Por mais de seis décadas, a artista visual Carmela Gross faz de sua criação o resultado do diálogo provocativo com o espaço urbano
POR LUNA D´ALAMA
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Várias relações podem ser estabelecidas entre a arquitetura, o espaço urbano e as artes visuais. O Sesc Pompeia, na região Oeste de São Paulo, é um exemplo dessa convergência. Ocupando o espaço construído originalmente em 1938, nos moldes ingleses, para abrigar uma fábrica de tambores, o local serviu para a indústria de geladeiras nos anos 1940. Três décadas depois, foi transformado pelo Sesc São Paulo, a partir do trabalho realizado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992), em um lugar que passou a congregar arte, cultura e convivência.
Essa fábrica requalificada, e consolidada como centro de lazer e difusão artístico-cultural e esportivo, torna-se um ambiente propício para dialogar com obras de artistas, como a paulistana Carmela Gross que, desde a década de 1960, atua com educação e lança um olhar incisivo e crítico para a cidade, em suas dimensões sociais e políticas. Por meio de performances, instalações, intervenções e vídeos, entre outras linguagens e suportes, Gross questiona as relações dialéticas entre obras artísticas e o espaço urbano.
Parte de sua produção dos últimos 34 anos (de 1990 a 2024) está, agora, reunida na exposição Quase Circo – Carmela Gross [Leia mais em Diálogo urbano], em cartaz até 25 de agosto, no Sesc Pompeia. A mostra oferece ao público uma leitura panorâmica da trajetória da artista, mestra e doutora em artes visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), onde também foi professora de 1972 a 2018.
“Todo o meu trabalho sempre teve um diálogo muito forte com a arquitetura e o espaço urbano. Essa exposição foi pensada não para ser uma retrospectiva da minha carreira, mas para agregar obras que conversam com a arquitetura da fábrica, com as intervenções que Lina fez neste local e com os restos de cidade que ela utilizou, que são os restos de um ciclo econômico e de um bairro operário”, explica Gross. Segundo a artista, a exposição é uma experiência fluida, em que o público pode andar em múltiplas direções, sem começo, meio ou fim. “Cada um constrói seu próprio itinerário”, destaca.
Sobre o título da mostra, Gross revela que se inspirou no circo por ser um ambiente mágico, onde tudo acontece, seja pelo lado do erro ou do acerto, do espetáculo, do riso, do equilíbrio. “O curador Paulo Miyada [diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake] e eu queríamos, de alguma forma, fazer alusão a esse universo lúdico. Chamar a exposição apenas de Circo, porém, poderia causar algum mal-entendido, pois todos temos um estereótipo dele na cabeça, e a exposição subverte essa ideia. Então, colocamos o ‘quase’ como um anteparo”, elucida a artista. Nesse galpão-picadeiro que é o espaço expositivo, está contida a ideia de algo frágil, interativo, que faz conexão direta com o público e está montado provisoriamente sob uma lona. “É um lugar efêmero para ser usufruído enquanto estiver funcionando”, acrescenta Carmela Gross.
Até 25 de agosto, Sesc Pompeia abriga exposição que reúne 13 obras em grande escala da artista visual Carmela Gross
Criadora de trabalhos carregados de significados e simbolismos que dialogam com os lugares onde são expostos, a artista visual paulistana Carmela Gross reúne 13 obras em grande escala na exposição Quase Circo – Carmela Gross, em cartaz até 25 de agosto, no Sesc Pompeia. Entre obras luminosas, instalações, intervenções e vídeos espalhados pela unidade, Gross apresenta parte de sua produção dos últimos 34 anos.
Todas as 13 obras em grande escala foram criadas como site specific, isto é, especificamente para o local, sem salas, paredes ou outras demarcações. Além disso, quatro obras (UMA CASA, O FOTÓGRAFO, ESCADAS VERMELHAS e GATO, esta a única criada para essa mostra) têm luzes de cores variadas, em referência aos famosos anúncios luminosos das cidades. “Trazem essa ideia de você ver algo de longe, a quilômetros de distância, e se sentir atraído(a)”, resume a artista.
Para o curador, Paulo Miyada, caminhar por toda a exposição é como se distrair e observar o circo durante o dia: com lona, terra, cordas. “Cada uma das obras é feita da junção de objetos, mas a mostra como um todo se torna uma grande instalação de obras que se encontram e se transformam na presença das demais”, explica.
Segundo Juliana Braga de Mattos, gerente da Gerência de Artes Visuais e Tecnologia do Sesc São Paulo, Carmela Gross é uma artista de expressiva atuação na cena brasileira, provocando, com suas experimentações poético-espaciais, inovadoras acepções de objetos e materiais do mundo. “Quase Circo acaba por alinhavar, simultaneamente, muitos pontos da trajetória da artista à sua presença na história do próprio Sesc São Paulo”, finaliza.
POMPEIA
Quase Circo – Carmela Gross
Curadoria de Paulo Miyada.
Até 25 de agosto. Terça a sábado, das 10h às 21h. Domingos e feriados, das 10h às 18h. GRÁTIS.
sescsp.org.br/quasecirco
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