Corporeidade negra nas artes gráficas

14/05/2024

Compartilhe:

De 22 a 26 de maio acontece a primeira edição do Festival Sesc Culturas Negras em 27 unidades do Sesc São Paulo. O festival celebra a potencialidade como força motriz, reconhecendo, exaltando e evidenciando a cultura afrodiaspórica, e promovendo o diálogo entre passado, presente e futuro. 

Para dar força à comunicação do projeto e enfatizar os conceitos e valores que conduzem a programação, o designer Fabiano Procópio¹ desenvolveu uma identidade visual que busca celebrar a visualidade e potência negra, além de propor uma resposta gráfica para a ideia de corporeidade, que pode ser compreendida como a conexão entre o corpo e mundo ao seu redor.
 
Para construir esta resposta, o designer utilizou como referência as obras dos artistas baianos Agnaldo dos Santos² (1926-1962), reconhecido por suas esculturas em madeira e considerado um continuador da tradição africana no Brasil, e Rubem Valentim3 (1922-1991), escultor, pintor e professor, que incorporou elementos geométricos inspirados nas religiões afro-brasileiras em suas obras, sendo uma referência no concretismo nacional. Outra influência foram as padronagens presentes nos trajes do culto Egungun4, uma celebração da ancestralidade oriunda da região de Oyó na África, que hoje compreende parte da Nigéria e parte do Benin, no sudoeste africano, e manifesta tanto a divindade quanto os antepassados, reforçando os laços e buscando reviver o princípio da existência coletiva.

A partir destas referências foram construídos elementos gráficos que, ao serem combinados, criam diferentes composições para cada peça. Em determinado momento, observaremos um monumento-altar e, acima dele, o eclipse solar, enquanto em outra peça, a configuração dos elementos nos apresentará um machado.

A máscara afro-brasileira é o único elemento que se repete em todas as peças, fazendo referência aos cartazes dos festivais africanos de arte, como a FESTAC, em que a máscara africana é protagonista na linguagem visual.

A tipografia utiliza três fontes distintas que criam contraste entre si, sendo que a fonte da marca se destaca pelo espaçamento reduzido entre as letras. Por fim, a paleta de cor escolhida opta pela vivacidade do amarelo para remeter a celebração e utiliza o preto como uma ruptura contrastante. 

A identidade produzida para o Festival Sesc Culturas Negras propõe que os saberes negros encontram modos de expressão por meio de corporeidades diversas e assim têm o corpo como um lugar de inscrição da memória, por isso, procura uma construção múltipla, coreográfica e interessada em diferentes configurações dos elementos gráficos. 

¹Fabiano Procópio é designer e proprietário do estúdio Namibia Chroma, onde desenvolve projetos de identidade visual para empresas como Nike, Tomie Ohtake, Sesc São Paulo, Editora Fósforo e Bienal de São Paulo, assim como colaborou em trabalhos com Grace Passô e Diane Lima. 

²Agnaldo dos Santos (1926-1962) é um escultor baiano nascido na ilha de Itaparica. Suas esculturas são produzidas em madeira e já estiveram na Bienal de São Paulo (1957), Salão Nacional de Arte Moderna, MAM e na Petit Galerie do Rio de Janeiro. O artista recebeu o prêmio internacional de escultura no 1° Festival Mundial de Arte e Cultura Negra, em Dakar, Senegal (1966), e sua obra é considerada uma continuidade no Brasil da escultura africana. 
 
3Rubem Valentim (1922-1991) nasceu em Salvador e iniciou-se nas artes visuais em 1940, como pintor autodidata. Foi escultor, pintor, gravador e professor. Reconhecido pelas composições geométricas, sua obra explora a diversidade da cultura nacional, criando emblemáticos símbolos afrobrasileiros. É considerado um mestre do concretismo no Brasil, sua obra incorpora figuras geométricas baseadas nos signos iconográficos das religiões afrobrasileiras. 

4 O culto a Egungun é uma cerimônia à ancestralidade, originário de alguns países do continente africano, especialmente na região de Oyó, hoje compreendido como sudoeste da Nigéria e sudeste do Benim. Egungun é ao mesmo tempo um orixá e um conjunto de ancestrais masculinos, antepassados habitantes do mundo espiritual (Orun), que podem ser manifestados na terra (Aiyê) a partir da incorporação, durante os cultos dedicados a esta divindade. De acordo com o Alagbá Babá Mariwó Balbino Daniel de Paula, do Ilê Agboulá, “o culto a egungun é o culto à ancestralidade, é reviver o princípio da existência coletiva, guardar os laços de parentesco, entre as famílias e entre os habitantes do globo terrestre”. 

VOLTAR AO TOPO

Referências: 
Almeida e Dale. Agnaldo Manuel dos Santos. 2024. Disponível em: https://www.almeidaedale.com.br/pt/artistas/agnaldo-dos-santos. Acesso em: 9 maio 2024. 

Escritório de Arte. Rubem Valentim . 2024. Disponível em: https://www.escritoriodearte.com/artista/rubem-valentim. Acesso em: 9 maio 2024. 

Cleidiana Ramos. Balbino: “O culto a egungun preserva o laço coletivo”. Portal Géledes. 2016. Disponível em: https://www.geledes.org.br/balbino-o-culto-egungun-preserva-o-laco-coletivo/. Acesso em: 9 maio 2024.  

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.