Leia a edição de novembro/22 da Revista E na íntegra
Por Luna D’Alama
Um homem comprometido com as artes cênicas, atuante nos dois lados do Atlântico e capaz de se reinventar no trabalho, tanto pela criatividade quanto pela associação com outros talentos. Assim foi Gianni Ratto (1916-2005), cenógrafo, diretor, ator, iluminador, figurinista e escritor italiano que, em 1954, aportou no Brasil e por aqui ficou até o fim da vida. Nascido na cidade litorânea de Gênova, filho de uma pianista, desertou das tropas de Benito Mussolini na Segunda Guerra Mundial e migrou para o norte, rumo a Milão.
Lá, fundou o Piccolo Teatro, onde fez fama idealizando cenários grandiosos em um palco estreito, e então foi convidado pelo Teatro alla Scalla para ocupar o cargo de vice-diretor técnico. Em óperas, trabalhou com ícones como a soprano greco-americana Maria Callas (1923-1977) e, em balés, com o compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971).
“A visão da cenografia e do espetáculo é condensada em uma coisa única. Quando um espetáculo é realmente unitário, a gente não se lembra se tem cenografia, se tem figurino”, resumiu Ratto no documentário A Mochila do Mascate (2005), dirigido por Gabriela Greeb e com roteiro, argumento e produção executiva de Antonia Ratto, filha do artista.
Em busca de novos desafios e oportunidades na direção teatral, Ratto desembarcou no Brasil a convite dos atores Maria Della Costa (1926-2015) e Sandro Polloni (1921-1995). Ao lado de Fernanda Montenegro, Fernando Torres (1927-2008), Ítalo Rossi (1931-2011) e Sérgio Britto (1923-2011), fundou o Teatro dos Sete, no Rio de Janeiro. “Gianni foi fundamental para a reconstrução do teatro italiano no pós-guerra e pela renovação do teatro brasileiro. Tinha bases da arquitetura, dividia o espaço cênico de maneira incrível, sabia materializar verdadeiros prodígios. Aqui, encontrou um grupo de atores sedentos e um ambiente que esperava alguém como ele”, destaca a historiadora da arte, crítica e curadora Elisa Byington, que junto a Antonia Ratto organizou o livro O Teatro de Gianni Ratto – Mago dos Prodígios (Edições Sesc São Paulo, 2022) [Leia mais em Bravo, Ratto!].
Inclusive, a primeira peça em que Fernanda Montenegro atuou como protagonista foi A Moratória (1955), com direção do italiano. “Ratto nos deu essa consciência cultural, educacional do teatro. No meu caso, ele pegou uma massa bruta, predisposta para o palco, e não me domesticou, pelo contrário: abriu a minha vida, abriu o conceito que eu tinha sobre fazer teatro. Nós fomos a primeira turma que ele pegou no frescor de se posicionar e se confirmar como diretor”, disse Fernanda no documentário A Mochila do Mascate (2005).
Em 2017, para comemorar o centenário de nascimento do artista, o Sesc Consolação realizou a exposição Gianni Ratto – 100 anos, com curadoria de Elisa e Antonia. “Meu pai dizia que era um artesão do teatro, não gostava de ser chamado de artista. Valorizava a autenticidade das coisas simples, nunca quis se colocar no lugar de mestre, apesar de tê-lo sido para muitos. Foi uma figura íntegra e, fundamentalmente, humanista. Alguém que quis contribuir para a construção de uma identidade teatral verdadeiramente brasileira”, sintetiza Antonia.
Lançamento das Edições Sesc São Paulo, O Teatro de Gianni Ratto – Mago dos Prodígios (2022) delineia a biografia do cenógrafo e diretor genovês e documenta, com seus desenhos e fotografias de cena, o extenso trabalho que ele realizou em teatros da Itália e do Brasil. A obra reúne cópias de croquis que compõem acervos de teatros como Piccolo, alla Scala, Opera di Roma e Maggio Musicale Fiorentino, além de estudos e processos feitos no Brasil, em décadas mais recentes, que pertencem ao Instituto Gianni Ratto ou a acervos de outros artistas.
“O livro dá uma ideia abrangente da totalidade de sua obra, que atravessa dois continentes e seis décadas. Somente na Itália, em menos de dez anos, meu pai fez mais de 120 espetáculos. Incluímos espetáculos históricos, mas também outros dos quais tínhamos mais registros, que explicitam bem seu processo de trabalho. Buscamos recriar, para o leitor, o universo de cada montagem”, explica Antonia Ratto, que também é a designer e responsável pelo projeto gráfico do livro. “Acredito que essa obra, ao preservar a memória de uma parte do nosso teatro, contribui para um cenário maior de valorização da memória como condição fundamental para a construção do nosso futuro”, ressalta.
Quem escreve a orelha é o ator, diretor e autor Marcos Caruso: “Lendo este livro, emociono-me com as encenações ao ar livre em Florença e Veneza, com o mestre da luz transformando ‘escadas e janelas em casebres, tribunal e catedral’, manuseando o ‘pincel ao ritmo das óperas’ (…) Mas minha emoção torna-se maior quando, neste livro, leio o que vi: um homem honrar uma das suas mais assertivas afirmações: ‘O segredo da vida é o encontro de gerações’”.
SERVIÇO
O Teatro de Gianni Ratto – Mago dos Prodígios (Edições Sesc São Paulo, 2022)
Organização: Antonia Ratto e Elisa Byington
Apoio: Instituto Gianni Ratto
Confira uma galeria de imagens que compõem o livro O Teatro de Gianni Ratto – Mago dos Prodígios (Edições Sesc São Paulo, 2022), como croquis, desenhos cenográficos e fotos de palco:
A EDIÇÃO DE NOVEMBRO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!
Neste mês, discutimos a acessibilidade em museus e espaços expositivos. Para além de uma arquitetura acessível, instituições culturais apostam em recursos táteis, auditivos e visuais para ampliar a fruição e acolher públicos cada vez mais diversos. Conheça as políticas de acessibilidade de espaços como a Pinacoteca, Museu do Ipiranga, Museu do Futebol e unidades do Sesc São Paulo.
Além disso, a Revista E de novembro/22 traz outros conteúdos: uma reportagem que destaca a potência da criação coletiva e processual nas artes cênicas; uma entrevista com Eliseth Leão, que defende que a conexão com a natureza ajuda na manutenção da nossa saúde; um depoimento de Gilberto Gil, que se reiventa aos 80 e compartilha conosco memórias, vivências e inspirações; um passeio por croquis, desenhos de cenografia e fotos de palco que celebram o legado do italiano Gianni Ratto; um perfil de José Saramago (1922-2010), escritor português que faria um século de vida; um encontro com a diretora e dramaturga Joana Craveiro, da companhia portuguesa Teatro do Vestido; um roteiro por 5 espaços no estado de SP adornados por azulejos; um texto inédito da prosadora mineira Cidinha da Silva; e dois artigos que fazem um balanço sobre os 10 anos de criação da Lei de Cotas.
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