os quais fez a obra Ballet do 4° Centenário.

O nome da escultura remete diretamente ao grupo de dança paulistano criado em 1953, que trouxe muitas inovações no cenário cultural da época. Feita a partir de tubos de ferro e pontos de solda, Ballet do 4° Centenário traz a leveza, a dança e o movimento sinuoso, como a saia de uma bailarina.

Marcelo Moscheta: Instalação De onde vêm os nomes? (2014)

Marcelo Moscheta é um artista e educador brasileiro.

Esta instalação conta com 148 pedras (granito rosa) dispostas cada qual em uma estrutura de ferro. As pedras são identificadas com o nome de uma cidade brasileira que possui o prefixo “ita”, que em tupi antigo, da família linguística tupi-guarani, significa “pedra”. O artista evoca a força da palavra, trazendo o não existente (ou escondido, abafado) através do nome conferido à forma, que se torna presença.

A instalação ocupa um grande espaço, dialogando com o Jardim das Esculturas e com as demais obras, sendo composta pelo ambiente externo, e traz à tona a presença indígena na cultura brasileira, tão presente e ao mesmo tempo tão apagada do cotidiano ao longo da História. As pedras são uma possibilidade de reflexão sobre a relação entre arte e natureza, ser humano e ambiente, e sobre as nossas mais diversas origens.

Visita mediada
Sem dúvida, ver as obras e as instalações de perto pode ser uma experiência imersiva e repleta de sensações, mas caso você não consiga ver o Jardim das Esculturas de perto, você pode fazer uma visita online, mediada por Helena Ariano, artista visual e arte-educadora formada pela Unesp e mestra em História da Arte pela Unifesp; e Marina Spíndola, licenciada em História, mestre em História pela Unifesp e doutoranda em História da Arte pela mesma Universidade.

Todas as obras acima promovem, à sua maneira, reflexões sobre arte, espaço externo e natureza, e procuram propiciar um diálogo e uma relação com o público. O Sesc Itaquera e o Jardim das Esculturas são espaços que buscam facilitar esse contato.

O Jardim das Esculturas, localizado próximo ao Lago do Sesc Itaquera, fica aberto à visitação de quarta a domingo e feriados, das 9h às 17h. Esperamos que tenham uma boa visita e uma ótima experiência!

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