MANIFESTA | Criação poética da Slam das Minas, com ilustrações de Ju Vicentis

01/07/2023

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Leia a edição de julho/23 da Revista E na íntegra

Quando a útera slam das minas me gestou

foram meses e meses

até nascer

e antes de ser poeta

já era slam das minas

me carregaram no colo

nutriram a minha escrita

até que eu finquei meus dois pés no mic e nasci

olhei em volta e me vi

cheia de histórias

poesia e memória

de cada vez que essa slam me foi casa

sou grata e carrego

cada feitiço que lançamos

no palco

no mundo

essa slam me fez

brotei com palavras

ainda que engasgadas

fui caminhando com elas e percebendo

slam das minas é mundo

onde todes podem existir

Por Ibu Helena

Escrevo enquanto voo

Sustentando-me no fluxo constante

das criativas amigas, parcerias

Que o mundo poesia

Me deu

Chorando enquanto vendo lenços

me recordo do tempo

Em que escondia meus escritos,

Meus diários, meu eu

Escrevo enquanto vou

Flor da moita autodidata

Sons e literatura

Distancio do ideal físico

Do senso estético, constante

Fuga 

Minha voz rasga censuras

Minha escrita costura paz

faz as pazes com a vida

Fito-a com dignidade

Sensata e sagaz

Eu vou.

Livre e leve,

Carregando minha própria

bagagem

Aqui encontrei o lugar em que vale pertencer

Por Aflordescendente

A flor que nasce

quando uma slam brota

semeia versos que lutam

e amam

por dias mais justos.

Nesse chão não pisa

robôs de mito,

escrotos de jaleco,

a cisgeneridade masculina

tóxica que mata.

Recue seus privilégios do caminho que estamos passando

com a nossa voz.

Em nome das mães,

dos pais de útero,

pelas crias,

por todas as corpas borboletas.

Pedimos licença e a bença,

das Iabás, Maria Mulambo,

ciganas e encantadas,

para ocuparmos os livros,

o Congresso

e as memórias.

Por Carolina Peixoto

desde 2016

plantando novas narrativas

de semente lírica

e atravessamentos literários,

caminharemos,

políticas

em pé!

bocas e mais bocas abertas

na utopia slam das minas.

salário à nossa altura,

comida na nossa mesa,

respeitem nossas crias.

nos representaremos vivas!

no palco ou no palanque

e se disserem não

tanques

de guerra, armamento poético

na cabeça dos sem meta.

aqui se constrói futuro.

de minas, monas e monstres

que fizeram da voz e do corpo

arma e armadura

que é cura, mas não se engane com nosso oráculo

porque caneta

quando encontra obstáculo

também pode matar.

Por pam araujo

Somos corpes-poema

com a língua afiada e na ponta da caneta vivências,

e assim como exu nós abrimos caminhos,

e isso é bem mais que falar sobre temas.

Realizamos recorte de gênero,

por entendermos que é necessário falar sobre vidas,

e o encontro de nossas escritas é sobre afronte,

mas também é sobre cura de feridas.

Que nossas falas-diversas,

abrace quem estiver de peito aberto,

nos faremos acolhimento para quem estiver longe e pra quem estiver por perto,

colaremos juntas na busca de unir-versos.

E levantem-se todos os gêneros dissidentes,

pois isso é mais que um manifesto,

é manifesta!

Por Apêagá

Força motriz que consta somos a Slam das Minas, monas e monstres!

pam araujo é escritora, produtora cultural e organizadora da Slam das Minas SP. Integra o coletivo Poetas Ambulantes, é sócia da Baderna Literária e autora dos livros Buraco (Baderna Literária, 2017) e Hídrica, palavra em estado de mergulho (Casa Philos, 2021).

Carolina Peixoto é poeta, produtora cultural, sócia da Baderna Literária, integrante da Slam das Minas SP e do coletivo Poetas Ambulantes. Autora dos livros MEXE A MÃO (2018), DEZluas (2017) e BOLA, LÁPIS E PAPEL (2013).

Apêagá é poeta-escritora, slammer, slamaster, performer e produtora cultural. É pioneira na cena poetry slam no Ceará, tendo idealizado o Slam da Quentura e o Slam CE. Seu primeiro livro é Me Faço Tempestade Para Não Caber em Redemoinho (Substânsia, 2022).

Ibu Helena é pedagoga e encontrou sua arte no sarau e no slam. Além de integrante da Slam das Minas SP, é autora de três zines: Sobre tantas coisas, Toda gota é mar comigo e Tire os sapatos antes de entrar.

Aflordescendente é artista independente, poeta, compositora, MC e slammer atuante na cena desde 2017. Faz parte dos coletivos Kush Crew Batalhas de Rima e Slam das Minas SP.

Ju Vicentis é ilustradora, designer gráfica e artista visual. Já integrou o time do projeto Defesa Pessoal pras Minas e participou da organização de saraus em São Paulo.

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