Por Claudio Eduardo*

Oi. Como você se sente?

Este projeto começa assim. No centro de um marco histórico na saúde mundial, mergulhadas/os no mar de notícias vindas de todas as partes, tendo que nos adaptar rapidamente a novos hábitos, entre eles o distanciamento social, perguntávamos: como você se sente?

Já não esperávamos mais uma resposta automática do tipo: “Bem, e você?”. Estávamos mais atentas/o e dispostas/o a ouvir e falar sobre o que realmente sentíamos sob os efeitos daqueles dias e, mesmo sem saber como, de alguma forma, ansiávamos por algo a fazer para que todas e todos tivessem algum conforto diante do que vivíamos naquele março de 2020.

“Queríamos um pouco de acolhimento, conforto, amenizar as sensações negativas, fazer com que as pessoas reconhecessem, encarassem e lidassem melhor com as sensações que estavam sentindo. Que soubessem que existe um lugar quentinho no coração de cada um/a e que lá dentro, elas mesmas seriam capazes de achar tudo isso”.

Claudia Pires, educadora do Sesc Bertioga.

Uma mensagem se fez clara: fique em casa. Este era o gesto mais seguro não só para aqueles que se protegeriam em seus lares, mas também para quem não poderia fazer o mesmo por exercer alguma atribuição imprescindível para a manutenção dos serviços básicos ou mesmo porque suas condições sociais não lhes permitiam tal privilégio. Somado a isso, cuidados como lavar as mãos e o uso do álcool em gel e da máscara deixaram de ser apenas ações pessoais e logo se tornaram responsabilidades coletivas. Cuidar de si era também cuidar do outro. 

Cuidado, aliás, era o tema da programação do Sesc Verão daquele ano, da qual o Me Editar fez parte. Nesta edição, o ato de cuidar de si, do outro e do mundo foi representado nas mais diversas atividades propostas por todas as Unidades do Sesc São Paulo.

Tudo muito doido… até que, trocando ideias com Andréa, entendemos que uma das formas possíveis de minimizarmos os danos desse cenário tão incerto, seria o autocuidado. Que talvez devêssemos ao menos aproveitar o que nos estava posto e tirarmos esse tempo para entendermos que a pausa, além de necessária, poderia nos favorecer em um processo de auto observação, reflexão, reconhecimento das sensações, dos sentimentos e o reestabelecimento da atenção para o presente. Neste sentido, algo que nos era comum e vinha nos ajudando a lidar com emoções até anteriores à pandemia poderia ser nossa proposta para o público das redes do Sesc Bertioga: a meditação.

“Quando Claudio me convidou para criarmos algo em conjunto, fiquei feliz, pois a pandemia estava me provocando uma tristeza de não ter mais coisas para fazer, além de arrumar a casa e participar de reuniões. O que a principio seria uma coisa caseira e simples, foi tomando corpo, com as várias mãos que costuraram ideias, sonhos, desejos e, claro, conteúdos. Este processo me trouxe a alegria de construir novamente um produto dentro do meu escopo de trabalho, ao passo que eu via nos olhos das meninas um brilho por poderem compartilhar seus conhecimentos, bem como a disposição do menino quando finalmente viu os setores trabalharem em conjunto do início ao fim, aproveitando os conhecimentos de todes para levar ao público novas experiências”.

Andréa Mello, monitora de esportes do Sesc Bertioga.

Assim surge o Me Editar, projeto idealizado e produzido a partir do encontro inédito entre as equipes de comunicação e programação do Sesc Bertioga. Inédito, pois tudo ali naquele momento assim era. Muitas pessoas em sua home (casa), que há pouco tempo e repentinamente havia virado office (escritório). A pandemia rompeu, ainda que momentaneamente, com as estruturas do trabalho, bem como fez com outras áreas da vida. E só assim, sem setor, sem cartão de ponto e sem sequer alguém pedir, quase que organicamente, criamos o Me Editar. Deste modo torto e pouco oficial de fazer, aproveitamos o tempo qualificado e a liberdade que nos permitimos para compartilhar gratuitamente nossos distintos conhecimentos e os colocamos à disposição do público de nossas redes sociais, no intuito de oferecer a ele novas experiências de cuidado com corpo e mente. O Me Editar nasce e se desenvolve sobre nossa capacidade de adaptação, tantas vezes posta à prova em 2020.

“Descobri que muitas pessoas, inclusive colegas, funcionários de outros setores do Sesc, se interessavam pela meditação, mas não sabiam por onde começar. Enxerguei ali uma possibilidade, algo que mostrasse que a prática era muito mais acessível e simples do que imaginavam. Foi quando soube que o setor de comunicação do Sesc estava propondo algo parecido, logo pensei: isso vai ser lindo!!”.

Helena Baur, educadora do Sesc Bertioga.

Diferentemente do que muita gente pensa, o ato de meditar não nos impõe propriamente um estado de estagnação ou a reprodução monótona de processos pré-programados com começo-meio-fim determinados. Meditar é verbo, é ação, requer coragem, determinação e, ao mesmo tempo, nos exige gentileza, respeito e parcimônia. Nossa mente, feito um livro pode ser, é uma obra aberta que inclui, exclui, substitui elementos a todo momento, reorganizando seus capítulos, influenciando diretamente em nosso corpo como um todo e nos recondicionando para uma nova edição de nós mesmos.
 

“Estava eu no sofá de casa em minhas buscas de como germinar caroço de melancia, quando recebi um convite de reunião para falarmos sobre meditação. Ao longo dos muitos encontros de ideias, transformações, choros e reflexões, percebi que, de fato, meu conhecimento e vivência poderiam ajudar as pessoas a se reencontrarem consigo mesmas, com suas essências. O que eu não imaginava era que eu, tão dona de mim, também me transformaria”.

Juliana Paes, educadora do Sesc Bertioga.

E quer saber do mais legal? Somos nossos próprios editores. Somos nós que organizamos, selecionamos, descartamos e coordenamos nossas cenas. Podemos decidir ser texto, partitura, estampa, disco, pessoa, casa, pintura, uma obra impressa de uma só tiragem ou em várias, formando um conjunto de exemplares impressos periodicamente, podendo estrear todos os dias algo novo.

Dentre os muitos benefícios que nos oferece a meditação, um dos mais nobres é a autonomia para tomada de decisões baseadas em nossas reais convicções e sabedoria.
 

“Ao longo dos nossos encontros, fui entendendo a importância de trazer para as pessoas informações e conhecimentos simples, porém muito bem embasados em uma cultura oriental tradicional e milenar que, ao serem incorporados dentro da nossa rotina, podem nos trazer mais clareza, calma e consciência das nossa ações, emoções e dos nossos sentimentos. Nos ajudando a lidar melhor com as situações do dia a dia, agindo de maneira mais tranquila e convivendo com mais harmonia”.

Marcela Sola, educadora do Sesc Bertioga.

A partir de uma linguagem simples e instigante, buscamos facilitar e provocar a compreensão sobre meditação, ampliando a interação com o público, apresentando a ele uma série com 17 vídeos intercalados, com publicações correlacionadas, utilizando muitos dos recursos presentes nas redes sociais como imagens, gifs, pequenos filmes, podcasts, reportagens etc.

“Durante todo o processo, foi construído um universo de possibilidades de ações para que o público se descubra capaz de adotar práticas meditativas, estar mais presente no aqui e agora e conseguir expandir seu olhar para um espectro da vida mais positivo”.

Aline Santos, monitora de esportes do Sesc Bertioga.

Além disso, o Me Editar contempla a criação e a alimentação de um grupo no Facebook para que a troca com o público ocorra de uma maneira mais direta e colaborativa. É importante dizer que o projeto aconteceu de forma bastante orgânica e processual. A todo tempo, estivemos atentos às possíveis respostas do público para, além de respondê-los prontamente, seguir alimentando os próprios conteúdos a partir dessas devolutivas.

O mundo está agora numa suspensão. E não sei se vamos sair dessa experiência da mesma maneira que entramos. É como um anzol nos puxando para a consciência. Um tranco para olharmos para o que realmente importa”.

Ailton Krenak

Convidamos você a se perceber e entender o que sente. Depois disso, com gentileza e atenção, podemos seguir essa viagem rumo ao autoconhecimento, olhando para suas tarefas diárias, cuidando de seu tempo presente.

Vamos meditar. Você vem?

*Claudio Eduardo é editor web do Sesc Bertioga.