Noite de 5 de abril de 1998, Sesc Vila Mariana, São Paulo. 645 pessoas tiveram o privilégio de ouvir João Gilberto. Show de voz e violão presenciado com atenção e respeitoso silêncio, à exceção de alguns instantes em que o artista convida a plateia a se transformar em coral. Foi uma honra para o Sesc ter proporcionado um momento tão extraordinário. É ainda mais gratificante estender a experiência agora a milhares de ouvintes. O lançamento deste Relicário: João Gilberto (ao vivo no Sesc 1998) vem aumentar a lista dessas verdadeiras raridades que são as gravações de apresentações ao vivo do cantor.
O registro em áudio e imagem de parte da programação faz parte da política de preservação da memória institucional e afetiva do Sesc SP. Muitas peças desse acervo documental têm o potencial de se tornarem obras de interesse geral. No caso do show de João Gilberto, tivemos a grata surpresa de nos depararmos com uma gravação excepcionalmente bem-feita. O som claro e limpo é consequência de uma feliz conjunção de fatores, começando pelas mais altas exigências técnicas do músico perfeccionista e passando pelo trabalho primoroso dos técnicos de som do teatro do Sesc Vila Mariana, que acabara de ser inaugurado.
Em comemoração aos 25 anos do espetáculo, lançamos a gravação remasterizada, disponível nas plataformas de streaming e em formato físico. Afinal, trata-se de uma obra de grande valor histórico, que deve ser não apenas amplamente divulgada, mas guardada, por todos os amantes da música brasileira, que reconhecem o papel proeminente e fundador do pai da bossa-nova e reinventor do samba.
O álbum inaugura a coleção Relicário, composta por espetáculos gravados em nossas unidades, registros que fazem parte de nosso acervo documental. O lançamento do álbum reforça o compromisso institucional com a valorização do patrimônio imaterial do país e com a democratização do acesso aos bens culturais. Convido a todos a ouvir, de uma só vez, essas 36 canções na voz e no violão do bruxo de Juazeiro, apelido cunhado por Caetano Veloso, que soube descrever a maestria do artista ao cantar a nata da MPB: “Melhor do que isso, só mesmo o silêncio. Melhor do que o silêncio, só João”.
Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo
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