“Que Lugar é Esse?” estimula visita a patrimônios históricos e revela novas facetas da cidade
Para estimular visitas a edifícios históricos, Sesc Ribeirão Preto distribuirá mapa e postais durante atividades do Turismo Social
De frente para a Praça XV de Novembro, um palacete de 19 cômodos, na esquina das ruas Duque de Caxias e Tibiriçá, atrai o olhar de quem circula diariamente pelo Centro de Ribeirão Preto. Embora familiarizada com a fachada burguesa característica da década de 1920, a maioria jamais entrou ali ou conhece a história do sobrado construído para servir de lar a um prefeito da época.
Na mesma calçada, a poucos metros do Palacete Camilo de Mattos, está a biblioteca Sinhá Junqueira. A casa de dois andares foi erguida no início da década de 1930 sob influência neoclássica e elementos do período neocolonial brasileiro. Ali, moravam o maior produtor de açúcar das Américas e sua esposa.
Quase em frente, está o antigo Palace Hotel, o primeiro dos três edifícios do Quarteirão Paulista, um conjunto histórico formado pelo Theatro Pedro II, pelo Edifício Meira Júnior, que abriga a choperia Pinguim, e pelo Palace, onde hoje funciona um centro cultural mantido pela prefeitura.
Embora não pertençam ao Quarteirão Paulista, fazem parte do mesmo complexo arquitetônico o Edifício Diederichsen, primeiro prédio vertical da cidade e um dos pioneiros no Brasil, localizado em frente ao Meira Júnior, além das praças XV de Novembro e Carlos Gomes, que ficam em frente aos prédios do Quarteirão Paulista e são separadas entre si apenas pela rua Visconde de Inhaúma.
Do outro lado deste complexo, em frente à praça Carlos Gomes, está o prédio que hoje abriga o Museu de Arte de Ribeirão Preto. Em estilo eclético, o sobrado construído em 1908 também fica a poucos metros do Palácio Rio Branco, que serviu como sede da prefeitura entre 1917, quando foi inaugurado, até 2022.
A alguns metros dali está a Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, com sua arquitetura neogótica e nave decorada com pinturas e vitrais que retratam a vida dos santos católicos. Fechando o circuito, estão os prédios do Mercado Central e do Sesc Ribeirão Preto, expoentes da arquitetura moderna, um projetado nos idos de 1950 e outro no início da década seguinte.
Que Lugar é Esse?
Cada fresta desses edifícios, sobrados e palacetes oferecem um novo olhar sobre a cidade. Um olhar que revela facetas de uma Ribeirão Preto formada de múltiplas temporalidades e histórias. Estas construções estão na rota do projeto ‘Que Lugar é Esse?’, criado pelo Sesc Ribeirão Preto para colaborar com o direito à cultura, ampliando o acesso da população aos bens públicos, além de valorizar o patrimônio histórico da cidade.
“Queremos que o maior número possível de pessoas tenha oportunidade de conhecer e frequentar espaços significativos da cidade como praças, museus ou prédios tombados que carregam em si parte da nossa história”, disse o turismólogo Vitor Hugo Vieira, responsável pela programação de Turismo do Sesc Ribeirão Preto.
Vitor conta que o projeto consiste na criação de 13 cartões-postais, cada um contendo uma breve descrição de um patrimônio histórico da região central e seu endereço. Eles serão distribuídos de graça, e juntamente com um mapa do Centro de Ribeirão Preto, durante as atividades do Departamento de Turismo Social – passeios, oficinas, bate-papos etc.
A descrição em cada postal não revelará diretamente o nome daquele prédio, mas trará informações sobre ele. No verso, será exibida a imagem de um detalhe do patrimônio em questão. Com textos da escritora e jornalista Ana Flávia Lima e imagens do designer e ilustrador Denis Tchepelentyky, os postais devem instigar a curiosidade de quem não conhece aquele local, estimulando o interesse e o desejo de visitá-lo.
Para a pesquisadora e doutora em História Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa, do Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais, são vários os motivos que levam tanta gente a circular com frequência pelas imediações de um equipamento cultural sem sentir segurança para frequentar ou mesmo visitar por uma única vez aquele local.
“A cultura é um direito social, um direito humano, mas não basta existir um prédio e uma atividade acontecendo ali. Há vários tipos de barreiras a serem retiradas para que as pessoas desfrutem do direito à cultura; desde as barreiras arquitetônicas, que impedem o acesso de pessoas com pouca mobilidade, até barreiras sociais, educacionais e econômicas. Para derrubar cada uma delas são necessárias estratégias específicas”, afirma Lilian.
Entre os impedimentos, ela ressalta a falta de comunicação realizada de maneira abrangente, a falta de recursos da maioria para a compra de ingressos e de vestimentas apropriadas e, sobretudo, a ausência de políticas públicas para derrubar estes e outros obstáculos. “Quando a sociedade civil assume o papel de criar um projeto de educação patrimonial, como este que o Sesc apresenta, é da maior importância para todos, todas e todes. É um passo importante para a derrubada das barreiras, principalmente para a população de baixa renda”, comemora.
Pertencimento
Vitor explica que, mais do que conhecer e se apropriar da história contida nos prédios públicos descritos nos postais, o projeto ‘Que Lugar é Esse?’ também pretende estimular o sentimento de pertencimento, ou seja, dar a alguém a percepção de que ele faz parte de uma comunidade, de uma nação.
O direito à cidade, conforme conceito desenvolvido pela ONU, “consiste no direito de todos os habitantes, presentes e futuros, temporários e permanentes, de usar, ocupar e produzir cidades justas, inclusivas e sustentáveis, aldeias e assentamentos, entendidos como um bem comum essencial para uma vida plena e decente”.
“O sentimento de pertencer se desenvolve a partir de vivências, de experiências reais e afetivas e por meio da convivência entre as pessoas de todas as idades num espaço público”, lembrou o turismólogo.
Design e ilustrações: Denis Tchepelentyky (denis-t.com)
Fotos: Vinícius Barros
Os 13 postais
Além de um mapa, o combo do projeto contará com 13 cartões-postais sobre os principais equipamentos da região central de Ribeirão Preto:
Sesc Ribeirão Preto
Um prédio de 6 mil m² ocupa um quarteirão estratégico da região central e abriga um projeto de transformação social. Expoente da arquitetura moderna, o projeto arquitetônico foi elaborado no início da década de 1960 e conta com piscinas, vestiários, bicicletário, salas de arte e educação, biblioteca, espaço de exposições, auditório e quintal cultural, além de jardins internos e externos. Chamado de ‘arquiteto cidadão’, Oswaldo Corrêa Gonçalves, autor do projeto inovador, foi também gestor cultural e ativista em prol da profissão, que encarava o edifício e a cidade como instrumentos transformadores da realidade coletiva.
Rua Tibiriçá, 50, Centro
De terça a sexta-feira, das 13h às 22h
Sábado, domingo e feriado, das 9h30 às 18h30
Biblioteca Sinhá Junqueira
Sob influência neoclássica e elementos do período neocolonial brasileiro, um casarão foi construído no início da década de 1930 para servir de morada ao maior produtor de açúcar das Américas e sua esposa. Mas, a partir de 1961, quando o casal sem filhos morreu, o imenso patrimônio que possuíam foi destinado a uma fundação social criada por eles. E, desde então, o sobrado com jardim na entrada e espaços iluminados por vitrais tornou-se guardião das milhares de histórias e saberes presentes nos livros que hoje ocupam o espaço. Tudo à disposição do público leitor, que frequenta gratuitamente o local.
Rua Duque de Caxias, 547, Centro
De terça a sábado, das 9h às 18h
Palacete Camilo de Mattos
Construído na década de 1920, o palacete de esquina era a residência de um prefeito de Ribeirão Preto. De frente para a Praça XV de Novembro, a arquitetura burguesa característica do início do século passado atrai a atenção de quem circula pelo Centro, assim como o tamanho da propriedade, que ocupa uma área de mais de 10 mil m² e conta com 19 cômodos e um quintal que se derrama para a rua Tibiriça. Madeiras, ferragens, ladrilhos e vitrais, quase tudo veio da França e agora passa por restauro. Hoje, apenas a fachada pode ser vista entre os tapumes da obra de reforma e restauração que renovará todo o sobrado.
Rua Duque de Caxias, 625, esquina com a rua Tibiriçá
Centro Cultural Palace
Durante muito tempo, ele foi um hotel de luxo, finalidade para a qual foi construído, em 1926. Seus aposentos e salões, espalhados em dois andares superiores e no térreo, hospedavam a elite brasileira. Sua construção foi impulsionada pela vida boêmia, instalada na cidade no início do Século 20, quando o francês François Cassoulet fundou cassinos e casas noturnas em Ribeirão Preto. Por sua vez, sua origem impulsionou o surgimento dos outros dois prédios que formam o Quarteirão Paulista. Hoje, ele foi transformado em centro cultural e recebe diariamente pessoas das mais diversas idades e classes sociais.
Rua Duque de Caxias, 322, Centro
De segunda a sexta-feira, das 10h às 17h
Theatro Pedro II
Marca registrada do período em que Ribeirão Preto era conhecida como a ‘pequena Paris’, a arquitetura eclética deste prédio embeleza o Centro da cidade e enche de orgulho o peito do ribeirão-pretano. Meira Júnior, o rico empresário que mandou fazer esta obra localizada no Quarteirão Paulista, cogitou batizá-la de Pedro Álvares Cabral, Carmem Miranda, Lamartine Babo ou Ruy Barbosa. Mas foi com o nome do famoso imperador brasileiro que o mais icônico cartão-postal da cidade foi inaugurado, no dia 8 de outubro de 1930, com a exibição do filme Alvorada do Amor. Na década de 1990, ele foi todo restaurado e ganhou um toque contemporâneo, com o teto e o lustre central projetados pela artista Tomie Ohtake.
Rua Álvares Cabral, 370, Centro
Edifício Meira Junior
O edifício histórico de 1927, que hoje representa o passado, foi projetado para levar ares de modernidade ao Centro de Ribeirão Preto. No térreo, ficavam lojas e uma confeitaria aos moldes da Colombo, no Rio. Enquanto isso, os andares superiores acomodavam luxuosos escritórios. Parte do Quarteirão Paulista, este prédio teve sua construção encomendada pelo mesmo empresário que contratou a obra do Palace Hotel. A partir de 1979, a confeitaria cedeu espaço a uma choperia que tornou-se nacionalmente famosa, transformando o local em ponto de efervescência cultural e gastronômica.
Endereço: Rua General Osório, 389
Praça XV de Novembro
Árvores de tamanhos variados fazem sombra no chão de ladrilhos preto e branco por onde se espalham cerca de 170 bancos de madeira com pés de ferro fundido. Bem à moda da década de 1930, eles foram instalados em substituição aos bancos dos tempos da inauguração, em 1890. Os mais de 100 postes de luz em ferro fundido são da mesma época e estilo, assim como a fonte luminosa, o famoso relógio quadrado e o monumento do Soldado Constitucionalista. Palco de manifestações estudantis no período da Ditadura Militar, o que pouca gente sabe é que muito antes de se tornar uma das praças mais queridas de Ribeirão Preto, o espaço abrigou o primeiro cemitério da cidade.
Rua General Osório, s/n, Centro
Praça Carlos Gomes
Um pedestre desatento pode atravessar a praça mais central de Ribeirão Preto sem notar as joias que ela guarda. Sobretudo se não olhar para o chão, por onde se espalham mosaicos que retratam construções históricas da cidade: a primeira igreja (1870), a estação de trem Mogiana (1883) e a agência dos Correios (1927), entre tantos outros. Um patrimônio histórico contando a história de outros. Um chão de memórias construído para servir de morada ao primeiro teatro que a cidade teve, que foi construído no centro da praça no mesmo ano em que ela, em 1897, mas demolido na década de 1940.
Rua Duque de Caxias, Centro
Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP)
O piso de tábua corrida do sobrado do início do século passado acolheu os sapatos da elite ribeirão-pretana desde 1908, ano em que o prédio foi inaugurado como a primeira sede da Sociedade Recreativa de Ribeirão Preto. A partir de 1956, acompanhou os vaivéns de vereadores e cidadãos que frequentavam a Câmara Municipal, sediada ali até 1984. Da década de 1990 em diante, o sobrado em estilo eclético transformou-se em museu, passando a abrigar e exibir o acervo de artes plásticas do município, além de obras de arte modernas e contemporâneas nacional e internacional.
Rua Barão do Amazonas, 323, Centro
De terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h30
Palácio Rio Branco
No início do Século 20, o poder dos coronéis do café era tanto que, muitas vezes, tornavam-se vereadores sem eleição. Em grandes mesas do salão nobre deste Palácio, os milionários fazendeiros que detinham a maior produção cafeeira do mundo fechavam negócios e definiam os destinos da cidade. Batizado com o nome do barão que era o prefeito da época, este prédio foi sede da prefeitura de Ribeirão Preto desde que inaugurou, em abril de 1917, até setembro de 2022, quando o prefeito atual resolveu que já era hora do edifício, cuja fachada transita do barroco ao moderno, receber uma obra completa de reforma e restauração.
Praça Barão do Rio Branco, s/nº, Centro
Edifício Diederichsen
Arrojado para a época, ele foi o primeiro prédio vertical da cidade e um dos pioneiros no Brasil, com seus sete andares voltados para três importantes ruas do Centro: São Sebastião, Álvares Cabral e General Osório. Inaugurado em 1937, foi batizado com o sobrenome de seu idealizador. Sempre teve uso misto, com térreo projetado para abrigar um cinema e lojas; escritórios comerciais em alguns pavimentos; apartamentos residenciais em outros, além de um hotel funcionando no último andar e na cobertura. Hoje, a obra em estilo art déco está desocupada, com exceção das lojas instaladas no térreo.
Rua Álvares Cabral, 469, Centro
Mercado Municipal
Inaugurado no último ano do Século 19, na parte baixa do Centro, ele já sentiu o peso de severas enchentes e de um incêndio que, no auge da 2ª Guerra, em 1942, destruiu sua estrutura original. Mas, em 1958, um novo edifício em estilo moderno substituiu o anterior. Com as entradas em forma de arcos, paredes revestidas de pastilhas azuis e um mural do artista plástico Bassano Vaccarini, a fachada encanta o público tanto quanto a área externa, onde 150 pequenas lojas aguçam os sentidos dos visitantes com a diversidade de cores, texturas e aromas dos produtos comercializados ali.
Rua São Sebastião, 130, Centro
De segunda a sexta-feira, das 7h às 18h
Sábado, das 7h às 16h
Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto
No coração da cidade, um prédio de arquitetura neogótica é decorado com telas que contam a vida dos santos católicos. Retratando a vida de São Sebastião, seis delas foram pintadas por Benedito Calixto e chegaram a Ribeirão Preto pelo trem da Mogiana. Foram encomendadas pelo bispo Dom Alberto José Gonçalves, que patrocinou toda a construção do edifício, inaugurado em 1918, após 14 anos do início da obra. O local ainda tem pinturas de Nicolau Biagini e Joaquim Gonçalves Netto d’Athaide, além de um conjunto de vitrais que retratam outros santos. Rodeado por jardins, o prédio conta com uma escadaria de acesso na parte central e nas entradas laterais.
Praça das Bandeiras, s/n, Centro
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