Frequentar espaços culturais e áreas verdes desde cedo estimula o desenvolvimento integral a partir da criação de novos repertórios
Por Maria Júlia Lledó
Leia a edição de JANEIRO/24 da Revista E na íntegra
Hoje o alarme do trabalho não vai tocar. Chegaram as tão sonhadas férias! Para muitas famílias, janeiro é o momento de colocar a mochila nas costas e viajar por outros lugares ou ser turista na própria cidade, visitando espaços ainda desconhecidos da vizinhança. Para as crianças, esse período de descobertas, brincadeiras e interações é tão valioso quanto aquele na sala de aula. Isso porque no momento em que passeiam por parques e praças, conhecem museus, planetários e vão ao cinema ou ao teatro, elas experimentam um salto de desenvolvimento social, emocional, físico, intelectual e cultural, tendo seus repertórios para sempre ampliados. Mas, como isso acontece?
Antes, é preciso pensar como as crianças estão sendo acolhidas por espaços públicos e de fruição cultural. Segundo a arquiteta e urbanista Dayana Araújo, infelizmente muitos desses lugares ainda são “adultocentrados”, ou seja, desconsideram a existência das crianças. “Não se tem dados explícitos sobre a ocupação de espaços públicos por crianças, isso acaba ficando mais a cargo dos municípios, que possuem desafios em produzir tais informações. Mas, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são alarmantes ao se referirem a crianças e adolescentes de até 14 anos que não têm acesso a cinemas, museus e salas de teatro. E também não quero deixar de falar sobre o fator racial, pois crianças pretas e pardas são ainda mais privadas de experiências positivas em espaços públicos e espaços de fruição artística”, destaca Araújo. De acordo com o IBGE, quase 35% dessa população vive em municípios sem ao menos uma sala de cinema, museu ou teatro.
No Brasil, há iniciativas que repensam a forma como as cidades estão dialogando com as necessidades das infâncias, a exemplo da Urban95, ação internacional da Fundação van Leer que visa incluir a perspectiva de bebês, crianças pequenas e seus cuidadores no planejamento urbano, nas estratégias de mobilidade e nos programas e serviços destinados a eles. “A cidade que se coloca como amiga das crianças é aquela que as enxerga como sujeitos de direitos. Não as exclui de nenhuma política pública, e pensa nos espaços intencionados para usufruto delas. Um espaço amigável às crianças é um espaço para todos, não é mini, nem infantilizado, mas respeita suas singularidades e possui intencionalidades para a promoção do desenvolvimento delas”, explica Dayana Araújo, que também atua como diretora executiva do Instituto Airumã, em projetos de cidades e territórios mais sustentáveis e menos desiguais.
Conhecer uma nova praça, comer pastel na feira, jogar bola no parque. Todas essas atividades feitas pelas crianças acompanhadas de seus cuidadores também podem se transformar em roteiro turístico na própria cidade. São momentos de descoberta do espaço onde se mora, da história do próprio bairro e dos sabores que também irão compor a memória afetiva de meninos e meninas. No entanto, ainda há muitas opções de passeios e roteiros “adultocentrados”, ou seja, voltados exclusivamente para a forma como os cuidadores vão absorver essas experiências.
“O direito ao turismo para o público infantil é uma espécie de desdobramento do direito ao turismo, porque as políticas públicas, de maneira geral, são sempre adultocêntricas. Atender às necessidades de um público infantil requer uma sensibilidade que nem todo profissional tem. E o que a gente vê, hoje em dia, é um turismo em que os destinos são direcionados para o consumo”, observa a historiadora Angela Fileno da Silva, especialista em turismo cultural e criadora de roteiros turísticos voltados às infâncias.
Ao pensar num passeio para crianças viajantes, a especialista destaca que o ponto de partida é a escuta. “Na maioria das vezes, o olhar que a criança produz sobre o espaço é um olhar inovador que o adulto ainda não tinha enxergado. A criança vê a partir de outra perspectiva, não só cultural, mas também de altura. Outra coisa: o turismo também tem que estar mais atento às questões de segurança, de alimentação e de infraestrutura para famílias em toda a sua diversidade”, pontua.
Outro desafio está no fato de que em muitos espaços culturais há certa dificuldade de se naturalizar a presença das crianças, sem considerar, portanto, o aspecto da cidadania, isto é, do direito à cidade que também é delas. “Precisamos ocupar esses espaços e dizer que se esse é um espaço público, os bebês e crianças de todas as idades devem ser incluídos. O turismo social já é pensado para acolher diferentes pessoas, formatos de família, corpos e faixas etárias”, destaca a historiadora, que, neste mês, conduz o curso Pequenos Viajantes [leia mais em Um, dois, três e já!], no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.
Da mesma forma que a fruição artística estimula o contato das crianças com novos conhecimentos e vivências, frequentar locais ao ar livre, como parques e praças, também traz inúmeros ganhos. “Nos espaços comunitários, como um museu ou uma biblioteca, a gente encontra outros seres humanos, o que é muito legal, mas em parques, as crianças podem ter encontros surpreendentes – às vezes com um passarinho ou uma árvore que o adulto conhece e apresenta. Aumentar esse repertório de diversidade de fauna e de flora também é muito rico”, observa a engenheira florestal Maria Isabel Amando de Barros, especialista em infâncias e natureza do Instituto Alana, iniciativa que trabalha com projetos voltados para o desenvolvimento integral da infância em diferentes espaços.
Enquanto uma criança pisa a grama, flagra um tatu-bolinha em alguma folha, corre atrás de um grilo ou brinca com outras crianças, ela desenvolve sua sociabilidade, imaginação e também sua capacidade motora. “É importante permitir que as crianças se desenvolvam em toda a sua potência, porque a gente pede, o tempo todo, que elas fiquem paradas, sentadas, ‘comportadas’. Eu acho que esses espaços favorecem o desenvolvimento motor: correr, pular, escalar, subir nas árvores, esse repertório é muito importante”, observa Barros.
O maior investimento que se pode fazer para garantir que o período de férias seja de múltiplos ganhos ao repertório das crianças ainda é o tempo. Seja um passeio pelas ruas da cidade, estimular brincadeiras e a convivência com outras crianças num parque, visitar uma exposição… No final, a vivência desses espaços, tanto de fruição artística, quanto de áreas verdes, estimula uma série de aprendizados que os pequenos levarão para a vida inteira. “As marcas das experiências são mais profundas e duradouras. Estar em locais que incentivem a curiosidade, possibilidades de criação, socialização, interpretação e ampliação de repertório é essencial para o desenvolvimento integral. E o movimento de ocupação desses espaços por crianças tende a impulsionar uma cultura de pertencimento e cuidado”, conclui a arquiteta Dayana Araújo.
No mês das férias escolares, 12ª edição do Oba! Férias! estimula a descoberta de novos lugares numa programação diversa com 30 atividades
De 6 a 28 de janeiro, o Oba! Férias! realiza ações direcionadas ao público infantil e seus responsáveis com o objetivo de promover e estimular a participação de crianças em atividades turísticas no período das férias escolares. O foco das atividades são as crianças com até 12 anos, acompanhadas pelos responsáveis, e as vagas são oferecidas por meio de pré-inscrição online no portal do Sesc São Paulo.
Na 12ª edição deste projeto que faz parte do programa de Turismo Social do Sesc São Paulo, estão previstas 30 atividades gratuitas e pagas, desenvolvidas por 22 unidades do Sesc em todo o estado de São Paulo. Uma programação que visa estimular a descoberta de novos lugares por meio de circuitos a pé, bate-papos, oficinas e passeios com transporte, familiarizando as crianças com a própria cidade e região, além de proporcionar experiências sobre a cultura de viagem.
“O Oba! Férias! tem como objetivo ampliar a participação das crianças e suas famílias em atividades turísticas. Para isso, contamos com uma programação que qualifica a experiência de conhecer novos lugares, ou mesmo de reconhecer a própria cidade de forma criativa, lúdica e educativa”, explica Fernanda Vargas, técnica da Gerência de Educação para Sustentabilidade e Cidadania do Sesc São Paulo, na área de Turismo Social.
As atividades do Oba! Férias! que acontecem dentro das unidades do Sesc são gratuitas. Para circuitos e passeios, crianças até seis anos têm gratuidade e as de 7 a 12 são beneficiadas com meia-entrada. Confira alguns destaques da programação:
AVENIDA PAULISTA
Folclore ilustrado
Oficina de estamparia de carimbos e contação de histórias inspiradas em lendas brasileiras, como Boitatá, Mapinguari e Mãe D’Água. Com Daniel Brás e Patrícia Soares.
De 14/1 a 4/2. Domingos, das 11h às 13h e das 15h às 17h. GRÁTIS.
VILA MARIANA
Mundo das Crianças (Jundiaí-SP)
Passeio pelo parque lúdico construído na extensão de uma área de preservação da represa que abastece a cidade de Jundiaí (SP). O espaço conta com brinquedos, paredes de escalada, casa na árvore, fontes de água para se banhar e até um foguete.
Dia 20/1. Sábado, das 9h às 16h. A partir de R$ 40 (com guia, mediadores e lanche).
OSASCO
Pegadas do Universo – Museu Aberto de Astronomia – MAAS (Campinas-SP)
Museu que nasceu da paixão dos precursores do Parque Pico das Cabras pela astronomia, o local oferece atrações como o Espaço Carl Sagan, o Espaço Sol e o Espaço para Observação Noturna.
Dia 6/1. Sábado, das 12h30 às 19h30. A partir de R$ 40 (com guia, mediadores e lanche).
SANTOS
Cientistas no Museu (São Paulo-SP)
Visita ao Instituto Planeta Inseto e ao Museu de Zoologia da USP, espaços educativos sobre meio ambiente que despertam o interesse pela biologia de forma lúdica.
Dias 13 e 18/1. Sábado e quinta, das 7h às 18h. A partir de R$ 40 (com guia, mediadores e lanche).
CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO
Pequenos viajantes: pensar roteiros turísticos para e com crianças
Direcionado a guias, educadores e cuidadores, o curso aborda elementos essenciais para propor um passeio direcionado a crianças, nos quesitos atratividade, mediação, infraestrutura, acessibilidade e gestão de riscos. Com Ângela Fileno da Silva e Sabrina da Paixão.
De 24/1 a 7/2. Quartas, das 15h às 17h. A partir de R$ 15.
Inscreva-se e confira a programação completa em sescsp.org.br/obaferias
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